| Empreendedorismo indígena no Mato Grosso | (continuação)
do cerrado, dos pampas, do pantanal, de qualquer outro ecossistema onde habitem os indígenas neste País; e produzindo, precisamos dar sentido à nossa existência dentro da comunhão nacional, afinal não queremos ser um peso morto para o governo brasileiro.
"Não queremos viver de esmolas, como se isso fosse pagar tudo o que já aconteceu de ruim à nossa gente, e que ainda nos impõe uma vida de carências, dificuldades e discriminação. Queremos olhar para a frente e construir um futuro onde nossa gente não precise de ninguém nos dizendo o que fazer e como devemos ser. Nós sabemos o que queremos e o que somos, mas infelizmente, devido aos diferentes graus de entendimento e envolvimento de muitos povos indígenas com a sociedade nacional, o Governo nos coloca todos no mesmo patamar e nos dispensa um tratamento ultrapassado, equivocado, e que somente impõe mais e mais prejuízos a indígenas e não indígenas.
"Os Parecis, após anos de descaso, discriminação e fome, resolveram tomar as rédeas de suas vidas e foram buscar soluções para os seus problemas. Esse povo chegou a comer insetos (gafanhotos) para aplacar a fome, hoje é o único povo indígena brasileiro autossuficiente, que não precisa viver à custa do Governo nem da caridade de ninguém. Plantam soja, e com os ótimos resultados alcançados diversificaram várias atividades em suas terras, como por exemplo a criação de peixes, de gado bovino de corte e de leite, de frangos, produção de milho, feijão e arroz.
"Como bem disse o líder Arnaldo Zunizakae, numa audiência acontecida em setembro de 2017 na Câmara dos Deputados, em Brasília, 'saúde não se faz com remédios, mas sim com alimentação'. E com toda a produção efetivada pelos Parecis, a cultura se fortaleceu e a proteção da terra indígena idem, contrariando o discurso alarmista de antropólogos e ambientalistas das ONGs e do Ministério Público Federal.
"Precisamos aprovar as parcerias, pois praticamente todos os povos indígenas carecem de recursos e de capacitação para produzir; e as parcerias, ao contrário dos arrendamentos, transferem tecnologia e aprendizado a todos. Somos contra o arrendamento. As terras indígenas podem e devem fazer parte da riqueza do Brasil, não apenas como lugar de preservação ambiental ou cultural, como os ambientalistas e teóricos gostam de falar, mas acima de tudo como lugar de gente feliz, de bem, que apenas quer viver em igualdade de condições como qualquer outro brasileiro."
Aí está a comprovação de que os tempos mudaram. Os índios querem ser ouvidos, e boa parte já acordou para o empreendedorismo, que tem sido uma experiência a resgatar a dignidade dos brasileiros indígenas. Para isso eles devem ser ajudados a ascender, na prática, à condição de cidadania vigente no sistema jurídico legal do País, deixando de ser objeto da tutela do Estado e passando à condição de cidadãos brasileiros no pleno gozo de seus direitos constitucionais.
Nossa série de entrevistas com os Parecis prossegue, e mostra como a questão indígena vem mudando radicalmente. No mais das vezes por iniciativa dos próprios índios, que parecem não suportar mais o jugo de instituições estatais, ONGs, organizações religiosas como o CIMI, às quais se acrescenta agora a Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), que prepara o Sínodo a ser realizado em Roma no próximo mês de outubro. Parece haver uma conjuração para mantê-los numa espécie de jardim zoológico, e nessa condição serem mostrados ao mundo. Caracteriza-se assim um ideal comuno-missionário para o Brasil neste século, conforme previsto pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1977.
Plantação de soja dos índios Parecis.
Incontáveis indígenas desejam progredir, produzir, inserir-se no mundo civilizado. Mas muitas ONGs e elementos da "esquerda católica" querem impedir esse progresso, e deixá-los com seus costumes selvagens. Querem também impedir o ensinamento do Evangelho aos índios,como já se percebe na orientação do próximo "Sínodo da Amazônia".
No ano passado, no Mato Grosso, os indígenas Parecis fizeram um plantio de 12 mil hectares de soja, e como "prêmio" receberam... 44 multas do IBAMA, totalizando 129,2 milhões de reais. Alguém pode pensar que se trata de piada, mas é a pura realidade. O motivo dessas multas? Castigo imposto aos índios, porque ousaram plantar e colher.
Isso indica que estamos em tempos novos. Muito novos mesmo, pois agora nossos índios querem produzir, empreender, sair do humilhante "zoológico" em que costumam ser mostrados para o mundo, uma espécie de cobaias para antropólogos e missionários inescrupulosos. Sem falar nas ONGs estrangeiras ou não, gente com interesses pouco claros, mas muito evidentes.
Essa trama esquerdista, em que missionários da igreja "progressista" são contrários ao desenvolvimento espiritual e material dos índios, chegando até à negação de lhes ensinar o evangelho, foi denunciada em 1977 por Plinio Corrêa de Oliveira, em seu livro Tribalismo indígena – ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI.
Empenhado sempre em trazer para seus leitores informações valiosas mas pouco divulgadas, Catolicismo enviou seus colaboradores Paulo Henrique Chaves e Nelson Ramos Barretto a fim de conferir in loco a experiência dos índios Parecis. Rompendo com a secular inércia indígena, eles plantam e colhem, civilizam-se e progridem, servindo de modelo para os silvícolas do Brasil inteiro. A pesada multa que caiu sobre eles serviu apenas para despertar a atenção para um fenômeno novo.
Em fevereiro último, estiveram em Campo Novo do Parecis (MT) a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o Secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, para o encerramento do primeiro Encontro Nacional de Agricultores Indígenas. Um dos temas discutidos na ocasião foi a utilização de sementes transgênicas nas plantações deles. A Ministra declarou que a vontade dos índios é soberana, cabendo a eles decidir o que fazer ou deixar de fazer. Admitiu ser viável mudar a lei, para que eles possam produzir em escala sem ser penalizados. E o Ministro Ricardo Salles observou que os índios plantam e produzem com muita competência, demonstrando aptidão para se integrarem ao agro sem perder suas origens e tradições.
A FUNAI (Fundação Nacional do Índio) informou que os índios Parecis plantaram mais de 8 mil hectares de soja na safra 2018/2019.No ensejo, eles entregaram à ministra uma carta na qual solicitavam uma linha de crédito para adquirir insumos e maquinário, além de mudanças na lei que os impede de comercializar o que vêm produzindo nas terras que lhes foram demarcadas. A ministra Tereza Cristina se declarou favorável a essas reivindicações, e reafirmou ao líder indígena Ronaldo Zokezomaiake Paresi [foto], presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Parecis,
Foto: Ministério da Agricultura/divulgação