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| INTERNACIONAL |
Vitória conservadora no Equador leva decepção às esquerdas na América Latina
Santiago Fernández
Campanha de Tradição e Ação na cidade de Cuenca: "Buzine contra o socialismo".
A eleição presidencial equatoriana surpreendeu as esquerdas latino-americanas. O candidato conservador Guillermo Lasso, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, venceu com folga no segundo turno, quase triplicando seu eleitorado em relação ao primeiro turno com a adesão de jovens e indígenas.1 Só restou a Andrés Arauz reconhecer a humilhante derrota. Ele era o candidato das esquerdas bolivarianas, preferido dos petistas brasileiros e pau-mandado do ex-presidente Rafael Correa, hoje foragido e procurado pela Justiça por corrupção.
O cocaleiro Evo Morales havia profetizado com euforia a vitória da esquerda: "Voltaremos ao projeto integracionista da Pátria Grande de Chávez, Néstor Kirchner, Lula e Correa; renascerá a Unasur, integrar-se-á aos povos, surgirá a América Plurinacional" — em referência a futuras ‘nações indígenas’. Eis aí uma ‘profecia’ (melhor diríamos ‘pretensão’) muito de acordo com o desejo de altos eclesiásticos no Sínodo da Amazônia, ‘companheiros’ que também cultuam a Pachamama.
Morales não errou somente em relação ao Equador, pois também na Bolívia seus candidatos perderam as eleições provinciais. E para piorar ainda mais, não passou para o segundo turno a peruana Verónika Mendoza, candidata do Grupo de Puebla (GP), que reúne os líderes das esquerdas latino-americanas. Segundo o jornal argentino "La Nación",2 foi difícil às esquerdas do GP assimilar a fragorosa derrota nas urnas, que "as afundou no desconcerto", só lhes restando aguardar um eventual retorno de Lula no Brasil e um triunfo de Gustavo Petro na Colômbia.3
O temor no ninho esquerdista
O presidente argentino Alberto Fernández e o então vice-presidente espanhol Pablo Iglesias haviam apostado no populista revolucionário do Equador; inquietantes rumores falavam de hackers enviados de Cuba e Venezuela para fraudar os resultados; Rafael Correa nunca perdera uma eleição desde 2007. Tanto Caracas como Havana, empolgadas com os resultados das pesquisas, prenunciavam a vitória como o primeiro grande avanço do ano; e depois viriam Peru, Nicarágua, Haiti, Honduras e Chile.4 O GP preparava a festa de posse no palácio presidencial em Quito, com a presença do ditador venezuelano Nicolás Maduro. O juiz ativista de esquerda espanhol, Baltasar Garzón, instalou-se na capital para acompanhar o processo eleitoral, embora alertando seus camaradas sobre a reviravolta perceptível do eleitorado.
Compreende-se a frustração. Diante da derrota no Equador e da perda de dois terços dos governos provinciais na Bolívia, Evo Morales quebrava a cabeça diante de algumas perguntas: "Por quê? O que aconteceu? O que faremos?". Em Caracas, bem como nas esquerdas em geral, decretou-se silêncio sobre os fatos, enquanto o presidente opositor, Juan Guaidó, comemorava o abalo das "ditaduras como a de Maduro". Lasso mandou convidá-lo para sua posse.6
Decepção e fúria de Rafael Correa
O que teria produzido a reviravolta entre o primeiro e o segundo turno, quando tudo parecia decidido em favor do candidato das esquerdas? Deixemos a resposta para o ex-presidente Rafael Correa. Em 31 de dezembro de 2019 ele passou a trabalhar na televisão russa RT, financiada por Putin. De seu exílio dourado na Bélgica, no programa "Conversando com Correa" e na sua conta no Twitter, ele vituperou durante a campanha os jovens da Sociedade Equatoriana Tradição e Ação Pro Cultura Ocidental, cuja foto exibia com desprezo: "Pobre gente! Estão na Idade Média!" [acima]. Na foto, os jovens ostentavam suas tradicionais capas vermelhas e portavam um estandarte da mesma cor, no qual se via no alto uma grande cruz, e no
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