| INTERNACIONAL | (continuação)
Na Igreja, poucas vozes claras e muitas omissões
Um último ponto, em certo sentido o mais importante, é a triste omissão de grande parte dos pastores da Igreja abstendo-se de ensinar ao rebanho de Jesus Cristo a incompatibilidade entre catolicismo e socialismo, justamente em um momento histórico em que isso era essencial. Mas uma clara e forte reação anticomunista foi sentida em vários setores do clero. Até alguns bispos, incluindo o Arcebispo de Arequipa [Foto], a segunda maior cidade do país, se manifestaram abertamente contra o comunismo, lembrando aos fiéis que o Magistério da Igreja o condena. Alguns até evocaram a excomunhão declarada pelo Papa Pio XII, em 1949, contra aqueles que apoiavam o comunismo.
A Conferência Episcopal Peruana emitiu uma nota oficial declarando: "A Igreja sempre rejeitou e condenou o comunismo", mas lamentamos não ter havido a divulgação necessária. O YouTube encheu-se de vídeos em que sacerdotes alertam contra o perigo comunista, tornando presente a doutrina católica a esse respeito.
Um caso paradigmático foi o manifesto anticomunista publicado no Facebook por jovens seminaristas do Seminário Maior de São Toríbio, na capital peruana. Embora tenha sido imediatamente retirado pelos superiores, o texto continuou a circular nas redes sociais, indicando que algo muito profundo está acontecendo no clero do Peru.
As duas principais nomeações do Papa Francisco merecem menção especial: o Emmo. Cardeal Pedro Barreto, Arcebispo de Huancayo, e o Exmo. Dom Carlos Castillo, Arcebispo de Lima. Vários observadores têm apontado como as posições de ambos, nos últimos anos, tendem a coincidir com as da "esquerda católica". Muitos consideram que o primeiro favoreceu indiretamente o voto de esquerda.2 O segundo advertiu que nenhum candidato poderia ser excluído a priori ou demonizado; omitindo, é claro, que o comunismo é "intrinsecamente mau".
Omissões e meias palavras contribuíram para que o polo de esquerda atraísse muitos católicos desavisados, bem como aqueles afetados pelo orgulho igualitário e pela inveja. A maioria dos pastores não parece preocupada com o mal que o lobo pode fazer às ovelhas.
A esquerda não dominará facilmente o povo peruano
Embora o resultado ainda esteja tecnicamente em suspenso, o predomínio da esquerda a favor do candidato marxista é evidente. Entretanto, um eventual governo de Pedro Castillo terá que enfrentar uma reação anticomunista muito forte, visível até mesmo entre o clero. Cada passo em direção ao socialismo terá a oposição de uma opinião pública cada vez mais convencida de que este é o caminho errado, não só politicamente, mas também — e sobretudo — teologicamente. ■
Notas
1. https://www.atfp.it/notizie/306-analisi/1930-l-america-latina-si-tinge-di-rosso-con-l-aiuto-del-progressismo-cattolico-2
2. Já em 2019, o Cardeal havia afirmado que "a Força Popular nunca quis o bem do Peru, isso deve ser dito com clareza". Quando, por insistência de um jornalista do "Expreso", falou sobre a questão subjacente, disse: "O comunismo é condenado pela Igreja como um sistema perverso, assim como o capitalismo. O Papa Francisco e João Paulo II condenaram o capitalismo com palavras muito duras". No entanto, omitiu que a condenação da Igreja não é dirigida ao próprio sistema capitalista, mas aos pecados humanos que às vezes são praticados sob a sua proteção. O comunismo, pelo contrário, foi condenado em si mesmo.
| AUTODEMOLIÇÃO DA IGREJA |
Reabilitação de padre guerrilheiro?
Gustavo Solimeo
Camilo Torres, modelo e inspiração do MST, dos dominicanos envolvidos na guerrilha urbana e para a luta armada "em nome do Evangelho"
Há rumores de iminente reabilitação (e beatificação?) do padre colombiano Camilo Torres, morto em 1966, lutando com armas na mão nas fileiras do movimento guerrilheiro marxista Exército de Libertação Nacional (ELN). (1)
Na base desses indícios estaria a admiração do Papa Francisco em relação a bispos e padres revolucionários: ele perdoou e readmitiu ao sacerdócio os revolucionários nicaraguenses Miguel d’Escoto e Ernesto Cardenal; anunciou sua intenção de beatificar D. Hélder Câmara; na sua viagem à Bolívia em 2015, elogiou o Padre Luis Espinal Camps, autor do crucifixo com a foice e o martelo, presenteado por Evo Morales ao Papa Francisco. (2)
À vista disso, "muitos na Colômbia esperam que Torres também seja totalmente reabilitado o mais rapidamente possível". (3) O site de esquerda Rebelión considera isso possível, com "a abertura de novos espaços realizada pelo papa Francisco". (4)
Afinal, quem foi Camilo Torres? Vejamos resumidamente a trajetória revolucionária desse desventurado sacerdote que trocou a cruz pelo fuzil.
Atração pelo catolicismo social progressista
Jorge Camilo Torres Restrepo nasceu em Bogotá em 1929, de família rica, liberal e agnóstica. Influenciado pelas ideias de dois padres dominicanos france-
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