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AMBIENTES – COSTUMES – CIVILIZAÇÕES

CATEDRAL DE YORK
A poesia das flechas inexistentes, mas imagináveis

Plinio Corrêa de Oliveira

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 22 de maio de 1985. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.


A catedral gótica de York, na Inglaterra, apresenta algumas características que à primeira vista impressionam pouco, mas cuja beleza é preciso saber saborear.

O gosto pelo princípio de unidade e transcendência nos levaria a desejar que as torres terminassem bem mais altas, por uma série de lances menores e com uma ponta altiva e elegante. Pois não é propriamente segundo o espírito contra-revolucionário uma torre sem ponta, sem uma flecha.

As duas torres da fachada não têm pontas, mas os ângulos estão flanqueados por alguns florões que causam à primeira vista a impressão de torreões.

Onde está a beleza dessas torres? Pode-se dizer que estão inacabadas, e que não possuem toda a beleza com a qual sonhou para elas o arquiteto. Mas a beleza própria delas é justamente por não terem cone, pois há nelas algo que nos leva a imaginar as pontas que não existem e a sonhar com elas.

Na ordem da natureza, as sombras têm sua beleza, e às vezes são mais belas do que a realidade. Também os cumes e as pontas inexistentes ficam insinuados, quando a base é feita com talento. E por meio da insinuação, qualquer um pode formar certa ideia subconsciente daquilo que poderia existir.

Nas duas torres há algo que ajuda a imaginação de quem as vê, a elevar-se até o cone.

De fato, prestando atenção, desprende-se delas certa poesia, que é a do cone inexistente, mas imaginável.

A catedral está rodeada por casas meio ligadas umas às outras, sem muita ordenação, formando um bricabraque de acordo com a fantasia.

O batistério está quase imerso no meio de um emaranhado de dependências da catedral e de casas. Há um arvoredo também, meio entrelaçado com as construções.

Nesse conjunto temos o contrário do urbanismo moderno, no qual nada é entrelaçado.

O que fariam os urbanistas contemporâneos? Derrubariam todo o casario, para a catedral ficar à vista por todos os lados, e substituiriam por uma praça vazia, com gramado e árvores.

Resultado: perderia algo na linha do aconchego, do convívio íntimo entre peças diferentes. Todo o conjunto é agradável e interessante — diferente do perpétuo quadrilátero das ruas modernas. □