| DISCERNINDO |

Intuição brasileira e teóricos desmistificadores

Paulo Henrique Américo de Araújo

Uma pesquisa de opinião de dezembro do ano passado, realizada pela Datafolha1, apontou que 44% dos brasileiros acreditam que o País pode se tornar comunista em 2022. O número sobe para 61% entre os entrevistados que declaram sua intenção de votar em Jair Bolsonaro nas próximas eleições.

Por que tantos brasileiros pensam dessa forma? Agudeza de vistas ou simples medo sem fundamentos reais?

No julgamento de certos teóricos e acadêmicos de plantão — a quem a mídia de viés esquerdista recorre sofregamente para desmistificar as tendências anticomunistas de nosso povo —, o resultado da pesquisa revela uma percepção equivocada de muitos brasileiros: paranoia, non sense... Não há qualquer razão para achar que cairemos no comunismo. Aliás, nunca houve! Portanto, a famosa intuição brasileira se mostraria redondamente enganada neste ponto.

Um desses teóricos “abafadores do medo aos comunistas”, Rodolfo Marques, doutor em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma: “O Brasil, na prática, nunca chegou perto do comunismo, embora existam os partidos comunistas...”2

Outra “teórica desmistificadora”, a jornalista e doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Deysi Oliveira Cioccari, segue o mesmo pensamento: “O Brasil não esteve à beira do comunismo. Isso já foi refutado por diversos historiadores. Falta um pouco de conhecimento histórico aí sobre o que é realmente o comunismo”3.

Uma das razões dadas pelos “acadêmicos de plantão” para demonstrar que estamos a “anos-luz” de um regime comunista, diz respeito à irrelevância das legendas como PCdoB e PCB. Como implantar o comunismo por aqui se tais partidos não possuem representatividade suficiente? Eles não têm a mínima condição de assumir o poder. Assim, o medo do comunismo carece de bases.4

Há teóricos e jornalistas que citam, como explicação para o resultado da mencionada pesquisa, a insistência com que o Presidente Bolsonaro se refere à ameaça comunista em seus pronunciamentos. Isso acabaria provocando no horizonte mental de grande parte da opinião pública um inimigo ilusório, um fantasma. Os chamados “bolsonaristas” estariam obcecados com algo inexistente.

Outras vozes acadêmicas, “apaziguadoras do medo comunista”, afirmam que o PT, o ex-presidente Lula e companhia não são e nunca foram comunistas. Aliás, eles nem sequer foram esquerdistas, propriamente falando. Mesmo Marta Suplicy, uma das fundadoras do PT, afirmou: “Nunca me coloquei como uma pessoa de esquerda”.5 O expediente para tal enganação já é conhecido: os petistas se uniram aos bancos e ao capitalismo internacional. Logo, eles não são comunistas, nem mesmo socialistas!

O mais interessante em todo esse panorama é notar como a boa intuição nacional vislumbra muito além da retórica sobre a fraqueza dos partidos comunistas, os supostos alertas sem base do Presidente da República ou as escapatórias pouco convincentes dos petistas e afins.

No início dos anos de 1960, Plinio Corrêa de Oliveira publicou o livro Reforma Agrária – Questão de Consciência, apontando que o comunismo se implantaria no Brasil por meio do confisco de terras e da guerra fratricida no campo. Somando-se a outras “intuições brasileiras”, a repercussão do livro causou a reação anticomunista que preparou o ambiente nacional para a intervenção militar de 1964.

Intuições sem fundamento, diriam os acadêmicos já mencionados. O Brasil não estava para cair no comunismo e nunca esteve. E assim continua a retórica: “Cuba virou comunista. Mais tarde foi a vez do Chile. Mas não se preocupe, isso não acontecerá no Brasil”.

Na década de 1970, explodiram os ataques terroristas e os sequestros perpetrados pelos núcleos comunistas. A “teologia da libertação” se infiltrou nos meios católicos. Surgiram essas figuras surpreendentes: freiras subversivas e padres guerrilheiros. Nada disso, ainda segundo os teóricos, forneceria motivos concretos para suscitar nos brasileiros o receio da implantação do comunismo.

Aliás, a Rússia soviética acabou em 1989, ao mesmo tempo em que desabava o Muro de Berlim. O comunismo morreu! Apenas gente cega, mentalmente perturbada, pode ainda falar em ameaça comunista!

Aparentemente, a intuição brasileira não se abala com tal cantilena. Não se abala pelo simples fato de essa intuição ser um dos dons mais expressivos dados por Deus ao nosso povo. Ele enxerga o comunismo muito além dos decrépitos regimes stalinistas e castristas ou dos débeis partidos comunistas.

Onde a boa perspicácia brasileira vê a ameaça comunista? Ela a vê na destruição da ordem e no desmoronamento da civilização cristã. Nos ataques à família como Deus a instituiu, através da ideologia de gênero que vai se tornando onipresente. No relaxamento das restrições ao aborto. No gerenciamento de todos os aspectos comuns da vida pelo Estado leviatã. Na negação da livre iniciativa e no enfraquecimento, muitas vezes velado, do direito de propriedade. Na perseguição às tão arraigadas tradições cristãs em nosso povo. O crescente cerceamento da fé mediante o “politicamente correto” e das blasfêmias que pululam na mídia e nos espetáculos públicos. Tudo isso, sem que a maior parte do clero atue para fortificar a boa reação católica. Pior. Muitos elementos do clero progressista atuam justamente para desencorajar e até mesmo fazer cessar qualquer reação anticomunista.

Mas o brasileiro intuitivo vislumbrou tudo isso nos 13 anos de governo petista. Era o comunismo

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