| MATÉRIA DE CAPA |
Teresinha Setúbal: adolescente paulista morta em odor de santidade
Plinio Maria Solimeo
Às 10 horas da manhã do dia 31 de outubro de 1938 falecia em São Paulo uma adolescente de 14 anos. Fato que seria sem importância transcendental se Maria Teresa — ou Teresinha, como era chamada — não tivesse morrido em odor de santidade. Era filha do famoso advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista Paulo Setúbal, membro da Academia Brasileira de Letras.
Os surpreendentes fatos da vida desta menina permaneceram desconhecidos do público por mais de 70 anos, considerados como "segredo da família Setúbal". Por uma feliz série de coincidências, chegou às minhas mãos uma cópia das anotações sobre Teresinha, feitas por sua mãe por expressa determinação do seu confessor, Cônego José de Melo. A família concedeu-me licença para revelar o seu conteúdo.
Completando na própria carne o que falta aos sofrimentos de Cristo
Depois que Nosso Senhor padeceu e morreu na cruz para nos salvar, nada há de mais precioso no mundo que sua cruz. E isso com tudo o que ela significa de sofrimentos e tribulações. Pois Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou: "Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt 16, 24).
Por isso os santos consideram o sofrimento como um ‘oitavo sacramento’. Aceito com espírito sobrenatural, ele nos une a Nosso Senhor e ao que Ele sofreu por nós, como diz São Paulo: "Completo em minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja" (Cl 1, 24). Quer dizer, "Cristo, portanto, deve ainda sofrer nos seus membros, no seu Corpo místico; e enquanto este não tiver alcançado a medida dos sofrimentos fixados por Deus, pode-se dizer que ainda falta alguma coisa à Paixão de Cristo".1
O nosso mundo ateizado e amante dos prazeres não o compreende, e tem verdadeiro horror ao sofrimento. Pois, como diz ainda São Paulo, "a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem; mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina" (1 Cor 1, 18). Por isso, acrescenta: "Quanto a mim, não pretendo jamais me gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gl 6, 14), porque "tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rm 8, 18).
É por essa razão que Deus Nosso Senhor suscita em todas as épocas almas que se oferecem ao Eterno Pai como vítimas expiatórias, para associar seus sofrimentos aos de Cristo Jesus, por sua Igreja. Só assim se pode compreender que tantas almas inocentes sofram tanto nesta terra, aparentemente sem nenhum motivo.
Teresinha Setúbal foi uma dessas almas de escol. E apenas sob este prisma podemos entender a razão dos sofrimentos inauditos e da "paixão" dolorosa dessa adolescente, falecida com tão pouca idade.
Ardente apologia da Fé e da Pureza
Paulo Setúbal nasceu em Tatuí, no interior de São Paulo, no dia 1º de janeiro de 1893. Órfão de pai aos quatro anos, fez seus primeiros estudos em sua cidade natal. Mudando-se para São Paulo, cursou o ginasial no Colégio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas. Em sua adolescência recebeu as más influências dos colegas de seu irmão mais velho, ateus e debochados. Assim desencaminhou-se e perdeu a fé.
Depois de várias vicissitudes, casou-se com a virtuosa Da. Francisca de Sousa Aranha, com quem teve três filhos: Maria Vicentina, Olavo Egídio e Maria Teresa. A caçula nasceu no dia 23 de abril de 1924, em São Paulo. Da. Francisca foi o instrumento de que a Divina Providência se serviu para trazer o célebre escritor de volta à Igreja. Paulo Setúbal faleceu prematuramente aos 44 anos, de tuberculose, no dia 4 de maio de 1937. Escrevia então a história de sua conversão, que não pôde concluir.
Sobre Confiteor, livro póstumo do grande
Página seguinte