No período medieval, não havia cadeiras comuns na catedral, cada fiel mantinha seu móvel no local ou a família levava tapetes e almofadas para todos, inclusive para os vassalos. Quando os fiéis aumentaram, surgiram os bancos. Agora, com a deserção dos fiéis, os reformistas querem esvaziar a nave, para em teoria recuperar a “atmosfera medieval”. Mas a reforma seguiria o caminho tentado, mas frustrado, da igreja do convento de Santa Teresinha em Lisieux: um tatame oriental de ponta a ponta com algumas almofadinhas no estilo yoga.
O jornal “Le Figaro” reprovou porque as “fotos dão a impressão de estar em uma pista de aeroporto ou em um estacionamento”. Execrou certas “criações” propostas que destruirão a “harmonia secular” de Notre-Dame. A suprema blasfêmia “seria pensar em trocar os vitrais não figurativos do tempo de Viollet-le-Duc por obras contemporâneas”.
Para o jornalista Harry Mount, da revista britânica “The Spectator”,10 o plano fará da catedral um “showroom litúrgico experimental” de arte moderna, com “espaços emocionais”, citações da Bíblia projetadas até em mandarim, culminando na religião panteísta do ambientalismo. Será um “parque temático muito infantil e trivial”, lamentou o arquiteto parisiense Maurice Culot ao “The Telegraph”.11
Na revista “Spectator”, o bispo evangélico Robert Barron atribui o declínio do catolicismo ao embrutecimento da fé que dominou a catequese e a educação do seminário nos anos pós-Concílio Vaticano II. Essa assembleia convocada em 1961 prometeu atrair as massas ao tornar o rito mais acessível injetando fortes doses de banalização, mas acabou por afastar os fiéis. As projeções vislumbram “zero fiéis semanais” até 2050, se o atual declínio persistir.
Num editorial do britânico “Telegraph”,12 Tim Stanley escreveu que “o que atrai os recém-chegados ao catolicismo é a oração e o mistério. Mas o clero reformista carece disso na vida interior e não consegue torná-lo atraente em parte alguma. Então opta por um arranjo à maneira de um museu moderno. ‘Museu’ é a definição certa do projeto. Mas tudo em um museu está morto”.
O jornalista prossegue dizendo que o Papa Francisco nomeou o defensor do controle populacional Jeffrey Sachs para a Pontifícia Academia, abraçou a mudança climática e a migração em massa, curvou-se à elite globalizada e ao sincretismo da Pachamama, garantiu a Eucaristia ao presidente pró-aborto Biden, demonizou os movimentos que se opõem ao aborto e à ideologia de gênero.
Nessa lógica, a Igreja tem de se desculpar por tudo que o laicismo desaprova nela e aprovar tudo o que modernidade gosta. Ela se torna assim como um cão domesticado que pode ocasionalmente soltar alguma condenação contra a fertilização in vitro ou o casamento sodomítico. Mas bastará que o laicismo levante o dedo e diga ‘não’ que ela vai se encolher de vergonha como uma boa menina, completou o jornalista.
Cristina Siccardi aponta em “Corrispondenza Romana”13 o atual paradoxo. Simples fiéis tentam deter a loucura do clero, que ébrio das modas do momento expulsa das igrejas a sacralidade religiosa medieval. Uma profanação sem precedentes entrega a catedral de Paris à estética antirreligiosa, cafona e vulgar, própria a uma galeria de arte contemporânea ultracomercializada e de valor baixo ou nulo, como definiu a professora Christine Sourgins.
O “Inverno da Igreja” adota o “Inverno da Cultura”, disse Jean Clair, historiador da arte. O parque de diversões visual desenvolvido pela arquidiocese de Paris gera uma máscara ridícula e mefistofélica, sob a direção do Pe. Gilles Drouin, conclui o colunista.
Como nos referimos no início do artigo, a oração e a ação dos católicos fiéis constituem uma exigência no momento para salvar a catedral de Notre-Dame. A Société Française pour la Défense de la Tradition, Famille et Propriété14 colheu pelo menos 150.000 assinaturas de franceses instando o Presidente da República e o Ministro da Cultura a restaurar Notre-Dame respeitando identicamente sua fisionomia medieval original. O pedido obteve o que pedia na parte estrutural.
Por sua vez, a Associação Avenir de la Culture está encaminhando mais de 70.000 assinaturas suplicando a Mons. Georges Pontier, Administrador Apostólico da diocese, que “renuncie a emporcalhar Notre-Dame!”. A súplica conclui dizendo que introduzir a modernidade naquele templo seria conspurcá-lo. Equivaleria também a ofender Aquela a quem está consagrada a catedral de Paris, Nossa Senhora.
“Eu vos peço para pôr fim imediatamente a este projeto impulsionado pela diocese”.15 Uma petição análoga está sendo promovida pela TFP americana e por sua seção estudantil.16 Esse movimento filial e autêntico pesará na balança da Justiça de Deus a fim de poupar Notre-Dame nos infaustos dias da Cidade Luz, conforme alertaram a Santa Mãe de Deus e as santas almas acima referidas.