O sepultamento do pranteado Chefe da Casa Imperial do Brasil transcorreu no cemitério da Consolação da capital paulista, adornado por mais de uma centena de coroas de flores enviadas por parentes, amigos e instituições do Brasil e do Exterior. Enquanto uma escolta do Exército acompanhava o cortejo, a guarda de honra da Marinha do Brasil portou o féretro, coberto pela bandeira do Império, e prestou as homenagens fúnebres ao saudoso Príncipe, com os toques de corneta e apitos correspondentes e salva de tiros dos Fuzileiros Navais. Em seguida, numa atmosfera extremamente emocionante, ouviu-se o toque de silêncio e o féretro desceu à sepultura, enquanto sacerdotes rezavam as preces tradicionais próprias à ocasião.
Encerramos este resumido elenco das cerimônias fúnebres transcrevendo o discurso do novo Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, junto à sepultura de seu irmão primogênito. Muito emocionado, o Príncipe destacou a grandeza de alma de Dom Luiz, bem como sua fidelidade e seriedade no cumprimento de sua missão histórica.
“É com muita emoção que assumo a árdua tarefa de fazer a última despedida nesta Terra de meu caro irmão Dom Luiz. É difícil encontrar dois irmãos mais unidos do que nós, não apenas pela afinidade do sangue, pela nossa herança cultural que recebemos de nosso pai, o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, e de nossa mãe, a Princesa Dona Maria da Baviera, mas também por termos compartilhado desde nossa primeira juventude dos mesmos princípios, dos mesmos ideais contra-revolucionários inspirados pelo Doutor Plinio Corrêa de Oliveira, a quem nosso saudoso pai confiou a complementação de nossa formação intelectual, política e religiosa.
Uma união fraterna que não consistiu apenas nos laços de sangue, mas naquilo que dizia tão bem Santo Agostinho: amar-se não é olhar um para o outro, mas olharmos juntos o mesmo ponto e termos o mesmo ideal.
Se o Brasil e a Família Imperial perderam um herdeiro do trono que foi fidelíssimo no cumprimento de seus deveres dinásticos, eu perco o primogênito ao qual eu confiava as minhas dificuldades, com o qual eu traçava os planos de nossa ação pró-monarquia, e junto ao qual, na doce intimidade fraterna, tinha a certeza de encontrar um ouvido sempre atento para compartilhar as alegrias e os dissabores da vida de todos os dias.
O que mais caracterizou Dom Luiz foi sua profunda fé católica, como ela era vivida nos tempos de nossa avó paterna Dona Maria Pia de Bourbon Sicílias, em cujo lar ele recebeu os primórdios de sua formação religiosa. Uma fé que brotava naturalmente de uma piedade muito sincera e sem nenhum sentimentalismo. Piedade que pôde desenvolver-se largamente durante toda sua vida.
Foi essa fé muito arraigada e o sangue alemão de nossa saudosa mãe que permitiram a Dom Luiz carregar, sem lamúrias e com grande varonilidade, as limitações que lhe impunha a doença que contraiu ainda menino, na França durante a Segunda Guerra Mundial. Mais ainda, quando, após o falecimento de nosso pai, teve que assumir a chefia da Casa Imperial, ele soube compensar essas limitações crescendo no senso da própria dignidade, sem jamais permitir-se o menor gesto ou atitude que destoasse de sua condição. Reunindo em sua alma o que tinha aprendido de nosso saudoso pai Dom Pedro Henrique, na intimidade do lar em uma fazenda no norte do Paraná, e a educação universitária recebida em Munique, nosso caro Dom Luiz tinha uma grande elevação de vistas, um imenso gosto pelos grandes panoramas da História e um conhecimento vastíssimo do passado monárquico de nosso querido Brasil e de seus problemas atuais. Essa visão de conjunto o fazia discernir com clareza a imensa crise do Ocidente e de nosso País. Mas sua lucidez jamais lhe tirou a confiança inabalável em uma restauração de uma civilização cristã e monárquica, e no futuro grandioso do Brasil, em cujo reerguimento a Família Imperial deveria desempenhar papel de destaque, conforme os ensinamentos do pranteado Papa Pio XII, em suas alocuções ao Patriciado e a Nobreza Romana.
Como um autêntico “amigo da Cruz”, segundo o modelo de São Luís Maria Grignion de Montfort, meu saudoso irmão ofereceu todos os embaraços de sua doença em expiação pelas ofensas a Deus que estão na origem da crise multissecular que abala o mundo contemporâneo; e pedindo também à sua divina misericórdia as graças necessárias para que esse reerguimento religioso, cultural e político tenha lugar ainda em nossos dias.
Mas essa grandeza de alma que, com o correr dos anos, foi ganhando em venerabilidade, não impedia que Dom Luiz mantivesse o frescor da inocência, e que, diante das coisas belas ou grandiosas, conservasse o deslumbramento e a alegria da infância. Essa venerabilidade tampouco impedia que adotasse sempre uma atitude de enorme consideração, respeito e carinho — bem brasileiros — por todos os que o rodeavam e, em particular, pelos que mais proximamente o auxiliavam.
Com essas qualidades incomuns, se nos planos divinos tivesse figurado a restauração do trono em vida de Dom Luiz, seu governo teria tido muito de similar ao estilo com que Dom Pedro II regeu o Brasil, apenas indicando os grandes rumos do País, e deixando em seguida ampla liberdade aos ministros para levarem adiante suas sugestões. Com uma só linha vermelha, mas essa intransponível: o respeito da Lei de Deus e dos direitos da Santa Igreja.
Os planos da Providência foram outros e, no fim do percurso de Dom Luiz nesta Terra, o Brasil perde um príncipe e a Família Imperial um irmão e um tio modelar. Mas ganham um intercessor no Céu e um novo modelo de seriedade e dedicação, para servir-lhes de inspiração na difícil conjuntura hodierna.
Termino com a certeza de que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira e Rainha desta querida Terra de Santa Cruz, fará em um dia não longínquo triunfar os ideais a que Dom Luiz consagrou sua vida.”
LEGENDAS:
– Guarda de honra da Marinha do Brasil portou o féretro.
– Parentes e amigos de Dom Luiz na capela do Cemitério da Consolação,
– Sacerdotes acompanham o cortejo até o túmulo.
– Dom Bertrand despede-se de seu irmão primogênito, o Príncipe Dom Luiz.