P.04-05 | EDITORIAL |

A estética do universo aplicada a Nossa Senhora

A Cristandade pode ser considerada como uma civilização sacralizada, composta por uma família de nações cristãs cujos membros — mesmo aqueles que não pertencem a uma Ordem religiosa — procuram impregnar a esfera temporal com o espírito da Santa Igreja. E também viver na sociedade civil de modo hierárquico, sempre de acordo com a sapiencial ordem estabelecida por Deus em todas as coisas, criadas harmonicamente desiguais. Em tal ambiente sacral, contemplando as criaturas visíveis, os homens têm maior propensão a elevar suas mentes a Deus. Pela admiração das criaturas que vemos, podemos mais facilmente chegar ao Divino Criador que não vemos, porquanto os objetos criados refletem as insondáveis e invisíveis perfeições divinas. Sendo a Santa Mãe de Deus a obra-prima da Criação e síntese de todas as perfeições da ordem e da estética do universo, podemos mais facilmente, enquanto A veneramos, chegar a compreender, amar e adorar a Perfeição absoluta que é Deus. Como leigos devotos da Santíssima Virgem, devemos prestar a Ela um ato de vassalagem, consagrando-nos inteiramente como seus verdadeiros vassalos, além de procurar organizar a sociedade temporal, mesmo no âmbito limitado de cada um, para que esteja sempre voltada para a maior glória de Deus e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Desse modo, estaremos trabalhando para a restauração de uma civilização autenticamente cristã, que se esforce para ser na Terra um reflexo do Céu. Em resumo, esta é a principal temática desenvolvida na matéria de capa desta edição, na qual celebramos Nossa Senhora do Carmo, principal comemoração de julho, cuja festa é fixada no dia 16. Neste mês completam-se também 770 anos desde que São Simão Stock (1164-1265), Prior Geral da Ordem do Carmo, recebeu em 16 de julho de 1251 o santo escapulário diretamente das mãos da Soberana Senhora do Monte Carmelo, berço da Ordem Carmelitana.
| PALAVRA DO SACERDOTE |

O polêmico tema da Inquisição

Padre David Francisquini Pergunta — É muito comum não católicos — e também católicos progressistas — criticarem a Igreja citando a Inquisição como uma grande mácula de seu passado. Sei que o assunto é delicado, mas se tivermos maior conhecimento dessa instituição e daquele período da História, poderemos defender melhor nossa Igreja Católica.
Resposta — Como o próprio leitor afirma, a questão da Inquisição é delicada de tratar, pois historiadores e propagandistas anticatólicos espalharam uma verdadeira "legenda negra" em torno dela, semelhante à difundida contra Portugal e Espanha pela conquista e evangelização da América. Torna-se difícil, portanto, tratar da Inquisição sem levantar uma verdadeira algazarra, alimentada por preconceitos ideológicos, inverdades históricas e exageros. Para uma avaliação serena e equilibrada da questão é preciso, de um lado, remontar aos princípios teológicos; e de outro, descrever adequadamente o contexto histórico no qual os Papas designaram inquisidores para julgar as causas de heresia e sancionar os culposos. A primeira tarefa é hoje dificultada pelo fato de que o homem moderno, especialmente depois do iluminismo do século XVIII, deixou de compreender a Revelação como algo objetivo, como um dom de Deus, portanto fora do domínio do livre julgamento privado. Daí a conclusão errônea de que a religião é um assunto estritamente pessoal, podendo cada um ter a religião que quiser, ou mesmo não ter nenhuma. Por causa desse relativismo religioso, o homem moderno não aceita também que o Deus da Revelação tenha instituído uma única Igreja verdadeira para levar as almas ao Céu pela pregação da Boa-Nova, cujo primeiro e mais importante dever é precisamente o de manter imaculado este depósito original da fé, requisito fundamental da salvação eterna. De onde a necessidade de combater as heresias. Na Antiga Lei essa obrigação de preservar a integridade da fé no único Deus verdadeiro e do seu culto era surpreendentemente rigorosa. Lemos no Deuteronômio: "Se se levantar no teu meio um profeta ou um visionário, anunciando-te um sinal ou prodígio, e suceder o sinal ou o prodígio que anunciou e te disser: ‘Vamos, sigamos outros deuses — que te são desconhecidos — e prestemos-lhes culto’, tu não ouvirás as palavras desse profeta ou desse visionário; porque o Senhor, vosso Deus, vos põe à prova para ver se o amais de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Seguireis o Senhor, vosso Deus, e o temereis; observareis seus mandamen- Legenda da página: Os Mártires de Elicura, Chile, foram os missionários jesuítas: Martín de Aranda Valdívia, Horácio Vecchi e Diego de Montalbán, junto com alguns caciques mapuches, no dia 14 de dezembro de 1612. Sacrifício exigido pela Conquista da América para o avanço do Cristianismo. Página seguinte