| ENTREVISTA |

Nosso entrevistado: Dr. Roberto Marchesini

“Há a psicologia dos filósofos gregos, de Santo Agostinho, de Santo Tomás, dos Carmelitas, de Santo Inácio. E há uma psicologia anticristã, no sentido de que rejeita a ordem das coisas”.

Roberto Marchesini é psicólogo, psicoterapeuta e consultor para problemas que afetam a juventude, e exerce suas atividades profissionais em Milão. Conhecido conferencista, profere palestras em toda a Itália e no exterior. É autor de vários livros, entre os quais “Homossexualidade e o Magistério da Igreja”. Colabora com numerosas revistas científicas e católicas. Um de seus livros — “Código cavalheiresco para o homem do terceiro milênio” — defende a tese de que a solução para os problemas psicológicos dos jovens de hoje é o código da cavalaria. Lançado recentemente, vem despertando muitos comentários.

Dr. Marchesini concedeu a Catolicismo esta entrevista ao nosso colaborador na Itália, Sr. Julio Loredo de Izcue. No sentido das teses defendidas por nosso entrevistado, publicamos no final desta alguns comentários de Plinio Corrêa de Oliveira em 1982.

* * *

Em um de seus livros, o senhor faz um apelo a uma psicologia dirigida à alma da pessoa humana, portanto ancorada na ideia de ordem e finalidade, natural e transcendental. Exatamente o oposto daquilo a que a psicologia moderna está nos levando. Peço-lhe o favor de começar definindo o que é psicologia, e quais são seus objetivos e sua utilidade.

A Encarnação do Logos dividiu em duas partes a História (antes e depois de Cristo), a cultura, e é preciso também dizer: a humanidade. Também dividiu assim a psicologia, pois de fato há uma psicologia depois de Cristo, que é o estudo da alma humana. Este é o significado etimológico da palavra psicologia, a qual tem como objetivo a plena realização da alma em conformidade com o Logos. Esta é a psicologia dos filósofos gregos, de Santo Agostinho, de Santo Tomás, dos Carmelitas, de Santo Inácio. E há uma psicologia anticristã, no sentido de que rejeita o Logos. Essa é a psicologia moderna e contemporânea. Para usar as palavras do psicólogo americano John Broadus Watson (1878-1958), o objetivo da psicologia moderna e contemporânea é “a previsão e o controle do comportamento”, isto é, a manipulação e o controle do homem. A primeira psicologia (católica) e a segunda são duas psicologias antitéticas e incompatíveis, com objetivos completamente diferentes.

“O homem moderno, privado do sentido e do horizonte último da vida, condenado pela cultura moderna a uma vida exclusivamente material, mostrou todo o seu sofrimento com o desenvolvimento da neurose”.

O senhor afirma que a psicologia moderna começa separando-a da alma. Ela fica reduzida ao estudo da percepção e dos fenômenos biológicos, como uma ciência empírica. Portanto, a psicologia não visa mais o bem da alma. Poderia aprofundar tal conceito?

A rebelião contra o Logos — que também é “ordem” — se manifesta como uma rejeição da lei natural, sua consequência e manifestação; e das leis morais e religiosas, que são o aspecto da lei natural que é percebido pelo homem. Visto que a faculdade humana designada para apreender as leis morais e religiosas é a razão, que o faz por meio da filosofia metafísica, o homem moderno, em primeiro lugar, negou a possibilidade desta ciência, e negou que a razão humana possa apreender realidades metafísicas.

A razão foi “focomelizada” (atrofiada), declarada capaz de compreender apenas realidades materiais e sensíveis. Este é o aspecto fundamental do Empirismo, do Iluminismo, do Romantismo. Como consequência desse caminho, em vez de estudar o indivíduo, os processos fisiológicos mensuráveis que ocorrem no corpo humano, a psicologia não se incumbe mais de investigar a alma e sua fisiologia natural, em harmonia com o Logos e destinada a ele. Assim nasceu a psicofisiologia e, portanto, a psicologia moderna.

Em vez de estudar o indivíduo, os processos fisiológicos mensuráveis que ocorrem no corpo humano, a psicologia não se incumbe mais de investigar a alma e sua fisiologia natural, em harmonia com o Logos e destinada a ele.

O senhor pensa que o abandono da alma humana tenha dado início à explosão da neurose que caracteriza o mundo moderno?

É a opinião do cardeal Danneels, expressa em um livreto dourado (Godfried Danneels, A fé cristã e as feridas do homem contemporâneo, Piemme, Casale Monferrato [AL] 1985), que eu compartilho.

Página seguinte