| SOS FAMÍLIA | (continuação) que foram apontadas. No entanto, considerados em si mesmos, esses instrumentos podem se prestar ao uso útil, sério, necessário, quando feito moderadamente e sem os abusos aos quais também se prestam. Entre os muitos efeitos de uma guerra, como um exemplo analógico, pode ser destacado o conjunto de ruídos ensurdecedores produzidos por bombas, aeronaves, canhões, tanques de guerra e toda a parafernália, que no entanto é indispensável para enfrentar e derrotar o inimigo. Além das mortes, destruições e outros prejuízos conhecidos, constam também no campo médico as neuroses de guerra e outros males como endemias, epidemias e pandemias, muitas das quais surgiram depois das guerras, como suas consequências diretas ou indiretas. E grandíssima parte dos atingidos nem sequer participou do esforço de guerra. O mesmo se pode dizer sobre outros utensílios aceitos e de uso generalizado, como computadores, celulares, televisões, rádios, automóveis. A decisão de utilizar ou não tais instrumentos úteis, mas potencialmente perigosos para os incautos, cabe portanto a cada um.

Lucidez e coerência em usar e não usar

Sobre este assunto, transcrevemos a seguir um comentário esclarecedor do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Como se verá, ele sempre foi adepto incondicional da calma, de períodos de silêncio, da reclusão voluntária para pensar tranquilamente. Mas nunca deixou de utilizar — sempre que necessário para combater a Revolução — instrumentos que também são úteis à Revolução. E o fazia recomendando a mesma atitude aos seus seguidores, como também o fez no seu livro "Revolução e Contra-Revolução": "Tender para os grandes meios de ação — Em princípio, é claro, a ação contra-revolucionária merece ter à sua disposição os melhores meios de televisão, rádio, imprensa de grande porte, propaganda racional, eficiente e brilhante. O verdadeiro contra-revolucionário deve tender sempre à utilização de tais meios, vencendo o estado de espírito derrotista de alguns de seus companheiros que, de antemão, abandonam a esperança de dispor deles porque os veem sempre na posse dos filhos das trevas" (parte II, cap. VI, 1). Estas diretrizes, que Plinio Corrêa de Oliveira praticou eximiamente ao longo de toda a vida e recomendou aos seus seguidores em sua obra-prima, não contradizem em nada a vida plácida, pacífica, estável e tranquila que também levou e recomendou aos seus seguidores em conferência de 28-2-1991: "Em geral, as iluminuras da Idade Média representam o operário trabalhando no seu métier, a dona de casa cozinhando ou costurando, ou o calígrafo desenhando uma letra, com algo que eu não me farto de admirar: o sossego, a estabilidade, a tranquilidade e o gosto de viver; fazendo o mesmo trabalho que leva dias, meses, às vezes anos; sem pressa, contanto que saia perfeito. "Sem esse estilo de vida, o mundo enlouqueceria. O pequeno burguês, o operário qualificado ou não, o pedreiro medieval podiam passar anos cinzelando uma coluna, sem pressa, sem aflição. Paravam o trabalho na hora de rezar o Ângelus, iam para casa, encontravam a mulher preparando o jantar. Sentavam-se, os filhos se punham em torno deles, calçavam uns chinelões e contavam histórias da família, dos antepassados, da região; liam um trecho da Escritura, da vida dos Santos. "Essa estabilidade eu ainda peguei muito, porque em frente de minha casa, na Rua Barão de Limeira, havia um renque de casas operárias misturadas com as casas das melhores famílias de São Paulo. Eu achava a vida deles muito mais sossegada do que a nossa. E eu, que sou amigo do sossego, suspirava: ‘Afinal, eles lá ficaram com o melhor da vida’. "O medieval compreendia o nexo do mais alto e sobrenatural com o menor, com coisas sem importância. Uma dona de casa preparava as malas para ir passar uma temporada na casa de uma prima, lembrando de Nossa Senhora indo visitar Santa Isabel, num ambiente densamente impregnado de aroma sobrenatural".5 * * * Quando concluí a leitura deste texto de Dr. Plinio, perguntei-me se não estou num mundo insano de teletrabalho, videoconferências, comunicação digital, pandemias, lockdowns, políticos corruptos, crises econômicas etc. E pensei: Como seria bom estar junto a um camponês, um burguês ou um castelão, imerso naquela imensa paz e perfume sobrenatural da vida medieval. Mas para chegarmos a algo pelo menos parecido com isso, temos de empreender esforços gigantescos a fim de derrotar a Revolução gnóstica e igualitária. Sem menosprezar os recursos que a própria técnica revolucionária coloca ao nosso alcance.
Legendas da página:

– Quando videoconferências, teletrabalho e sistemas semelhantes de home office substituem o relacionamento humano, as pessoas sofrem de exaustão e até de esquizofrenia.
– O sossego, a estabilidade, a tranquilidade e o gosto de viver, caraterísticas da sociedade em geral durante a Idade Média.
Notas: 1. https://www.folhape.com.br/noticias/videoconferencias-e-excesso-de-chamadas-causam-exaustao-na-pandemia/143760/ 2. https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2020/06/como-videochamadas-podem-te-deixar-emocionalmente-exausto.html 3. https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/08/por-que-todo-mundo-esta-exausto-de-conversar-por-video.htm 4. https://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,videochamadas-sao-uma-usina-de-exaustao-e-estudo-mostra-os-motivos,70003646089 5. Plinio Corrêa de Oliveira, conferência em 28-2-91. Sem revisão do autor.
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