| EDITORIAL |

[Não é uma revolta: é uma revolução.]

Encontrando-se em Versalhes, a poucos quilômetros de Paris, o rei Luís XVI não tinha informações precisas do que acontecia na capital. Assim, naquela tarde de 14 de julho de 1789, escreveu em seu diário: Rien (nada). Mas aquele dia, marco da Revolução Francesa, fora catastrófico para a França: a Bastilha tinha sido invadida por um bando de anarquistas enfurecidos, dando origem a um rio de sangue. Tornou-se mesmo a data simbólica dos revolucionários para a tomada do poder.

Somente na manhã seguinte o duque de La Rochefoucauld informou ao Rei a queda da Bastilha e a gravidade dos trágicos acontecimentos. O monarca perguntou:

— É uma revolta?

— Não, Majestade. Não é uma revolta, é uma Revolução!

Em nossos dias, quem tome conhecimento dos protestos anarquistas nos EUA — sobretudo do Black Lives Matter e dos Antifas — e os considere simplesmente como “uma revolta”, talvez anotaria em sua agenda: Nada. Entretanto, o que tem sucedido ultimamente não são apenas revoltas, pois obedecem a uma voz de comando contra objetivos muito maiores e de alcance mundial. A violência policial é simplesmente um pretexto. Contraditoriamente, são protestos violentíssimos... contra a violência.

A partir de 25 de maio, protestos pela morte de George Floyd foram reorientados para a destruição de imagens sagradas, igrejas, estátuas de grandes personagens — um conjunto de símbolos do mundo civilizado e das mais belas tradições da História. É fácil identificar nesses símbolos, atacados pelos agitadores radicais, alguns dos maiores valores culturais da civilização.

Tal vandalismo se encaixa como etapa de uma “revolução cultural”, cujo objetivo é implantar um regime marxista e tribalista universal, coincidindo com a meta extrema de extinção da civilização cristã e da presença de Deus na História. Assim sendo, podemos caracterizar tais protestos anarquistas com a informação de La Rochefoucauld a Luís XVI: Não é uma revolta, é uma Revolução!

A matéria de capa desta edição apresena tais manifestações como um passo do processo revolucionário para atingir seu nefasto e diabólico fim: a destruição da Cristandade. Cabe a nós pedir insistentemente a intervenção de Deus na História, pela restauração e vitória da Cristandade.


| PALAVRA DO SACERDOTE |

A consagração da Rússia foi efetivada como Nossa Senhora pediu?

Padre David Francisquini

Pergunta — Agradeço o seu recente esclarecimento sobre a legitimidade teológica das consagrações a Nossa Senhora. Como ficou claro, vários Papas, e mesmo Nossa Senhora em Fátima, utilizaram o termo “consagração” para se referir à entrega do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Mas ainda me ficou uma dúvida: nessas consagrações já feitas, alguma já cumpriu com os requisitos da consagração da Rússia, pedida por Nossa Senhora à Irmã Lúcia?

Resposta — De fato, o prezado consulente observou no texto anterior uma lacuna, que me teria sido impossível preencher ao finalizar aqueles comentários, por escassez de espaço. Pois há diversidade de opiniões sobre o assunto, e para responder à consulta temos de remontar amplamente aos fatos iniciais, como veremos a seguir.

Na aparição de 13 de julho de 1917, Nossa Senhora disse aos pastorinhos que Deus iria “punir o mundo de seus crimes por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. [...] Para o impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora dos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”.

Doze anos mais tarde, no dia 13 de junho de 1929, enquanto residia em Tuí, na Espanha, a Irmã Lúcia teve uma visão na qual Nossa Senhora lhe disse: “É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio”.

Ainda em 1929, a vidente fez chegar esse pedido ao conhecimento do Papa Pio XI, e no ano seguinte escreveu ao seu confessor, o Pe. José Bernardo Gonçalves S.J., relatando que Nosso Senhor a instara a solicitar ao Santo Padre a aprovação da devoção reparadora dos primeiros sábados. E acrescentou: “Se me não engano, o bom Deus promete terminar a perseguição na Rússia se o Santo Padre se dignar fazer, e mandar que o façam igualmente os Bispos do mundo católico, um solene e público ato de reparação e consagração da Rússia aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria”.

Numa comunicação íntima posterior, Nosso Senhor Se queixou à vidente: “Não quiseram atender ao meu pedido. Como o Rei da França, arrepender-se-ão; e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo”. Numa carta ao seu confessor, de 18 de maio de 1936, a Irmã Lúcia declara: “Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe por que não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração. Foi esta a resposta que a Irmã Lúcia recebeu de Jesus: “Porque quero que toda a minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto e pôr, ao lado da devoção do meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração”.

Consagrações realizadas incompletamente

Depois de iniciada a Segunda Guerra Mundial, a Irmã Lúcia se dirigiu diretamente ao novo Papa, Pio XII: “Em várias comunicações íntimas, Nosso Senhor não tem deixado de insistir neste pedido, prometendo ultimamente — se Vossa Santidade se dignar fazer a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com menção especial

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