| REMINISCÊNCIA |(continuação)

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Alargou a brecha a impiedade. Por falta de instrução religiosa, por injunções do ambiente, pelo sarcasmo dos amigos maus e pela ausência dos amigos bons, Paulo perdeu a Fé. Porém perdeu-a também, e cumpre não esquecê-lo, porque na sua alma não habitava mais a pureza que agrada ao Cordeiro de Deus.

Mas perdeu Paulo realmente a Fé? Ele o afirma, e eu o creio. Mas ele perdeu a Fé como a perdem os brasileiros em geral: isto é, muito menos pelo fato de inteligência mal informada no ver a verdade, do que pela recusa da vontade em praticar o bem.

E por isto este rapaz incréu, afogado na sensualidade que dele fizera uma alma gananciosa, sensual e frívola, tinha súbitos movimentos para Deus. Quando entrou para a Ordem Terceira do Carmo, e quando sentiu vocação para o Sacerdócio, que objeções lhe fez sua inteligência de incrédulo? Nenhuma. Porque, no fundo, não tinha nenhuma a fazer. Incrédulo, ele o era. Mas muito mais porque não queria crer, do que porque realmente não cresse.

Paulo Setúbal quis ser Padre! Quem haveria de o supor, lendo há 6 ou 8 anos atrás as suas obras! Mas abra-se tanto e tanto coração que por aí anda soberbo e endurecido. E diga-se depois se também ele não teve horas em que a graça de Deus o visitou no fundo do abismo, como visitou o filho pródigo quando mais duro ia o seu exílio. Aí, como no mais, o drama de Paulo Setúbal é o arquétipo do drama espiritual contemporâneo.

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Finalmente, quando sua vida declinava para o ocaso, Paulo Setúbal se converteu. Sua conversão foi profunda e sua contrição amarga.

Com que carinho de filho Paulo Setúbal se refere ao Bom Pastor que encontrou na tarde de sua vida! Quanto daria eu para saber que longas horas de conversação teve Paulo com Cristo, para poder amá-Lo com tão extremosa adoração!

É preciso ler o que Paulo escreveu de Cristo, para se avaliar a doçura do que Cristo disse a Paulo nessas longas horas de intimidade.

Mas o amor de Paulo não ficou aí. Ele se expandiu no apostolado, e a obra que ele produziu foi esse extraordinário “Confiteor”, ardente apologia da Fé e da Pureza que ele lança, do fundo da sepultura mas também do alto da glória dos justos, à mocidade de sua terra.

Com que humildade autêntica ele o fez! Com que pesar sincero! Com que amor radioso ao Coração de Jesus!

Todas as pessoas a quem a idade e outras circunstâncias permitem leituras realistas, deveriam ler “Confiteor”. Ele é um presente de Paulo Setúbal, moribundo, a todos os brasileiros, mas especialmente às almas virginais ou contritas, que vivem sob o manto da Virgem das virgens, para que amemos ainda mais o bem que praticamos, ou choremos mais o mal que fizemos.

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É curioso, mas eu, que nunca vi Paulo Setúbal, fiquei com saudades dele ao terminar a leitura de seu livro. Saudades dele e simpatia para com as figuras privilegiadas em cujo convívio ele introduz o leitor: sua santa mãe, seu professor, sua esposa, sua admirável filhinha [Teresinha, que morreu em odor de santidade – Vide Catolicismo, Nº 844, abril/2021].

É a todos eles, à memória dos que foram e à virtude dos que ficaram, que dedico este artigo. É uma homenagem sem o valor literário de outras, mas entusiástica, sincera e comovida como poucas.


LEGENDA:
Paulo Setúbal no dia de seu casamento com Francisca de Sousa Aranha.

| IN MEMORIAM |

Luis Alejandro Criollo Prieto

Luis Alejandro Criollo Prieto nasceu no ano de 1956 em Guayaquil, a cidade mais populosa do Equador, e ingressou, em meados da década de 1970, nas fileiras da TFP equatoriana, passando a participar com entusiasmo das campanhas públicas desenvolvidas pela entidade. Era de família católica, tendo duas irmãs suas se tornado religiosas concepcionistas no histórico Monastério de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Quito.

Após alguns anos de militância na TFP equatoriana, quis transferir-se para o Brasil, para conviver mais proximamente com o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, e passou a colaborar com as atividades da TFP brasileira. Trabalhou primeiramente no setor de duplas que visitavam os apoiadores da entidade em todo o território nacional. Colaboração análoga ele prestou às TFPs da Espanha e da Alemanha.

Audaz, afirmativo, extrovertido, Luis Criollo comunicava sempre animação. Incansável nas campanhas de rua, encarava os trabalhos internos com ânimo e frequente originalidade. Dr. Plinio nutria por ele particular estima, distinguindo-o sempre com um tratamento todo especial.

Sinceramente religioso, muito devoto da Santíssima Virgem, em várias ocasiões fez imprimir santinhos com pensamentos ou preces do fundador da TFP, o último dos quais — uma bela exortação para o apostolado interno e externo — distribuiu largamente.

Num cenário de desolação, mas de muita bênção, foi o quarto de cinco irmãos de ideal colhidos pela covid num curto espaço de tempo na cidade de São Paulo. Teve a graça de receber os Sacramentos e a Unção dos Enfermos na Santa Casa de Misericórdia, onde veio a entregar sua combativa alma a Deus Nosso Senhor no domingo, dia 10 de julho.


Edson Neves da Silva

Faleceu no dia 14 de julho, em São Paulo, Edson Neves da Silva, tendo dedicado a maior parte de sua longa vida de 81 anos à luta da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e, posteriormente, do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.

Natural de Lavras (MG), ele se mudou em 1959 para São Paulo, a fim de continuar seus estudos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Assessorou durante vários anos o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que enalteceu em diversas ocasiões sua dedicação, desinteresse e afabilidade no trato. Prestou longas e ingentes colaborações ao Serviço de Documentação da TFP brasileira. Atuou também no Uruguai colaborando com membros da TFP daquele país vizinho.

Guardam eterna gratidão do Sr. Edson não somente os que com ele conviveram, mas também os doentes que foram objeto de seu desvelo em Belo Horizonte. Desvelo que se estendeu nos últimos anos ao pranteado Mons. José Luiz Villac.

Como recompensa, quis Deus chamar a Si esse bom samaritano e escravo de Nossa Senhora no dia de São Camilo de Lélis, padroeiro dos doentes. Seu corpo foi sepultado no dia 15 de julho, no Cemitério da Consolação.

As almas dos fiéis defuntos pela misericórdia de Deus descansem em paz. Amém!


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