| VIDAS DE SANTOS | (continuação)
para nobres, comerciantes, artífices e estudantes. Em 1583 ele resolveu levar avante um sodalício, para incrementar no clero as virtudes sacerdotais e o estudo da teologia moral, a fim de que os sacerdotes pudessem tornar-se melhores confessores.
Possuidor dos dons da cura e do conselho, era muito solicitado como confessor. Continuou em Lecce até sua última doença, dando-se generosamente a todos que buscavam seu conselho. Formavam-se grandes filas diante do seu confessionário, tanto de gente simples quanto de sacerdotes, e até de príncipes. Sua fama era tão grande, que bispos, príncipes e cavalheiros iam àquela cidade ‘para ver o Santo’. O Papa Paulo V, o imperador Rodolfo II, o rei Henrique IV de França, os Duques da Baviera, Mântua, Parma e Modena, todos lhe escreviam pedindo orações.
São Roberto Belarmino não conhecia Bernardino, e quando o encontrou pôs-se de joelhos diante dele. Em seguida os dois se abraçaram, compreendendo cada um a santidade do outro.
Patrono ainda em vida
Uma queda grave sofrida em 1610 deixou-lhe duas feridas nas pernas, que nunca cicatrizaram. Não muito tempo antes de sua morte, coletou-se sangue de uma dessas feridas, colocando-o numa ampola. Depois de sua morte o sangue se liquefez, e permaneceu liquefeito até meados dos anos 1800, conforme registro.
A notícia do declínio de sua saúde, em junho de 1616, difundiu-se rapidamente. O povo se alarmou, e multidões se reuniram diante do colégio jesuíta, todos querendo oscular as mãos do moribundo e tocar objetos religiosos em seu corpo.
Os magistrados de Lecce foram visitá-lo duas vezes para propor que, de forma oficial, aceitasse ser no Céu o padroeiro da cidade. Ele já não podia falar, mas aprovou com a cabeça o compromisso de continuar a proteger o povo de Lecce, de geração em geração. Com os olhos fixos no crucifixo, e murmurando "Gesù. Ó Madonna mia santissima", entregou sua santa alma ao Criador, aos 86 anos de idade.
Quando São Roberto Belarmino teve notícia de sua morte, disse: "Eu nunca ouvi uma queixa sobre o Pe. Realino, não obstante ter sido seu provincial. Mesmo aqueles indispostos com a Sociedade [de Jesus], e que aproveitavam toda oportunidade para falar desfavoravelmente dela, sempre fizeram exceção para Realino. [...] Todo mundo sabe que ele é um santo".
O Pe. Bernardino Realino foi beatificado por Leão XIII em 1895, e canonizado por Pio XII em 1947 juntamente com o Pe. João de Brito. No dia 5 de dezembro de 1947, Pio XII confirmou o desejo do povo da cidade, proclamando-o Santo Padroeiro de Lecce. Seus restos mortais repousam na Igreja de Gesù, em Lecce.
Fontes consultadas:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/60400
https://en.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Realino
https://www.jesuits.global/saint-blessed/saint-bernardino-realino/
https://www.jesuit.org.sg/july-bernardino-realino-sj/
| POR QUE NOSSA SENHORA CHORA |
Omissões de hoje, dedicações heroicas de outrora
Paulo Henrique Américo de Araújo
Em sua história bimilenar, a Santa Igreja Católica teve de enfrentar inúmeras catástrofes e calamidades públicas. Nos desastres naturais, guerras e pestes infecciosas, o devotamento do clero e das Ordens religiosas deixou marca indelével na memória dos povos. Com tristeza somos obrigados a reconhecer que o mesmo não ocorreu nos últimos meses; pois, ao lado de casos raros de verdadeiros sacrifícios, a maioria dos membros do clero católico simplesmente se omitiu.
O Pe. Sergio Fita pediu desculpas pela omissão do clero durante a pandemia.
Na cerimônia de Quinta-feira Santa deste ano, o Pe. Sergio Fita, da Igreja de Sant’Ana, em Gilbert, Arizona (EUA), julgou conveniente apresentar um pedido de desculpas diante de seus paroquianos.1 Em declaração emocionada, deixou patenteada a vergonhosa omissão sua e de boa parte do clero durante a atual pandemia do coronavírus, quando os fiéis católicos foram privados dos sacramentos, e sobretudo dos imprescindíveis auxílios espirituais na hora da morte. Por temor do contágio, os pastores resolveram abandonar as ovelhas.
A declaração desse sacerdote traz à tona o contraste entre duas atuações do clero diante de epidemias: nos séculos passados, devotamento sem limites; nos nossos dias, negligência. A comparação é muito válida para se comprovar a seguinte lição: quanto maior a dedicação e o sacrifício dos sacerdotes, tanto maior o florescimento da fé católica. Quan-
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