INTERNACIONAL

A China made in USA

A respeito do desenvolvimento da China comunista: uma análise, uma previsão, uma confirmação.

Marcos Machado

A recente viagem do general Hamilton Mourão à China foi precedida pela ampla divulgação do conceito — à maneira de um slogan talismânico — de que "a China é o nosso maior parceiro comercial". Vão na mesma linha as declarações do presidente chinês Xi Jinping: "Os dois lados devem continuar discutindo com firmeza as oportunidades e os parceiros um do outro para o seu próprio desenvolvimento, respeitando-se, confiando um no outro, apoiando-se mutuamente e construindo as relações China-Brasil como modelo de solidariedade e cooperação entre os países em desenvolvimento".1 Tais afirmações dão ensejo a que se esclareça um aspecto do problema, sobre o qual as novas gerações geralmente não estão informadas.

A mídia gosta de apresentar a China como segunda potência mundial, dando a entender que sua industrialização e seu crescimento têm como causa, propulsão e continuidade a aplicação dos princípios comunistas. Nada mais falso e contrário à realidade histórica, pois os verdadeiros motores da industrialização chinesa foram o capitalismo ocidental e a aproximação com o Japão (em 1972).

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Vamos aos fatos. Em 1972, o presidente americano Nixon — que se elegeu em nome do anticomunismo yankee — empreendeu a chamada détente, que numa abordagem rápida poderia se traduzir por abertura aos países comunistas, sobretudo Rússia e China. Assim, Nixon empreendeu "sensacionais" viagens à Rússia e à China, trombeteadas e aplaudidas pela mídia.

Em 1972, assim se exprimia o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em artigo na "Folha de S. Paulo" (1º-10-1972): "Não poderia a China aspirar ao controle da Ásia? Extensão territorial, população superabundante, apetite de conquista não lhe faltam. Mas ser-lhe-á necessário ainda, para tão grande cometimento, um potencial industrial e bélico considerável. E o regime comunista não lhe deu nem uma nem outra coisa. A China comunista só poderá desenvolver-se e alçar-se à condição de superpotência imperialista com o concurso de uma nação capitalista de grande importância".

Os fatos superaram essas previsões, pois além dos EUA e do Japão, várias outras nações montaram fábricas na China, inclusive o Brasil.

Prosseguem os comentários do Prof. Plinio:

"Ora, a única possibilidade de a China receber tal apoio de uma nação capitalista consistiria numa completa reformulação de suas relações com o Japão [Lembramos que o comentário é de 1972, quando o Japão tinha um gabinete conservador e anticomunista]. Segundo a ordem natural das coisas, nada seria mais impraticável. As violentas rivalidades entre os dois povos amarelos, agravadas pela implantação do comunismo na China, tornaram intransponível a distância política entre os dois países. Pois o Japão se manifestou sempre cioso de evitar o contágio da lepra vermelha.

"Mas Nixon — deliberado a desmantelar inexoravelmente o sistema anticomunista do Extremo Oriente — ainda desta vez favoreceu o jogo chinês. Em entendimentos diretos com Tóquio, fez saber que o Japão não perderia o apoio dos EUA no plano comercial, se se aproximasse resolutamente da China.

"E, como era natural, no Japão o derrapamento para a esquerda começou. Como todos sabem, o gabinete conservador foi substituído por outro, de matiz esquerdista. O novo governo tratou, desde logo, de aproximar-se da China. E daí resultou a visita do premier nipônico Tanaka a Pequim.

"Tanaka, por sua vez, não cessa de manifestar sua humildade ante os anfitriões chineses. Em sua visita a Mao Tsé-Tung, reconheceu a 'culpa' do Japão pela agressão à China, elogiou rasgadamente Chou En-lai,

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O presidente Nixon, no café da manhã em Pequim, na companhia de Chou En-lai, em 1972.