| ENTREVISTA |

O Acre visto por dentro

Nosso entrevistado: Dr. Assuero Veronez

Visão de conjunto da situação do Acre, com um grande e rico potencial de muita prosperidade, mas ‘engessado’ por ONGs (indigenistas) e movimentos da ‘esquerda católica’ (miserabilistas), que travam o desenvolvimento do Estado.

“Dom Moacyr Grechi foi um dos idealizadores das CEBs e do CIMI. Era da turma de Dom Balduíno e Dom Casaldáliga, e influenciou para o fortalecimento da questão indígena em contraponto à ocupação do Acre”


Paulista de Igarapava, o veterinário formado pela USP, Assuero Veronez mudou-se há 42 anos para o Acre, atendendo ao chamado de defesa da Amazônia — ‘ocupar para não entregar’. Muitos pecuaristas migraram para o Acre à procura de terras boas, documentadas, e com perspectiva de saída para o Pacífico.

Hoje, Dr. Veronez é Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre. Entrevistado por Paulo Henrique Chaves e Nelson Ramos Barretto, colaboradores de Catolicismo, fez com lucidez e calma um Raio-X do Estado adotado por ele.

Esclareceu como o Acre deixou de pertencer à Bolívia e passou a integrar o Brasil, no começo do século passado, para nos prover de borracha. Os seringueiros brasileiros, subindo os rios, foram adentrando na Amazônia sem distinguir as terras fronteiriças com a Bolívia. Ocuparam vasta região; e quando a Bolívia quis expulsá-los da área, já era tarde demais.

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Existem mesmo milhares de ONGs na Amazônia?

Existem, aqui é o paraíso delas. ONGs que não prestam contas, não se sabe o que fazem nem para onde vão esses recursos – verdadeiras caixas-pretas. Com 20 anos de PT no governo estadual, com restrição de investimento, e gente criando todo tipo de problemas, o Acre perdeu o bonde da história. Tínhamos o direito de desmatar apenas 20% das propriedades, mas era impossível obter uma licença para esse desmate. A história se vinga de quem não a acompanha. Antes, a proibição não passava de uma Medida Provisória, depois virou lei e se consolidou no Código Florestal. Agora será muito difícil mudar isso; mas é a nossa luta, pois um absurdo inaceitável é uma reserva de 80% numa propriedade.

Como se deu a passagem de território da Bolívia para o Brasil?

Houve muita resistência dos bolivianos. Mas, até contrariando os interesses do governo brasileiro, houve um embate local sob o comando de um gaúcho, Plácido de Castro, resultando na vitória dos brasileiros. Mais tarde, com o Tratado de Petrópolis, negociado pelo Barão do Rio Branco, o Brasil ficou com o Acre pagando dois milhões de libras esterlinas, mais a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Dizia-se que os índios desmanchavam à noite o que era feito de estrada durante o dia. Assim o Acre foi conquistado.

O senhor pode esclarecer a questão da documentação das terras?

Enquanto bolivianas, as terras já estavam privatizadas, e a cadeia dominial advém de um título boliviano para os seringalistas. Seus documentos são de uma época em que na Amazônia quase não os havia, pois as terras eram públicas. Nós pecuaristas procurávamos terras férteis, legalizadas, clima propício. O Acre, apesar de ter naquela época uma capital ainda carente de recursos, já contava com todos os serviços públicos. As terras adquiridas se achavam no entorno de Rio Branco. Foi um salto para a pecuária acreana.

Então a ocupação do Acre se deu antes de Mato Grosso e Rondônia?

Com efeito, deixamos de ocupar o norte do Mato Grosso, que na época era um vazio demográfico e não se poderia obter documento das terras. Então pulamos Rondônia e viemos para cá. O Acre era 100% de florestas. As pastagens começaram a ser abertas nessa ocasião, início da década de 1970.

Quanto do Acre já foi desmatado para pastagens?

Apenas 14% de sua área. Quando começamos a abrir aqui, havia mais pastagens do que em Rondônia. Devido aos problemas já apontados, hoje temos apenas 2 milhões de hectares abertos, enquanto Rondônia vai para 9 milhões. O rebanho aqui é pouco mais de 3 milhões de cabeças, e Rondônia tem quase 15 milhões...

Por que tão grande descompasso?

Depois do governador Wanderlei Dantas veio outro contrário ao interesse da migração de pecuaristas, e fez de tudo para impedir o avanço da pecuária no Acre. Não era ainda o PT, mas um governador

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