| CAPA | (continuação)
O Pe. Angelo Ciancotti, da catedral, não conseguia conter as lágrimas. As chaves não deveriam servir mais, porém ele havia conservado uma, na esperança de voltar a abrir a casa de Jesus, e funcionou perfeitamente: "Na primeira tentativa o tabernáculo abriu, conta ele. A âmbula estava deitada, mas fechada. Nela o Corpo de Cristo, após um ano e meio enterrado, estava perfeito, do ponto de vista da cor, da forma e do odor. Não havia bactéria nem mofo algum, que pode aparecer em qualquer Hóstia depois de semanas enclausurada. Pelo contrário, aquelas pareciam ter sido feitas no dia anterior".
O sacerdote sabia que as Hóstias tinham sido confeccionadas pelas freiras de Santo Onofre, e tirou a limpo se elas tinham usado algum conservante. "Não, responderam elas, apenas farinha e água". Para o Pe. Ângelo, "Jesus Cristo nos diz: 'Eu existo e estou convosco. Confiai em Mim'". Uma sensação de "presença real" tomou conta das testemunhas. O Pe. Ângelo repetiu: "Sim, para mim é um milagre. Quem não tem fé não vai acreditar em nada. O Senhor fez tudo por Si próprio".
No século VIII, em Lanciano, na igreja de São Legonciano, um monge basiliano duvidou da presença real de Cristo nas espécies consagradas. Mas, durante a Missa, em suas mãos a Hóstia se transformou em carne humana, e o vinho em sangue, que depois se coagulou.
É o mais antigo milagre eucarístico de que há notícia. Transcorridos 12 séculos, em novembro de 1970 o arcebispo de Lanciano, D. Pacífico Perantoni e o provincial dos franciscanos conventuais da região de Abruzzo, com a autorização do Vaticano, encomendaram um exame científico das relíquias ao professor de Anatomia e Histologia Patológica, de Química e Microscopia Clínica, Dr. Odoardo Linoli, e ao Prof. Ruggero Bertelli, da Universidade de Siena.
Em 4 de março de 1971 a equipe apresentou os resultados, que evidenciavam características de carne do tecido cardíaco, e o sangue do grupo AB. O professor Linoli explicou: "Descobri que a carne provinha do endocárdio. Portanto, não há dúvida alguma de que se trata de tecido cardíaco". Quanto ao sangue, o cientista destacou que "o grupo sanguíneo é o mesmo do homem do Santo Sudário de Turim, e é singular, pois apresenta as características de um homem que nasceu e viveu no Oriente Médio. O grupo sanguíneo AB encontra-se numa porcentagem pequena de homens, entre 0,5 a 1%, enquanto na Palestina e nas regiões do Oriente Médio a proporção é de 14-15%", apontou. A análise concluiu que na relíquia não havia substâncias conservantes, e que o sangue não podia ter sido extraído de um cadáver, porque se teria alterado rapidamente.
Em 1973, o conselho superior da Organização Mundial da Saúde (OMS) ordenou verificar as conclusões dos médicos italianos. Foram feitos 500 exames durante 15 meses, e todos ratificaram o que havia sido apurado na Itália.
O extrato dos trabalhos científicos da OMS foi publicado em 1976, em Nova York e em Genebra, confirmando que a ciência não podia explicar o fenômeno.
Na basílica de São Francisco, na cidade de Siena, Toscana, adora-se um dos maiores milagres eucarísticos. Trata-se de 223 hóstias consagradas há 280 anos, e que estão intactas em uma das capelas laterais da basílica.
Os peregrinos "chegam de todo o mundo. Vêm para ver o milagre. Quando chegam, cantam, comovem-se e choram de alegria", explica o franciscano Frei Paolo Spring, responsável da custódia. Numerosos Papas e Santos — como Dom Bosco — foram adorar as Hóstias.
Em 14 de agosto de 1730, na véspera da festa da Assunção de Nossa Senhora, os sacerdotes consagraram hóstias adicionais, para serem distribuídas no dia festivo. Durante a noite, eles deixaram suas igrejas para fazer uma vigília na catedral. Alguns ladrões entraram na basílica e furtaram a âmbula de ouro com as Hóstias consagradas.
No dia seguinte, um paroquiano achou na rua a tampa do cibório, imaginando um possível roubo, e os fiéis começaram a rezar pela recuperação das divinas partículas.
Três dias depois, na igreja de Santa Maria em Provenzano, perto da Basílica, um homem viu algo de cor branca no lugar em que se colocavam esmolas para os pobres. Eram as hóstias roubadas, misturadas com poeira e teias de aranha.
Essas hóstias não foram distribuídas, pois os frades queriam aguardar até que se desfizessem. Mas elas se conservavam intactas e com um odor muito agradável. O povo dizia que eram milagrosas, e os peregrinos iam adorá-las. Algumas foram distribuídas em ocasiões especiais, restando até os dias de hoje 223 Hóstias.
"Em diversas etapas foram examinadas, e fisicamente conservam todas as características de uma Hóstia recente", explica Frei Paolo. Em 1914, por ordem do Papa São Pio X, foi feito um exame rigoroso com a participação de especialistas em bromatologia, higiene, química e farmacêutica. Os exames constataram que as Hóstias foram guardadas em condições normais, sem precauções científicas, pelo que deveria ter ocorrido uma deterioração natural rápida. "Os resultados confirmaram que as Sagradas Partículas estão em perfeito estado de consistência, lúcidas, brancas, perfumadas e intactas. Aqui existem duas coisas milagrosas: Primeiro, o tempo não existe, pois se deteve. Segundo, os corpos compostos e as substâncias orgânicas estão sujeitos a murchar. É um milagre vivo, contínuo, não sabemos até quando o Senhor o permitirá".
As Hóstias estão expostas à adoração numa artística âmbula de cristal, num altar especial. Periodicamente são analisadas por eclesiásticos, uma por uma, a fim de detectar qualquer sinal de mofo, decomposição etc., na presença de testemunhas e cientistas. O cibório é cuidadosamente limpo.
Periodicamente faz-se um teste peculiar: uma testemunha voluntária idônea recebe uma hóstia produzida recentemente, sem consagrar e depois comunga uma das hóstias de 1730. Depois disso ela redige um termo no qual deve