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PALAVRA DO SACERDOTE

Padre David Francisquini

Pergunta — Li nos jornais que o Papa Francisco assinou em Abu Dhabi uma declaração comum com o Grande Imã da universidade AlAzhar, do Egito, onde afirma que “o pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos”. Conversando com um colega de faculdade, que também ficara surpreso, ele me disse ter lido na Internet que essa afirmação podia ter um sentido correto, se interpretada em referência a uma vontade de Deus — não positiva, mas apenas permissiva — uma vez que Ele colocou no coração do homem o desejo de conhecê-lo, do qual derivaria a multiplicidade de religiões. Como a explicação tem aparência de verdade, mas não me deixou muito convencido, pergunto o que se deve pensar dela, assim como da declaração assinada pelo Papa.

Resposta — Várias pessoas me manifestaram a mesma perplexidade pelo conteúdo da declaração transcrita pelo consulente. Respondendo a esta pergunta, poderei esclarecer outros leitores de Catolicismo que tenham ficado igualmente confundidos. Entendida em seu sentido literal e natural, é absolutamente inaceitável por um católico essa passagem da declaração firmada pelo Papa Francisco, em comum com o líder maometano de Al-Azhar. Ela contradiz não somente a verdade revelada da unicidade e universalidade salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja Católica, mas também a simples razão natural.

Com efeito, as dezenas de milhares de religiões existentes no mundo são todas contraditórias umas com as outras. Muitas dessas, cuja origem é comum, resultaram precisamente de divergências entre os seus seguidores. Quanto à própria Pessoa de Deus, as oposições entre as várias religiões são abissais: algumas dizem que Deus é um Ser pessoal e transcendente, outras afirmam que Ele seria apenas uma energia imanente; sustentam umas que existe um só Deus, e para outras haveria uma pluralidade de deuses; afirmam muitas que em Deus há unidade de substância e trindade de Pessoas, outras consideram isso politeísmo e idolatria.

Deus não é relativista, mas a Verdade eterna

Dessa diversidade de crenças a respeito do próprio Deus nascem numerosas práticas e proibições, também contraditórias umas com as outras: para alguns, venerar imagens é piedoso e salutar, enquanto para outros isso é idolatria; para alguns o vinho é bom e até santo (pois é consagrado na missa), para outros é pecado tomar álcool; para alguns o matrimônio pode ser estabelecido apenas entre um só homem e uma só mulher, para outros é lícita a poligamia; para alguns o casamento é indissolúvel, para outros o divórcio é lícito. As páginas desta revista seriam insuficientes para enumerar todas as divergências que se encontram nas principais religiões. Sendo absolutamente contraditórias entre si, elas não podem ser todas verdadeiras. Ora, se Deus é infinitamente sábio — o que se deduz facilmente, vendo a perfeição e harmonia de toda a Criação — é contrário à razão imaginar que Ele tenha criado ou favorecido essas contradições entre as religiões. Se o fizesse, Deus seria ilógico ou esquizofrênico, no entanto Ele é a Verdade eterna; ou seria completamente relativista, não se tomando a sério a Si mesmo, mas isto é absolutamente oposto à sua santidade.

Só uma religião pode ser verdadeira

Do ponto de vista da Revelação, é igualmente inaceitável a ideia de uma pluralidade de religiões, supostamente desejada por Deus. Para prová-lo, basta reproduzir as seguintes palavras do Papa Pio XI, ao condenar o indiferentismo religioso, contrário à verdadeira promoção da unidade de religião:

“Só uma religião pode ser verdadeira — a que foi revelada por Deus. Fomos criados por Deus, Criador de todas as coisas, para este fim: conhecê-Lo e servi-Lo. O nosso Criador possui, portanto, pleno direito de ser servido. [...] No decurso dos tempos, desde os primórdios do gênero humano até a vinda e a pregação de Jesus Cristo, Ele próprio ensinou ao homem, naturalmente dotado de razão, os deveres que dele seriam exigidos para com o Criador: ‘Em muitos lugares e de muitos modos, antigamente, falou Deus aos nossos pais pelos profetas; ultimamente, nestes dias, falou-nos por seu Filho’ (Heb 1, 1).

“Está claro, portanto, que a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se funda na palavra revelada de Deus; começando a ser feita desde o princípio, essa revelação prosseguiu sob a Lei Antiga, e o próprio Cristo completou-a sob a Nova Lei.

“Portanto, se Deus falou — e pela fé histórica comprova-se ter Ele realmente falado — não há quem não veja ser dever do homem acreditar, de modo absoluto, em Deus que se revela, e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de Deus e para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra o Filho Unigênito de Deus instituiu na Terra a sua Igreja” (Encíclica Mortalium animos, n° 7).

Que compatibilidade pode haver entre Cristo e Belial?

Foi em nome dessas verdades de fé que o Papa Pio XI, nesse mesmo documento, proibiu a participação de católicos em reuniões onde fossem admitidos “promiscuamente, todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que, obstinada e pertinazmente, contradizem a sua natureza divina e a sua missão”. O mencionado Papa diz que tais assembleias são reprováveis, pois “se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que todas as religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois manifestam e significam, embora de maneira diferente, aquele sentido inato e natural pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império (idem, n° 3). Precisamente essa é a falsa opinião subscrita pelo Papa Francisco no documento de Abu Dhabi, subentendida na frase “o pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio

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Entendida em seu sentido literal e natural, é absolutamente inaceitável por um católico uma passagem da declaração firmada pelo Papa Francisco, em comum com o líder maometano de Al-Azhar.

São Paulo pergunta na Segunda Epístola aos Coríntios: “Que compatibilidade pode haver entre Cristo e Belial?”