tólico. Falsa alternativa, muito semelhante à atual situação, que nos coloca entre o globalismo de Putin e o globalismo do Ocidente. Como bom político, Mussolini entendeu que tinha de governar com a Igreja Católica, como Stalin entendeu que tinha de governar com a Igreja Ortodoxa. Fez as pazes com a Igreja em 1929 com o Tratado de Latrão. Muitos católicos, inclusive cardeais, apoiaram o fascismo, pois viam nele a alternativa ao caos comunista. Com Hitler aconteceu exatamente a mesma coisa. Depois da República de Weimar houve um verdadeiro caos social. Foi nesse momento que Hitler se apresentou com o Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães), aliás, o mesmo nome do PT (Partido dos Trabalhadores) no Brasil. Contudo, ele não podia se tornar primeiro-ministro sem apoio dos católicos. Entendendo isso, entrou em combinação com Franz von Papen, chefe do partido católico. Ganhou as eleições e foi eleito chanceler democraticamente. Em seguida se apresentou como restaurador da civilização cristã. Houve católicos que o apoiaram. Graças a Deus, foi uma minoria. Figuras muito importantes como as dos Cardeais von Galen e von Faulhaber impediram que isso acontecesse. Pelo contrário, o Cardeal Innitzer, de Viena, era pró-nazi. Hitler não se apresentou como revolucionário, mas como “restaurador” do passado. Restaurou o Reich. Uma das primeiras coisas foi proibir a pornografia, a homossexualidade, a propaganda imoral, e favorecer a família. Por quê? Porque sabia que era a favor da Alemanha.
Depois da República de Weimar houve um verdadeiro caos social na Alemanha. Foi nesse momento que Hitler se apresentou com o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Qual seria a aplicação desses acontecimentos aos dias de hoje, concretamente entre Putin e o Ocidente permissivo?
Esses acontecimentos se assemelham aos de nossos dias, quando nos encontramos diante de uma encruzilhada cuja opção é fundamentalmente falsa. Nossa resposta deve ser: “Nem de um lado, nem de outro, estamos com a Santa Igreja Católica Apostólica Romana!”. Aquilo que há de LGBT, aborto, homossexualismo e imoralidade no Ocidente constitui um câncer. Agora, quando se luta contra um câncer, ou se faz uma cirurgia eliminando-o pela raiz ou se faz quimioterapia, não se mata o paciente. Queiram ou não, o que hoje ainda resta de bom no Ocidente adveio da civilização cristã. Se trata de restaurá-la. Portanto, Putin-Revolução é uma alternativa falsa. O mesmo se dá com a Igreja Católica, em cujo seio irrompeu em certo momento o progressismo, que é a sua negação. Eu não procuro lutar contra o progressismo eliminando a Igreja Católica, mas devo lutar contra o progressismo para salvar a Igreja.
Há dois globalismos na falsa alternativa criada?
Temos o globalismo do “pan-eslavismo”, de Alexander Dugin, o pensador de Putin, discípulo de Julius Evola, ocultista e gnóstico italiano. De outro lado temos o globalismo de George Soros. São dois globalismos ambos péssimos, que se tocam. Talvez seja novidade para os leitores de Catolicismo, mas um dos principais assessores de Putin é Henry Kissinger, um dos pais do mundialismo. Putin se diz antiglobalista, mas está invadindo um país independente. Lembremos que em 1991, quando a Ucrânia recobrou sua independência, 92,5% dos ucranianos sufragaram essa independência. Ora, como posso dizer que sou nacionalista e antiglobalista quando o que eu faço é englobar um país depois do outro?
O senhor gostaria de dizer algo mais para os nossos leitores?
Aproveito o ensejo para me reportar aos anos de 1930 no Brasil. Já nessa época o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira foi muito claro, e seria muito interessante que lessem seus artigos dos anos 30. Ele escrevia no semanário Legionário, e nas suas análises sobre o fascismo e o nazismo ele afirmava que “os católicos deveriam ser antinazistas, anticomunistas, antiliberais, anti-socialistas, antifascistas, precisamente porque católicos”. Ele nunca aceitou essa dicotomia. Se o senhor me perguntasse entre AIDS e câncer no fígado, o que eu escolheria, eu respondo: — Eu quero a saúde! E a saúde se chama Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Repito uma coisa que disse num congresso em Moscou. Há na Rússia um mistério, por ter sido o único país mencionado duas vezes na Mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Uma vez enquanto flagelo da humanidade e outra vez como o país cuja conversão abrirá a era do triunfo do Imaculado Coração de Maria. Então, ao falarmos da Rússia devemos nos perguntar de antemão se estamos nos referindo a ela enquanto flagelo ou enquanto convertida.
E como o senhor imagina uma Rússia convertida?
Conversão — eu disse isso em Moscou, portanto não é uma coisa secreta, privada — é tomar o caminho inverso e seguir a verdadeira religião, que é a católica. Esse é o ponto absoluto. Já no campo temporal, conversão é abandonar o caminho que Nossa Senhora chamou de “erros da Rússia”, ou seja, o comunismo. Enquanto não houver uma rejeição do período comunista, não podemos falar de conversão da Rússia.
Existem sintomas de que a Rússia esteja a caminho dessa conversão?
Francamente, eu não vejo nem uma nem outra conversão. Razão pela qual devemos ter todo o cuidado ao tratar desta questão, não pondo o pé numa falsa alternativa. Isso já aconteceu nos anos 30. E está acontecendo agora. Essa crítica à ação da Rússia não implica apoiar os aspectos ruins do Ocidente. Pelo contrário! Rezemos à Virgem de Fátima para que sua promessa se cumpra o mais rapidamente possível. Aproveito para cumprimentar os diletos leitores de Catolicismo.