Padre David Francisquini
Resposta — A pergunta de nosso leitor refere-se às celebrações ordinárias nas paróquias, segundo o novo rito da missa promulgado pelo Papa Paulo VI. Sou testemunha de que é verdadeiro o que ele relata, pois, certa vez, passando em frente à igreja onde fiz minha primeira comunhão, ouvi um forte barulho instrumental e entrei para ver do que se tratava: era cortejo de entrada para uma missa; e os assistentes, com os braços erguidos, requebravam-se ao som estrepitoso da música. Não havia nenhum recolhimento para preparar-se a fim de participar daquilo que a Igreja tem de mais sagrado: o Santo Sacrifício de Missa.
Esse episódio e a consulta do leitor tiveram como consequência reavivar a firme resolução que tomei, no dia de minha ordenação sacerdotal, de jamais celebrar nesse novo rito, porque ele "representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento". Este texto é transcrito de carta dos cardeais Alfredo Ottaviani e Antonio Bacci ao Sumo Pontífice, datada na festa de Corpus Christi de 1969 — 50 anos atrás.
Nas linhas que seguem tentarei mostrar, pela comparação do ato penitencial no rito tradicional e no rito novo, como eles correspondem, de fato, a dois universos teológicos inteiramente diferentes. Para não complicar demais a comparação, vou fazê-la tomando os ritos apenas na sua versão comum (aquela da qual a imensa maioria dos fiéis participa regularmente), e não na celebração solene da Santa Missa.
No rito tradicional, o sacerdote avança processionalmente rumo ao altar, precedido dos coroinhas. Feita a genuflexão diante do Santíssimo Sacramento, realmente presente no tabernáculo (que normalmente se encontra no meio do altar, e não num canto), começam as chamadas "orações ao pé do altar". Depois de persignar-se, ele alterna com os coroinhas a antífona: "Subirei ao altar de Deus / Do Deus que alegra minha juventude". Esta antífona já fornece toda a impostação da celebração, pois o sacerdote sobe ao altar para realizar um sacrifício: a renovação incruenta do Sacrifício de Jesus no Calvário. É no altar que ele cumpre a sua missão essencial, porque foi ordenado acima de tudo para celebrar o sacrifício da Missa. E deve subir ao altar, pois desde os mais remotos tempos da história da humanidade os sacrifícios eram oferecidos a Deus em lugares elevados. Ele o faz na alegria da sua juventude, porque quem foi batizado é um filho de Deus, alegre por fazer parte de sua família, assim como da infância espiritual que a graça divina renova na sua alma, fazendo dele quotidianamente um "homem novo".
Logo depois ele recita, sempre alternando com os coroinhas, o salmo Judica me Deus (n° 43) e profere o Confiteor, golpeando três vezes o peito e dizendo: "Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa". De fato, o único sacerdote que não tinha necessidade de humilhar-se foi Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote. Todos os demais sacerdotes são pecadores, por isso o celebrante reza o Confiteor publicamente, sozinho e antes dos fiéis. As faltas de quem é um "outro Cristo" — e que, na Missa, deverá agir in persona Christi (assumindo a pessoa do próprio Cristo) — são necessariamente mais graves do que as faltas dos assistentes, e não podem ser postas no mesmo plano.
Depois são os fiéis que, ajoelhados, recitam o Confiteor, porque embora o pecado seja um ato pessoal, tem sempre consequências para toda a Igreja, que é um Corpo Místico — o pecado é o inverso da comunhão dos santos. Se toda a Igreja é vítima, Ela deve ser testemunha da confissão.
A Didaché — obra literária contemporânea dos Apóstolos, que contém as primeiras instruções conhecidas para a celebração do Batismo e da Santa Missa — insiste nessa necessidade de purificação: "Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro" (cap. XIV).
Após cada uma das duas confissões seguem-se os respectivos pedidos de perdão: "Que Deus onipotente se compadeça de ti (de vós), perdoe os teus (vossos) pecados e te (vos) conduza à vida eterna. Amém". O Indulgentiam proferido unicamente pelo sacerdote é a resposta a esses pedidos: "Que o Senhor onipotente e misericordioso nos conceda indulgência + absolvição, + e a remissão + dos nossos pecados. R/. Amém". É um sacramental que perdoa imediatamente os pecados veniais; e, quanto aos mortais, predispõe a receber o perdão divino após a devida confissão individual.
Seguem-se quatro versículos, acrescidos a partir do século XII, em que o sacerdote e os coroinhas pedem alternadamente a Deus que se volte misericordiosamente para seu povo e lhe conceda a salvação. Terminam com o primeiro dos oito Dominus vobiscum (o Senhor esteja convosco) que serão recitados durante a Missa, e com os quais o celebrante deseja aos participantes a união com Deus, que é o fim da existência humana e a fonte da verdadeira felicidade.
Ao subir os degraus do altar, o sacerdote recita mais uma oração penitencial: "Lavai-nos, Senhor, de todas as nossas iniquidades, a fim de merecermos penetrar de coração puro no Santo dos Santos". Como é sabido, o templo de Jerusalém compunha-se de quatro pátios: o dos gentios, o das mulheres, o dos homens e o dos sacerdotes, e no centro deste último se achava o altar dos holocaustos, próximo do santuário onde se encontrava o "Santo" com o altar do incenso feito de ouro, a mesa dos "pães da preposição" e o candelabro de sete braços. Por fim, atrás de um véu (que se rasgou na Morte do Salvador), encontrava-se o "Santo dos Santos", mencionado na oração, e que continha a Arca da Aliança. Lugar tão sagrado, que nele somente o Sumo Sacerdote penetrava, apenas uma vez por ano, na festa da expiação (Yom Kippur).
Para entrar no verdadeiro "Santo dos Santos" — que é o altar católico
É no altar que o sacerdote cumpre a sua missão essencial, porque foi ordenado acima de tudo para celebrar o sacrifício da Missa.