| VERDADES ESQUECIDAS |

Tradiçao não é apego ao passado, mas caminho para frente

Trecho do discurso do Papa Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana, em 19 de janeiro de 1944 "As coisas terrenas fluem como um rio no alvéolo do tempo: o passado cede necessariamente o lugar e o caminho ao porvir, e o presente não é senão um instante fugaz que vincula um e outro. É um fato, um movimento, uma lei; não é um mal em si. O mal seria se esse presente, que deveria ser uma onda tranquila na continuidade da corrente, chegasse a se tornar uma tromba marinha, convulsionando todas as coisas como um tufão ou ciclone no seu avançar, escavando com fúria destruidora e voraz um abismo entre o que passou e o que está por vir. "Tais saltos desordenados, que a História faz em seu curso, constituem e determinam então o que se chama uma crise, ou seja, uma passagem perigosa que pode conduzir à salvação ou à ruína irreparável, mas cuja solução está ainda envolta em mistérios, dentro das nuvens negras das forças em choque. "Patriciado e nobreza, vós representais e continuais a tradição. Esta palavra, como bem sabeis, soa desagradavelmente a muitos ouvidos. Ela desagrada com razão quando pronunciada por certos lábios. E são exatamente os lábios, dizemos nós, daqueles que quereriam conservar o passado numa imobilidade impossível. "Muitos espíritos, mesmo sinceros, imaginam e creem que tal tradição não seja mais do que a lembrança, o pálido vestígio de passado que não existe mais, que não pode voltar, e que, quando muito, é com veneração — e, se vos agrada, com gratidão — relegado em um museu. "Mas a tradição é muito diferente de um simples apego ao passado já desaparecido. É justamente o contrário de uma reação que desconfia de todo são progresso. O próprio vocábulo é etimologicamente sinônimo de caminho e marcha para a frente; sinônimo, e não identidade. Com feito, enquanto o progresso indica somente o caminho para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranquilo e vivaz, de acordo com as leis da vida. "Por força da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência dos anciãos, avança com passo mais seguro, e a velhice transmite e entrega confiantemente o arado a mãos mais vigorosas, que continuam o sulco já iniciado. Como indica seu nome, a tradição é um dom que passa de geração em geração; é a tocha que o corredor a cada revezamento põe na mão e confia a outro corredor, sem que a corrida pare ou diminua de velocidade. Tradição e progresso reciprocamente se completam com tanta harmonia que, assim como a tradição sem progresso se contraria a si mesma, assim também o progresso sem tradição seria um empreendimento temerário, um salto no escuro".
| VIDAS DE SANTOS |

SÃO BERNARDINO REALINO

Exerceu vários cargos de responsabilidade como advogado, e abandonou a profissão para se tornar jesuíta, dedicando a maior parte de sua vida como pároco Plinio Maria Solimeo São Bernardino Realino, o primeiro dos três santos e dois beatos celebrados pela Companhia de Jesus no dia 2 deste mês, nasceu no dia 1º de dezembro de 1530 na ilha de Capri (Itália), da nobre linhagem dos Realino, e é pouco conhecido no Brasil. Sua primeira educação esteve a cargo da mãe, que contratava professores para irem à sua casa, porquanto o pai, estribeiro-mor de várias cortes da Itália, se via obrigado a ausentar-se muitas vezes de casa. Contudo, muito cedo Deus veio pedir ao menino o sacrifício dessa mãe, que lhe era tão necessária. Bernardino terminou aos 12 anos seus estudos clássicos na Academia de Modena — então um dos mais ilustres centros culturais da Itália — dedicando-se à literatura. Seis anos depois, em 1448, começou a estudar Filosofia e Medicina em Bolonha. No meio do curso, para fazer a vontade de Clorinda, jovem com quem pretendia casar-se, mudou para o curso de Direito. Doutorou-se em Direito Civil e Canônico em 1556, aos 26 anos. Seu pai era um dos colaboradores do Cardeal Cristóforo Madruzzo. Enquanto exercia o cargo de governador de Milão em nome de Felipe II da Espanha, o cardeal tomou o jovem advogado sob a sua proteção, e assim Realino entrou para o campo do ofício público. Ressalte-se na Página seguinte