|CAPA| (continuação)
Plinio Corrêa de Oliveira
Transcrito de Catolicismo, Nº 220-221, abril/maio de 1969
Catolicismo dá conhecimento a seus leitores de dois autênticos documentos-bomba sobre a presente crise na Santa Igreja. O primeiro deles, estampado no boletim católico Approaches, de Londres (nº 10-11, de janeiro de 1968) e intitulado “Dossiê a respeito do IDO-C” (Centro Internacional de Informação e Documentação sobre a Igreja Conciliar).1
O segundo veio a lume sob o título “Os pequenos grupos e a corrente profética”, no nº 1423, de 11 de janeiro de 1969, da revista Ecclesia, de Madri.2
O documento de Approaches dá notícia de um grupo algum tanto enigmático, o “International Catholic Establishment”, oficialmente independente de qualquer instituição religiosa ou estatal, e sob cuja orientação atua uma gigantesca máquina de propaganda — o IDO-C. Essa máquina é destinada a inocular nos meios católicos, mais ou menos veladamente, através da imprensa, do rádio, da televisão e de conferências em auditórios públicos, uma doutrina que é o oposto da Religião Católica. O documento faz ver que essa máquina forma um imenso polvo, cujos tentáculos se estendem largamente pela Europa e Estados Unidos, além de ramificar-se pela América do Sul e outras regiões da Terra. A ele está sujeito o grosso dos instrumentos de publicidade católicos da Europa e da América do Norte, e assim o seu poder dentro da Igreja parece — humanamente, é claro — incontrastável.
Tal fato cria para a Igreja uma situação muito semelhante à de um país em guerra, no qual a grande maioria das emissoras de televisão e rádio, e dos órgãos de imprensa, estivessem a soldo do adversário. E não de um adversário qualquer, mas, como verão os leitores, de um adversário com intuitos de destruição radicais e implacáveis, exímio no uso de meios de ação sumamente sutis e eficientes, e dotado de recursos materiais praticamente inesgotáveis.
O artigo publicado em Ecclesia reforça vigorosamente a trágica impressão de que, hoje em dia, a Igreja está como um país solapado pelo adversário. Ele nos põe ao corrente do esforço sistemático de um movimento que se generaliza cada vez mais nos meios católicos de numerosos países — o dos “grupos proféticos”.
Em sua estrutura semiclandestina e em seus métodos de iniciação, é muito semelhante a certos organismos de agitação maçônica dos séculos XVIII e XIX, como os carbonários, formado de miríades de pequenos grupos esparsos. A unidade desses organismos ressalta, logo à primeira vista, da ideologia, das metas e dos métodos de ação que todos têm em comum, bem como da notável colaboração que mutuamente se prestam esses corpúsculos sem direção central aparente. Constituem eles células vivas de ativistas que se incrustam nos mais variados organismos católicos — seminários, universidades, colégios, obras sociais etc. — e ali fazem a propaganda, mais ou menos velada, de um sistema ideológico que, como no caso do IDO-C, representa o contrário da Religião Católica. Pelo seu grande número, e também pelas sutilíssimas técnicas de iniciação de membros, pressão sobre a opinião pública e agitação que usam, os “grupos proféticos” são uma verdadeira potência. Formam dentro da Igreja uma imensa rede semi-secreta de propaganda anticatólica, feita sobretudo verbalmente de pessoa a pessoa.
Tendo diante dos olhos ambos esses documentos estarrecedores, é natural que o leitor se pergunte que pontos de semelhança e de contraste existem entre o IDO-C e os “grupos proféticos”. A isto respondemos:
Os pontos de semelhança são antes de tudo doutrinários. O que o artigo de Approaches diz das doutrinas propagadas pelo IDO-C constitui como que genuínos fragmentos da doutrina que Ecclesia mostra ser a dos “grupos proféticos”.
Tanto o IDO-C quanto os “grupos proféticos” têm em comum também sua atitude concreta em face da Igreja:
a) destruição por meio de infiltração semiclandestina;
b) aproveitamento de pessoas eclesiásticas, de católicos militantes, de obras e instituições católicas para a efetivação dessa obra demolidora.
Tanto nos “grupos proféticos” quanto no IDO-C se tem, perante o comunismo, a mesma atitude simpática — é o menos que se possa dizer — retribuída aliás em arraiais marxistas. Este fato deixa claro que os comunistas consideram a atuação do IDO-C e dos “grupos proféticos” útil à vitória de sua própria causa. Dado o imenso poder de uma e outra organização, essa utilidade é, naturalmente, da maior monta para o comunismo.
Quanto aos instrumentos de ação, o IDO-C e os “grupos proféticos” são profundamente diversos. E
Fac-símile das páginas 4 e 5 do Catolicismo de julho de 1969.