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| VIDAS DE SANTOS | (continuação)

Amor à Eucaristia e à Virgem

Aos dotes militares Nuno aliava uma espiritualidade sincera e profunda. O amor à Sagrada Eucaristia e à Virgem Maria eram o centro de sua vida interior. Assíduo na oração à Mãe de Deus, jejuava em sua honra às quartas, sextas e sábados, bem como nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à Missa, embora só pudesse receber a comunhão por ocasião das grandes solenidades. Seu estandarte-insígnia trazia as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros São Tiago e São Jorge. Fez construir às suas expensas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de Santa Maria da Vitória, na cidade de Batalha. Em outubro de 1388, já viúvo, iniciou a construção da capela de São Jorge, em Aljubarrota. E continuou suas proezas bélicas até 1397, quando instalou os frades da Ordem do Carmo no convento de Lisboa.

Ruínas da Igreja do Convento do Carmo (Lisboa). Fundada pelo Santo Condestável. Danificada gravemente no grande terremoto de 1755.

Conflito com o monarca

Para premiar seus insubstituíveis companheiros de armas, o Condestável distribuíra entre eles muitas terras em 1393. Diante do rei, seus adversários o acusaram de querer transformar seus subordinados em vassalos.

Nesse ínterim, soube-se que Castela havia quebrado a trégua. Dom Nuno foi o primeiro vassalo a correr com seu exército para junto do rei. Uma vez afastado o perigo, o rei estabeleceu como acordo que as doações feitas por Dom Nuno seriam mantidas, mas somente o monarca poderia ter vassalos, inclusive os que receberam bens do Condestável.

Após enviuvar em 1387, Nuno recusou-se a contrair novas núpcias, passando a viver em completa castidade, como havia desejado em sua juventude. Com a morte da filha Dona Beatriz em 1414, resolveu retirar-se do campo de batalha para se dedicar aos trabalhos agrícolas nos seus domínios de Vila Viçosa. Tornara-se senhor de quase metade de Portugal, que obtivera por seus valiosos serviços.

Últimos tempos como religioso carmelita

O Santo Condestável participou da conquista de Ceuta em 1415, sendo convidado pelo rei a comandar a guarnição que permaneceria lá; mas recusou, pois desejava trocar a vida militar pela vida religiosa. Livre dos deveres familiares, em 15 de agosto de 1423 tornou-se o Irmão Nuno de Santa Maria no Convento do Carmo, que mandara construir em cumprimento de um voto.

Ele teria preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, mas foi dissuadido por Dom Duarte, filho do rei, que agiu da mesma forma quando o novo religioso, após abdicar os títulos de Conde e Condestável, pretendia ir pelas ruas pedir esmola para o convento. O infante convenceu-o a contentar-se apenas com a esmola do rei. Passou então a se dedicar aos pobres, em cujo favor organizou a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido.

Numa história apócrifa, consta que o embaixador castelhano foi ao Convento do Carmo encontrar-se com Nuno Álvares, e lhe perguntou qual seria sua posição se Castela invadisse novamente Portugal. Levantando seu hábito, ele mostrou por baixo a sua cota de malha, e indicou que serviria seu país sempre que necessário: “Se el-rei de Castela outra vez movesse guerra a Portugal, eu serviria ao mesmo tempo à religião que professo e à terra que me deu o ser”.

Aos 71 anos de uma vida em que prestou os mais insignes serviços à pátria, em 1º de abril de 1431 esse valoroso combatente entregou sua nobilíssima alma a Deus, em sua pequena cela do Carmo. Abraçado ao crucifixo, chorado pelo rei e pelos infantes, como também por milhares de desamparados que protegeu.

Nuno Álvares foi inicialmente sepultado no Convento do Carmo, em Lisboa. Com a destruição parcial do Convento pelo terrível terremoto de 1755, foi trasladado. E a partir de 14 de agosto de 1951, por ocasião dos 566 anos da vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota, seus restos mortais repousam na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.

Sepultura de Nuno Álvares, no Carmo de Lisboa.

Beatificado em 23 de janeiro de 1918 pelo Papa Bento XV, foi canonizado em 26 de Abril de 2009 pelo Papa Bento XVI.

O grande poeta português Luís de Camões faz referência ao Condestável – em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito – nada menos que 14 vezes em Os Lusíadas. O forte Nuno, como Camões o designa, é evocado logo na 12ª estrofe do canto primeiro: “Por estes vos darei um Nuno fero, Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço”. E no canto oitavo, estrofe 32: “Mas mais de Dom Nuno Álvares se arreia. Ditosa Pátria que tal filho teve!”.2

Notas:
1. CORDEIRO, Valério Aleixo (1921), Vida do Beato Nuno Alvarez Pereira, 2ª edição, Livraria Catholica, Lisboa.in PT.wikipedia.
2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_%C3%81lvares_Pereira
Outras obras consultadas:
- https://www.infopedia.pt/$d.-nuno-alvares-pereira
- Homilia do Santo Padre Bento XVI (26 de abril de 2009) disponível em http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/2009/ns_lit_doc_20090426_nuno_po.html
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