P.12-13 | INTERNACIONAL |

ESQUERDAS SE ARTICULAM E CONTRA-ATACAM NAS AMÉRICAS

Luís Dufaur

No dia 18 de outubro, uma multidão anarquista profanou e incendiou com satânico frenesi a igreja de São Francisco de Borja no centro de Santiago do Chile. Com vandalismo destruidor, mais uma igreja foi atacada no mesmo dia.

A oposição achou o método da demonização absoluta, ao dizer que iríamos nos tornar como a Venezuela”, disse o presidente argentino Alberto Fernández, lamentando o imenso erro cometido ao tentar expropriar Vicentín, a multinacional argentina do agronegócio. Em seguida recordou uma frase do Papa Francisco, a quem deve a sua eleição: “O caminho do ódio não conduz a parte alguma”. Atribuiu esse ódio ao povo e inocentou o seu partido. Pouco depois voltou à carga contra as propriedades e contra os bolsos dos particulares.

O nosso continente quer ver-se muito longe da onda revolucionária populista, mas Fernández pretende encarnar um novo estilo no contra-ataque empreendido por ela. Qual a característica principal desse contra-ataque? Ao que tudo indica, consiste em usar uma máscara de moderado. Ungido pelo Papa Francisco, ele finge um esquerdismo mitigado. Deixa o trabalho sujo e antipopular à sua vice-presidente Cristina Kirchner, que vai restituindo o poder aos agentes populistas. A deputada espanhola Cayetana Álvarez de Toledo, que possui nacionalidade argentina, alertou: “Eu também digo aos argentinos: ‘abram os olhos’. Há um presidente na Argentina que não é presidente. O poder está com Cristina Kirchner; quer dizer, o populismo e o autoritarismo. Ela procura vingança pessoal e impunidade” (“La Nación”, 25-9-20).

Mas as diatribes mais tresloucadas proveem do agitador Juan Grabois, o queridinho do Papa Francisco, assessor ad-honorem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Grabois odeia os agropecuaristas, a quem qualifica de “parasitas que vivem da renda extraordinária da terra de todos”. Lidera invasões de propriedades e prega a necessidade de uma radical reforma agrária (“Perfil”, 6-3-20). Esse agitador platino tem no Brasil um ‘irmão de luta de classes’ em Guilherme Boulos, líder invasor de propriedades, que se ufana de ter sido preso diversas vezes. Hoje ele é candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, com objetivos ecológico-comunistas.

Fernández diz ter combinado com Lula a restauração da esquerda no continente. Tirar Lula da cadeia, no Brasil, foi um de seus objetivos antes de ser eleito presidente argentino.

Argentinos reagem em grandes manifestações

Em consequência dos “buzinaços”, “caçarolaços” e “bandeiraços”, o governo argentino está perdendo o domínio das ruas, e começa a atropelar para seguir adiante.

Cristina Kirchner interfere no Judiciário para tirar seus colegas ideológicos do cárcere; e também se livrar, ela própria, de graves processos de corrupção. Alguns recuperaram grandes posses, e o mais famoso ‘laranja’, que tentou voltar da prisão a um condomínio de luxo, fugiu com seu carro apedrejado pelos moradores.

Unânimes protestos denunciam a investida contra a Vicentín e a libertação de prisioneiros célebres pela corrupção. Assumem a defesa da liberdade de expressão, do direito de propriedade privada, da independência do Judiciário e contra a China comunista, entre muitos outros motivos. Generaliza-se a impressão de que a pandemia está sendo explorada para fazer uma ‘infectadura’ — ditadura ideológica de esquerda. Houve “panelaços” até em bairros de Buenos Aires sem nenhuma ligação com o meio rural, grandes carreatas nas cidades e uma avalanche de críticas nas redes sociais. Creia-se ou não, até a grande mídia vem se afastando do poder.

Fernández reagiu com petulância contra a indignação popular, mas a opinião pública entendeu que o confisco de uma empresa gigante como a Vicentín precederia ofensivas gerais contra a propriedade privada de pequenas e médias empresas comerciais e industriais, e também contra patrimônios familiares ou pessoais. No fim, o presidente fez humilhante pedido de desculpas: “Não sou um doido varrido, não trago comigo uma caderneta com ordens de expropriações. Pensei que iriam festejar. Errei. Começaram a me acusar de coisas horríveis. Dizem que sou um chavista, que só quero expropriar”, afirmou à rádio esquerdista “La Patriada”.

São incontáveis os rumorosos e coloridos “buzinaços”, “caçarolaços”, bloqueios de estradas contra os anúncios do governo. O público conservador parecia não ter consciência de quão numerosos são os argentinos que estão protestando. Tão logo se deu conta disso,

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