P.38-39
| VIDAS DE SANTOS |
São Pacômio
Plinio Maria Solimeo
Eremita e Confessor, instituiu a vida cenobítica entre os monges do deserto e lhes prescreveu uma regra; recusou por humildade o sacerdócio e se tornou o patriarca dos monges que levam vida em comum.
São Pacômio divide com Santo Antão a honra de ter instituído a vida cenobítica no Egito. Ao contrário dos eremitas ou anacoretas, que se afastavam do contato do mundo para melhor buscar Deus, o cenobita vivia em comunidade, sob uma regra, obedecendo a um superior. Pacômio foi o primeiro a fixar por escrito suas regras.
Nascido por volta de 292 em uma pequena vila nos arredores de Kénèh, em Kénoboskion (atual Nag Hammadi), no Alto Egito, era filho de pais pagãos supersticiosos e idólatras, mas desde a infância mostrou-se muito refratário ao paganismo, fazendo jus a seu nome – que em copta, língua na qual foi educado, quer dizer grande águia ou falcão do rei.
Santa Catarina de Alexandria
Pacômio apenas saía da adolescência, e ainda era pagão quando foi alistado à força nos exércitos de Maximino Daia (308-313). Esse imperador renovou as perseguições aos cristãos após a publicação do édito de tolerância de Galério.
Eusébio de Cesareia afirma que Daia tomou-se de uma ‘paixão insana’ por uma jovem cristã, a futura mártir Santa Catarina de Alexandria, notável por sua nobreza, riqueza, educação e castidade. Quando Catarina repeliu seus avanços, mandou matá-la cruel e lentamente com pontas de ferro. Não surtindo efeito, mandou decapitá-la e apossou-se de toda a sua fortuna.1 Muito popular na Idade Média, essa santa foi uma das ‘vozes’ de Santa Joana d’Arc.
Caridade dos cristãos leva à conversão
Estando no exército, Pacômio foi feito prisioneiro em Tebes. Durante o cativeiro era confortado pelos cristãos locais, que o desconheciam, sendo por eles alimentado em segredo. Tocado por essa dedicação desinteressada a um estranho, perguntou a um deles quem lhe mandava fazer aquilo, e foi informado de que era o Deus que está nos céus. Nessa noite o prisioneiro rezou com os cristãos para esse Deus, sentindo-se inclinado a seguir tão bela doutrina.
Quando ficou livre, voltou para o Egito e se fez batizar. Ainda incerto sobre o rumo a tomar, pôs-se a serviço de uma comunidade cristã, o que lhe permitiria praticar a caridade com a qual fora tratado por seus seguidores durante a prisão. Mas isso não o satisfazia, pois queria dedicar-se inteiramente a Deus. Foi então informado de que um ancião chamado Palimão servia a Deus no deserto. Foi à procura dele e se colocou sob a sua direção.
De São Palimão, diz o Martirológio Romano Monástico no dia 11 de janeiro: "Na Tebaida, cerca de 330, São Palimão eremita, que iniciou São Pacômio na vida monástica e lhe deu os seus princípios fundamentais: vigiar e orar no jejum e na solidão".
Instituição da vida cenobítica
Nessa época os eremitas se retiravam frequentemente, durante algum tempo, para um lugar solitário, de onde voltavam de tempos em tempos à sua antiga morada. Com São Pacômio ocorreu outra coisa, pois ele ouviu em Tabenesse, no deserto, uma voz misteriosa que lhe disse: "Pacômio, permanece aqui e funda um mosteiro". Enquanto meditava sobre essas palavras, um anjo lhe apareceu e disse: "Pacômio, eis a vontade de Deus: servir o gênero humano e o reconciliar com Deus". Compreendeu então que para isso não devia viver só e isolado, mas com outros, pois o anjo acrescentou que "muitos, ansiosos de abraçar a vida monástica, virão para cá". Isto significava substituir a vida eremítica pela cenobítica, ou seja, a vida isolada na solidão pela vida em comunidade.
Primeiro cenóbio
Foi assim que, encorajado por São Palimão, Pacômio fundou com três companheiros a sua primeira comunidade, aproximadamente no ano 320.
Os candidatos começaram a aparecer. O primeiro foi seu irmão mais velho, e depois surgiram outros. Entretanto, todos visavam inicialmente seguir a vida eremítica, só que com algumas pequenas alterações sugeridas por Pacômio, como as refeições em comum.
Agiu com muita sabedoria em relação aos primeiros monges que almejavam uma vida um tanto eremítica. Procurava que os cuidados da vida cenobítica não lhes fossem empurrados muito abruptamente, por isso encarregou-se dessa parte, permitindo-lhes que dedicassem todo o tempo que quisessem aos exercícios espirituais.
Aos poucos foram construídos em redor do primeiro núcleo algumas habitações e um oratório, cercados por um muro. Foi assim que nasceu o mosteiro de Tabenesse, às margens do Nilo, entre a grande e a pequena Tebaida.
Esse mosteiro era duplo, pois Maria, a irmã de Pacômio, fundou uma comunidade de monjas na margem oposta do rio. O santo deixou indicações para os monges e as monjas que viviam sob sua regra. Entre elas, a de que os homens deveriam encarregar-se dos trabalhos materiais, e as mulheres da confecção de vestes e funções domésticas do mosteiro.
Esse tipo de organização dupla tornou-se depois popular no Oriente no tempo do cenobismo cristão, pela necessidade de as monjas terem monges na proximidade para celebrar os ofícios divinos e distribuir os sacramentos.
Organização dos mosteiros
São Pacômio era bom administrador. Com o aumento do número de monges, dividiu-os em gru-
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