| DESTAQUE | (continuação)
Se as outras religiões correspondessem igualmente à vontade de Deus, não haveria condenação divina ao culto do bezerro de ouro no tempo de Moisés.
Existe apenas um caminho para Deus, e este é Jesus Cristo, porque Ele mesmo disse: “Eu sou o caminho” (João 14, 6). Há apenas uma verdade, e esta é Jesus Cristo, porque Ele mesmo disse: “Eu sou a verdade” (João 14, 6). Há apenas uma vida verdadeiramente sobrenatural, e esta é Jesus Cristo, porque Ele mesmo disse: “Eu sou a vida” (João 14, 6).
O Filho de Deus Encarnado ensinou que fora da fé n’Ele não pode haver uma verdadeira religião que agrade a Deus: “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo” (João 10, 9). Mandou todos os homens, sem exceção, ouvir o seu Filho: “Este é o meu amado filho: escutai-o!” (Marcos 9, 7). Portanto, o que Deus disse não foi: “Podeis ouvir meu Filho ou outros fundadores de religiões, pois é minha vontade que haja diferentes religiões”.
Deus proibiu reconhecer a legitimidade da religião de outros deuses: “Não terás outro deus diante de mim” (Êxodo 20, 3). “Que comunhão pode haver entre a luz e as trevas? Que acordo entre Cristo e Belial? Que colaboração entre crente e não crente? Que acordo entre o templo de Deus e os ídolos?” (2 Cor. 6, 14-16).
Se as outras religiões correspondessem igualmente à vontade de Deus, não haveria condenação divina ao culto do bezerro de ouro no tempo de Moisés (ver Êxodo 32, 4-20). Se assim fosse, os cristãos de hoje poderiam praticar impunemente a religião de um novo bezerro de ouro, já que todas as religiões, de acordo com essa teoria, seriam igualmente agradáveis a Deus.
Deus deu aos apóstolos — e através deles à Igreja, para todos os tempos — a solene ordem de ensinar a todas as nações e seguidores de todas as religiões a única fé verdadeira, ensinando-os a observar todos os seus mandamentos divinos e batizá-los (Mateus 28, 19-20). Desde o início da pregação dos apóstolos e do primeiro Papa (São Pedro), a Igreja proclamou que a salvação não tem outro nome. Ou seja, não há sob o céu outra fé, outro nome pelo qual os homens podem ser salvos (cf. Atos 4, 12).
Nas palavras de Santo Agostinho, a Igreja ensinou em todos os momentos: “Somente a religião cristã indica o caminho aberto a todos para a salvação da alma. Sem ela nenhuma alma se salvará. Esta é a via régia, pois somente ela conduz, não a um reinado vacilante para a altura terrena, mas a um reino duradouro na eternidade estável” (De Civitate Dei, 10, 32, 1).
As seguintes palavras do Papa Leão XIII testemunham o mesmo ensinamento imutável do Magistério em todos os momentos: “O grande erro moderno do indiferentismo religioso e da igualdade de todos os cultos é o caminho oportuníssimo para aniquilar todas as religiões, e em particular a Igreja Católica. Sendo a única verdadeira, ela não pode, sem enorme injustiça, ser colocada em pé de igualdade com as demais” (Encíclica Humanum Genus, nº 16).
Nos últimos tempos, o Magistério apresentou substancialmente o mesmo ensinamento imutável no documento Dominus Jesus (6 de agosto de 2000), do qual transcrevemos algumas declarações relevantes:
“Amiúde se identifica a fé teológica, que é a recepção da verdade revelada por Deus uno e trino, e a crença em outras religiões, que é uma experiência religiosa ainda em busca da verdade absoluta e ainda privada do acesso a Deus que se revela. Esta é uma das razões pelas quais se tende a reduzir, às vezes até cancelar, as diferenças entre o cristianismo e outras religiões” (nº 7).
“Seriam contrárias à fé cristã e católica essas propostas de solução que contemplam uma ação salvífica de Deus fora da única mediação de Cristo” (nº 14).
“Não raro se propõe evitar na teologia termos como ‘unidade’, ‘universalidade’, ‘absoluto’, cujo uso daria a impressão de uma ênfase excessiva no significado e valor do evento salvífico de Jesus Cristo em relação a outras religiões. Na realidade, esta linguagem expressa simplesmente a fidelidade ao dado revelado” (nº 15).
“Seria contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação junto com aqueles constituídos por outras religiões, que seriam complementares à Igreja, de fato substancialmente equivalentes a ela, embora convergindo com isso para o Reino escatológico de Deus” (nº 21).
“A verdade da fé exclui radicalmente essa mentalidade de indiferença”, marcada por um relativismo religioso que leva à crença de que “uma religião é a mesma que a outra” (João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio, 36) (nº 22).
Os apóstolos e os incontáveis mártires cristãos de todos os tempos, especialmente os dos três primeiros séculos, teriam evitado o martírio se tivessem dito: “A religião pagã e seu culto é algo que também corresponde à vontade de Deus”. Não teria havido, por exemplo, uma França cristã (“a primogênita da Igreja”), se São Remígio tivesse dito a Clóvis, rei dos francos: “Não deves abandonar tua religião pagã; podes praticar a religião de Cristo com tua religião pagã”. De fato, o santo bispo falou de maneira diferente, embora de forma bastante rigorosa: “Adora o que queimaste e queima o que adoraste!”.
A verdadeira fraternidade universal só pode existir em Cristo, isto é, entre os batizados. A plena glória da filiação divina só será alcançada na visão bem-aventurada de Deus no céu, como ensina a Sagrada Escritura: “Veja que grande amor o Pai nos deu para sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos de fato! É por isso que o mundo não nos conhece: porque não O conhece. Queridos, somos filhos de Deus a partir de agora, mas ainda não foi revelado o que vamos ser. Sabemos, no entanto, que quando se manifestar, seremos como Ele, porque O veremos como Ele é” (1 João 3, 1-2).
Nenhuma autoridade na Terra — nem mesmo a autoridade suprema da Igreja — tem o direito de conceder a qualquer seguidor de outra religião a isenção da fé explícita em Jesus Cristo, isto é, no Filho encarnado de Deus, único Redentor dos homens; e também não tem o direito de assegurar-lhes que as diferentes religiões são desejadas pelo próprio Deus. Ao contrário, permanecem indeléveis as palavras do Filho de Deus, porque estão escritas com o dedo de Deus e são cristalinas em seu sentido: “Quem acredita no Filho de Deus não é condenado, mas quem não crê já foi condenado, porque não creu no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3:18).
Algumas pessoas na Igreja de nosso tempo — tão instáveis, covardes, sensacionalistas e conformistas — reinterpretam essa verdade num sentido contrário ao teor das palavras, colocam esta reinterpretação como continuidade no desenvolvimento da doutrina. Mas esta verdade foi válida até agora em todas as gerações cristãs, e assim permanecerá até o fim dos tempos. Fora da fé cristã, nenhuma outra religião pode ser um verdadeiro caminho e amada por Deus, porque esta é a vontade explícita de Deus: “Esta é realmente a vontade de meu Pai: todo aquele que conhece o Filho e crê n’Ele tenha vida eterna” (João 6, 40).
Fora da fé cristã, nenhuma outra religião é capaz de transmitir a verdadeira vida sobrenatural, de acordo com a oração que o próprio Cristo dirigiu ao Pai: “A vida eterna consiste em que conheçam a Ti, único e verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo como aquele que enviaste” (João 17, 3).
O Bezerro de Ouro – Escola alemã, perto de 1600. Coleção Particular.