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VIDAS DE SANTOS

Santo Olegário

Bispo de Barcelona, Arcebispo de Tarragona e glória da Espanha medieval, foi continuador do movimento de reforma da Igreja iniciado por São Gregório VII.

Plinio Maria Solimeo

Afirma o hagiógrafo Pe. Pedro de Ribadeneyra: “Um dos brasões de que Barcelona mais se orgulha, e com que muito se enobrece, é o de ser a pátria de Santo Olegário, seu digníssimo prelado, cuja prodigiosa vida é transcrita de papéis autênticos que se conservam nos arquivos reais de Barcelona, bem como de outras histórias antigas e verdadeiras da Catalunha”.1

Segundo a Arquidiocese de Madri, Santo Olegário “foi quem, com os grandes papas e reformadores como Gregório VII e Calixto II, e os abades de Cluny, impulsionou uma reforma na Igreja, começando por suas dioceses de Barcelona e Tarragona”,2 o que foi primordial para que a Idade Média chegasse ao seu auge nos séculos seguintes.

Pais ilustres pela nobreza e piedade

Olegário nasceu no ano 1060. Seu pai era secretário do Conde de Barcelona, Ramón (ou Raimundo) Berenguer I, e sua mãe descendia da nobreza goda. O conde Ramón teve várias vitórias sobre os mouros, estendendo muito seus domínios e impondo pesados tributos às cidades mouriscas. “Os historiadores afirmam que esses tributos ajudaram a criar a primeira onda de prosperidade da história da Catalunha. Durante seu governo, o poder marítimo catalão começou a ser sentido no Mediterrâneo ocidental. Outra grande realização sua foi iniciar a codificação da lei catalã nos usatges, escritos de Barcelona que se tornariam a primeira compilação completa da lei feudal na Europa Ocidental”.3

Ramón de Berenguer tinha três filhos, e desejou que eles fossem criados e educados na companhia do pequeno Olegário. Encantado com suas qualidades e disposições, seus pais o mandaram aos dez anos continuar seus estudos com os cônegos da catedral barcelonesa. Sete anos depois, foi admitido como um deles, e em seguida nomeado deão ou mestre do cabido daquela Sé. Por humildade, relutou muito em receber a ordenação sacerdotal, o que se deu somente quando atingiu os 35 anos de idade.

Por essa época, o bispo de Barcelona fundou o convento de Santo Adriano, destinado aos cônegos regulares de Santo Agostinho. Desejando uma vida mais retirada e mais perfeita, Olegário nele ingressou. Em 1096 foi eleito prior da comunidade, cargo que exerceria durante 12 anos.

O Papa então o enviou como visitador e reformador ao convento de São Rufo, na Provença, do qual se tornou abade no ano 1100.

Nos anos de 1114-1115, um novo Conde de Barcelona, Ramón Berenguer III, comandando uma tropa de catalães e pisanos, tomou a cidade de Mallorca, que estava em poder dos mouros. Para alegria de Santo Olegário, o conde libertou então “uma inumerável multidão de cativos cristãos, que lá padeciam grandíssimos trabalhos e perigos”, resultando enorme alegria para toda a Catalunha.4 Entretanto, Berenguer teve de se retirar depois da vitória, por problemas em suas próprias terras. A reconquista definitiva dar-se-ia bem mais tarde.

Bispo da Santa Igreja em Barcelona

Em 1116 ocorreu o falecimento do então Bispo de Barcelona, D. Raimundo, que exercera o cargo de legado apostólico do Papa Pascoal II na expedição da Cruzada contra os mouros, empreendida pelo Conde Berenguer nas ilhas de Mallorca, Minorca e Ibiza. Por unanimidade, Olegário foi escolhido como seu sucessor.

Ocorreu então uma cena comum na Idade Média: o indicado, julgando-se indigno do cargo, fugiu durante a noite em direção à sua abadia de São Rufo, na França. Ao se darem conta do sucedido, o clero e o povo foram ao seu encalço. Encontrando-o perto de Perpignan, obrigaram-no a voltar a Barcelona e aceitar o cargo.

No ano seguinte, o Conde de Barcelona conquistou aos árabes a cidade portuária de Tarragona, próxima da capital. O Papa, de comum acordo com o conde, confiou a Santo Olegário a missão de repovoar e restaurar essa metrópole, unindo-a provisoriamente ao bispado barcelonês.

“A Igreja de Tarragona é indubitavelmente uma das mais antigas da Espanha, sendo tradição que São Tiago e São Paulo lá estiveram. A visita do Apóstolo dos Gentios a Tarragona de nenhum modo está longe das possibilidades, supondo-se que ele tenha vindo de Roma à Espanha, como havia prometido na Epístola aos Romanos, e como São Jerônimo afirma que fez”. 5

Santo Olegário foi depois a Roma a fim de obter do Papa Gelásio II a confirmação de sua posse naquela diocese. O Pontífice o recebeu com demonstrações do maior apreço e deu-lhe o pálio, insígnia dos metropolitas.

Em Tarragona, o Santo restabeleceu a destruída igreja, dotou-a de um cabido e dispôs o necessário para a defesa dos cidadãos contra novos ataques dos muçul-

Restos mortais do Conde Ramón de Berenguer I, na catedral de Barcelona.

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