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| VIDAS DE SANTOS | (continuação)

manos. Depois, em 1119, participou dos concílios de Toulouse e de Reims como bispo da Santa Igreja.

Legado papal na cruzada da Espanha

Em 1122, o Papa Calixto II convocou o primeiro Concílio de Latrão, imediatamente após a Concordata de Worms, que pusera fim à Querela das Investiduras. Nele tratou-se da reconquista dos Lugares Santos, e dele participou Santo Olegário. Por seu intermédio, o Conde de Barcelona ponderou ao Papa que a cruzada na Espanha contra os mouros era tão importante quanto a que se fazia na Terra Santa, porque também ali padeciam os cristãos. O Pontífice concordou com o conde, e também designou Santo Olegário como seu legado para toda a península, devendo favorecer especialmente as expedições contra Tortosa, Lérida e muitas outras terras ainda ocupadas pelos mouros. Ele acompanhou o conde na campanha, que terminou com a imposição de um tributo às duas primeiras cidades.

Em defesa do Papa verdadeiro

No início do ano de 1130, com a morte do Papa Honório II, irrompeu um cisma na Igreja com dois papas: o verdadeiro, Inocêncio II, e o antipapa Anacleto II. Inocêncio foi então à França, via Pisa e Gênova, assegurando no caminho apoio à sua causa. Obteve o apoio de Luís VI e de quase todos os bispos franceses, e em novembro desse ano foi a Clermont, sendo recebido por fiéis e bispos entre os quais estava Santo Olegário. Juntamente com São Bernardo de Claraval e São Norberto, foi ele um dos baluartes na defesa de Inocêncio II, mas o cisma só terminaria em 1138, pela intervenção direta de São Bernardo.

Como árbitro inconteste da Espanha, Santo Olegário foi em seguida a Saragoça promover a paz entre D. Alonso, Rei de Castela, e D. Ramiro, Rei de Aragão. Em 1131, Ramón Berenguer III o nomeou seu primeiro testamentário, cargo no qual ele o assistiu na última agonia nesse mesmo ano. Fez também uma viagem a Jerusalém, e na volta estabeleceu a Ordem dos Templários na Espanha.

Conhece o dia de sua morte

“Deus lhe fez a mercê de revelar-lhe o dia em que haveria de morrer, como ele mesmo tinha suplicado, a fim de se dispor melhor para aquele dia tão desejado dos santos. Com efeito, no sínodo que celebrou no mês de novembro, disse que aquele seria o último a que assistiria. E nos três dias seguintes pregou de modo muito particular aos eclesiásticos presentes, com grande ternura de coração, palavras muito amorosas e derramamento de lágrimas. Transpassava o coração dos ouvintes, os quais também derramavam lágrimas, não cessando o santo de exortá-los a exercer com amor seu ofício pastoral para com as almas que lhes tinham sido encomendadas”. 6

Antes do término do sínodo, já avançado em anos, Santo Olegário foi acometido pela enfermidade que o levaria à morte. “Como o santo havia ordenado, em todas as igrejas de Barcelona se faziam orações por ele. Olegário pedia a Deus, pela intercessão de Maria Santíssima e dos santos (cuja ladainha trazia na memória), que lhe ajudassem na hora da morte, e que o Senhor usasse de misericórdia para com ele, fazendo-o partícipe de sua santa glória. Recebeu os Sacramentos com exemplar devoção, e com as mãos juntas diante de um crucifixo, orava e falava com Deus, com a Virgem e com os santos, ora em voz alta, ora em voz baixa, ora só consigo mesmo, e meditava com devoção os passos da Paixão do Senhor, sobre a qual lhe falavam. Depois de haver dito em voz alta In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum, fechou os olhos e entregou sua alma ao Criador”, no dia 6 de março de 1136, aos 76 anos de idade. Seu corpo permaneceu incorrupto durante mais de seis séculos.

Conclui a mesma crônica: “Todos choravam sua morte e sua ausência, muito particularmente o Conde Dom Ramón Berenguer IV. Mas se consolavam com a confiança de que, quem tanto os amara em vida, amá-los-ia e protegeria ainda mais do Céu. Não houve pessoa em Barcelona que não chegasse a beijar-lhe as mãos e os pés, honrando-o como santo. Enterraram-no com muita pompa e solenidade no claustro da Catedral, com a assistência do conde, de todo o clero e do povo. Ajoelhando-se junto a seu sepulcro, cada qual pedia a Deus o que mais desejava, através de sua intercessão”.7

Acrescenta Ribadeneyra: “Muitos mortos foram ressuscitados, infindas pessoas recobraram a saúde, deu vista aos cegos, livrou de naufrágios, e Deus fez por sua intercessão soberanas maravilhas em seus devotos. Foi canonizado no uso antigo da Igreja, que era a veneração dos fiéis com a permissão dos sumos pontífices”.8 Essa canonização foi confirmada pelo Papa Inocêncio XI em 1675.9

Notas:

1. Pedro de Ribadeneyra, Flos Sanctorum, in La Leyenda de Oro, L. González y Compañia Editores, Barcelona, 1896, tomo I, p. 518.

2. http://www.catedralbcn.org/index.php?option=com_content&view=article&id=33&Itemid=86&lang=es

3. https://en.wikipedia.org/wiki/Ramon_Berenguer_I,_Count_of_Barcelona

4. http://www.elalmanaque.com/santoral/marzo/6-3-olegario.htm

5. http://www.newadvent.org/cathen/14459a.htm

6. http://oreneta.com/libro-verde/1136/03/06/407/

7. http://oreneta.com/libro-verde/1136/03/06/407/

8. Ribadeneira, op. cit. p. 522.

9. Outras obras consultadas: Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I.; https://es.wikipedia.org/wiki/Olegario

Santo Olegário cura um menino – Antoni Viladomat, 1678-1755. Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona.

Sepultura de Santo Olegário na catedral de Barcelona.

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