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| PÁGINA MARIANA | (continuação)

população percebeu os inimigos se aproximando. Não havia meios para defender a cidade. Tudo estaria mais uma vez perdido, se não houvesse uma intervenção do Céu. Todos fugiram e abrigaram-se na Igreja da Puríssima, pedindo à boa Mãe que os protegesse: “A Rainha Virgem e defensora de Macas, Ela mesma, veio em auxílio dos habitantes da cidade contra um dos ataques traiçoeiros dos jíbaros”.2

Uma senhora anciã e cega, chamada Maria Dolores, teve revelação do ocorrido. Quando os atacantes se aproximaram da igreja, Maria Santíssima apresentou-se em pessoa diante deles, comandando um exército experiente de inúmeros soldados angélicos. O prodígio espalhou o terror entre os invasores, que fugiram espavoridos.

Os habitantes de Macas encontraram depois lanças, arcos e flechas dos jíbaros atirados ao chão, a pouca distância da cidade. Aparentemente eles foram acossados pelos celestiais soldados de Nossa Senhora, até abandonarem as armas e desistirem de qualquer novo ataque.

Os “macabeus” (com esta reminiscência bíblica são conhecidos os habitantes de Macas) fizeram então o juramento de celebrar com a devida solenidade, no dia 5 de agosto, a festa da Virgem Puríssima.

Em outra ocasião Macas foi atingida por uma tempestade torrencial, acompanhada de relâmpagos, terremotos e o transbordamento do Rio Upano. O povo correu depressa para a igreja, e suplicou novamente o amparo da Virgem Puríssima. Logo todo perigo se dissipou.

Passaram-se mais de dois séculos de relativa tranquilidade, até que a pior das tragédias adveio sobre Macas. Na véspera do Natal de 1891, um terrível incêndio se alastrou inesperadamente por toda a cidade, atingindo até a igreja da Puríssima. A milagrosa estampa, para comoção de todos, desapareceu entre as chamas.

Talvez o castigo sobre Macas tenha ocorrido como presságio de uma época atribulada na história do Equador. Nas décadas seguintes ao incêndio, uma sequência de governos laicistas assumiu o Poder, investindo contra as instituições católicas, inclusive estabelecendo a separação entre o Estado e a Igreja.

Nos primeiros anos do século XX, com a queda do governo anticatólico, a situação do país voltou a certa normalidade. Um novo raio de esperança foi levado a Macas pelos missionários salesianos, que retomaram seu apostolado ali em 1924.

Missionários salesianos em Macas, em 1924. Entre eles estava a Irmã salesiana Maria Troncatti, hoje beatificada (na foto em oval, com três indiazinhas).

Entre eles estava a Irmã salesiana Maria Troncatti, hoje beatificada. Essa incansável freira impulsionou as missões na região durante 40 anos, e com ela a Puríssima retornou a Macas!

Os padres salesianos perceberam que a antiga devoção a Nossa Senhora se mantinha viva no coração do povo, mesmo após décadas da destruição da milagrosa imagem da Puríssima. Diante disso, o bispo da região de Macas, Dom Domingo Comín, incumbiu um artista de pintar uma cópia exata da imagem que se venerava no Convento da Imaculada Conceição em Riobamba.

Em 1925, acompanhada de duas noviças e de outros salesianos, a Irmã Troncatti levou o novo quadro para Macas, cujo povo a recebeu entusiasmo, com grande solenidade e devoção.

Mas, como temos visto, os reveses são uma constante na história de Macas. Em 1938, outro incêndio atingiu a vila e a capela de Nossa Senhora. Apesar da destruição da pequena igreja, o novo quadro foi salvo por um valente devoto. O ânimo da população felizmente não se arrefeceu, e mais uma vez ela reergueu a cidade.

Hoje a pintura de Nossa Senhora fica exposta à veneração dos fiéis na catedral de Macas, construída entre os anos 1980 e 1992. Nas laterais da igreja, um conjunto de belos vitrais narra os principais eventos dessa longa e atribulada história de quase 500 anos.

Podemos dizer que a devoção à Puríssima de Macas representa a constância maternal de Nossa Senhora, que nunca abandona seus filhos, apesar de todos os obstáculos e das aparentes derrotas. Uma excelente lição para nós, nas inúmeras dificuldades que temos de enfrentar em nossas vidas! 

O bispo da região de Macas, Dom Domingo Comín, com índios jíbaros convertidos ao catolicismo (1910).

Notas:

1. Informações extraídas de: https://pueblomacabeo.com/index.php/historia/75-macas-en-la-historia

2. Cfr. Análisis del pueblo macabeo en el imaginario colectivo de la población del cantón Morona – 2016. Curso Ciencias de la Comunicación Social, Universidad Nacional de Chimborazo, Riobamba, Ecuador.


Hino Oficial da Puríssima de Macas

O povo macabeu comemora com devoção seu juramento de fidelidade, vigente há mais de 400 anos, portando uma imagem da Puríssima pelas ruas da cidade.

De la Virgen sin mancha las glorias

nuestros padres ardientes amaron.

Con la espada en la mano juraron

defender de su Madre el honor.

¡Sí! ¡Gloria, gloria! Los cielos, la tierra

hoy ensalcen con férvido acento,

el sagrado, inmortal juramento

que tu Macas, la fiel, te prestó.

Aquel voto, cual canto sublime,

como trueno de eléctrica nube,

de tres siglos el polvo sacude

en la tierra de Juan de la Cruz.

Hoy tu pueblo gozoso te aclama

estrenando tu nueva morada

que de Macas fue grande el deseo

desde Juan de la Cruz hasta hoy.

(Letra: Pe. Olmedo Rodas, SDB. Música: Pe. Carlos Simonetti, SDB).


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