Luís Dufaur
No dia 18 de outubro, uma multidão anarquista profanou e incendiou com satânico frenesi a igreja de São Francisco de Borja no centro de Santiago do Chile. Com vandalismo destruidor, mais uma igreja foi atacada no mesmo dia.
A oposição achou o método da demonização absoluta, ao dizer que iríamos nos tornar como a Venezuela”, disse o presidente argentino Alberto Fernández, lamentando o imenso erro cometido ao tentar expropriar Vicentín, a multinacional argentina do agronegócio. Em seguida recordou uma frase do Papa Francisco, a quem deve a sua eleição: “O caminho do ódio não conduz a parte alguma”. Atribuiu esse ódio ao povo e inocentou o seu partido. Pouco depois voltou à carga contra as propriedades e contra os bolsos dos particulares.
O nosso continente quer ver-se muito longe da onda revolucionária populista, mas Fernández pretende encarnar um novo estilo no contra-ataque empreendido por ela. Qual a característica principal desse contra-ataque? Ao que tudo indica, consiste em usar uma máscara de moderado. Ungido pelo Papa Francisco, ele finge um esquerdismo mitigado. Deixa o trabalho sujo e antipopular à sua vice-presidente Cristina Kirchner, que vai restituindo o poder aos agentes populistas. A deputada espanhola Cayetana Álvarez de Toledo, que possui nacionalidade argentina, alertou: “Eu também digo aos argentinos: ‘abram os olhos’. Há um presidente na Argentina que não é presidente. O poder está com Cristina Kirchner; quer dizer, o populismo e o autoritarismo. Ela procura vingança pessoal e impunidade” (“La Nación”, 25-9-20).
Mas as diatribes mais tresloucadas proveem do agitador Juan Grabois, o queridinho do Papa Francisco, assessor ad-honorem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Grabois odeia os agropecuaristas, a quem qualifica de “parasitas que vivem da renda extraordinária da terra de todos”. Lidera invasões de propriedades e prega a necessidade de uma radical reforma agrária (“Perfil”, 6-3-20). Esse agitador platino tem no Brasil um ‘irmão de luta de classes’ em Guilherme Boulos, líder invasor de propriedades, que se ufana de ter sido preso diversas vezes. Hoje ele é candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, com objetivos ecológico-comunistas.
Fernández diz ter combinado com Lula a restauração da esquerda no continente. Tirar Lula da cadeia, no Brasil, foi um de seus objetivos antes de ser eleito presidente argentino.
Em consequência dos “buzinaços”, “caçarolaços” e “bandeiraços”, o governo argentino está perdendo o domínio das ruas, e começa a atropelar para seguir adiante.
Cristina Kirchner interfere no Judiciário para tirar seus colegas ideológicos do cárcere; e também se livrar, ela própria, de graves processos de corrupção. Alguns recuperaram grandes posses, e o mais famoso ‘laranja’, que tentou voltar da prisão a um condomínio de luxo, fugiu com seu carro apedrejado pelos moradores.
Unânimes protestos denunciam a investida contra a Vicentín e a libertação de prisioneiros célebres pela corrupção. Assumem a defesa da liberdade de expressão, do direito de propriedade privada, da independência do Judiciário e contra a China comunista, entre muitos outros motivos. Generaliza-se a impressão de que a pandemia está sendo explorada para fazer uma ‘infectadura’ — ditadura ideológica de esquerda. Houve “panelaços” até em bairros de Buenos Aires sem nenhuma ligação com o meio rural, grandes carreatas nas cidades e uma avalanche de críticas nas redes sociais. Creia-se ou não, até a grande mídia vem se afastando do poder.
Fernández reagiu com petulância contra a indignação popular, mas a opinião pública entendeu que o confisco de uma empresa gigante como a Vicentín precederia ofensivas gerais contra a propriedade privada de pequenas e médias empresas comerciais e industriais, e também contra patrimônios familiares ou pessoais. No fim, o presidente fez humilhante pedido de desculpas: “Não sou um doido varrido, não trago comigo uma caderneta com ordens de expropriações. Pensei que iriam festejar. Errei. Começaram a me acusar de coisas horríveis. Dizem que sou um chavista, que só quero expropriar”, afirmou à rádio esquerdista “La Patriada”.
São incontáveis os rumorosos e coloridos “buzinaços”, “caçarolaços”, bloqueios de estradas contra os anúncios do governo. O público conservador parecia não ter consciência de quão numerosos são os argentinos que estão protestando. Tão logo se deu conta disso,