P.24-25 | INTERNACIONAL | (continuação)

Petro já alcançou maioria no Congresso. De número, é verdade, mas a variedade e disparidade de interesses dos seis partidos que até agora o respaldam, precisará de uma mágica ainda não conhecida na história política do país vizinho.

contraditórios, terão dificuldade de endossar diante de seus eleitores.

Essa colcha de retalhos, de tanto esticar, presumivelmente rasgará. O curso dos fatos fará com que lhe falte base popular. Veremos abaixo, resumidamente, algumas das principais causas. A situação atual lembra a visão do profeta Daniel da estátua de um grande ídolo com pés de barro. Uma só pedra, espatifando o barro, destruiu a estátua.

Pés de barro

Onde estão os pés de barro? Repito, Gustavo Petro sobe com pés de barro; tem escasso apoio popular real, e perspectiva de rápida queda na aprovação do público e crescimento na rejeição. As razões são de fácil vislumbre. No miolo está o fato de o novo governo adotar um programa que afugenta aplicações financeiras, promove fuga de capitais, cérebros e famílias de posses; em suma, é empobrecedor. A população vai sofrer, em especial os mais desassistidos.

Empobrecedor programa de governo

Explico-me com mais detalhes: com a desconfiança viva contra as medidas socialistas, teremos a queda dos investimentos e, em consequência, menos emprego, menos renda; da mesma forma, tendência à diminuição dos salários. O conjunto trágico acarretará um paulatino inchaço da desilusão e ampliação do sentimento oposicionista. A nova situação repercutirá na classe política e, presume-se, freará o movimento adesista, impossibilitando o “grande acordo nacional”. A menos de que surja algum engodo propagandístico.

Mais um detalhe muito importante: dentro do programa empobrecedor do novo governo é necessário incluir a reforma agrária, bem como o aumento da tributação das rendas mais altas e, igualmente, o imposto sobre o patrimônio, tudo isso manejado por cérebros enamorados do coletivismo. A reforma agrária (socialista e confiscatória, no caso) trouxe confusão e miséria no campo em todos os infelizes países em que foi aplicada, e o modelo colombiano não difere dos padrões de fracasso comprovado. Agressão à propriedade privada e à livre iniciativa associada à menor oferta de alimentos são de molde a exacerbar o sentimento oposicionista.

Agenda libertária

Gustavo Petro chega ao poder com agenda libertária — apoio às reivindicações LGBT e ao “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, entre outras medidas —, o que, já de saída, contundirá doloridamente o atavismo conservador e católico do povo colombiano, sobre o qual se apoia sua vida social. Setores amplos, de decisiva e boa orientação, recusarão a adesão a um grande acordo nacional que tenha em seu programa tal agenda.

ELN e tráfico

Uma palavra sobre a guerrilha e o tráfico. A Colômbia é uma nação martirizada por décadas de insurreição subversiva armada e tráfico de drogas. Anseia pela paz, ambiciona a harmonia social (aspirações tão explicáveis e louváveis que vêm sendo exploradas matreiramente pela coligação vitoriosa). Para ser uma paz duradoura e benéfica ao bem comum, precisa estear-se na justiça, na sensatez, na lucidez e na legalidade, qualidades ausentes em geral nas políticas anteriores e fadadas por isso ao fracasso. O novo ministro do Exterior e setores do Episcopado se dispõem a trabalhar pela paz, o que incluirá tratativas com o ELN (Exército de Libertação Nacional) e outros grupos guerrilheiros. É de se temer que a leniência, o otimismo e a imprevidência, já presentes no passado e nos acordos com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), igualmente condenem ao fracasso tais iniciativas.

O martírio popular é agravado pela presença ativa, não apenas do tráfico (e das gangues de traficantes), mas ainda do narcotráfico, a dantesca união da guerrilha com o tráfico. Nenhuma ilegalidade, nenhum otimismo, inteira lucidez devem presidir a repressão enérgica a tais crimes, condição prévia para um futuro de paz e prosperidade para a nação. É mau presságio a presença de um antigo guerrilheiro (que jamais renegou sua militância criminosa) na cadeira presidencial, aliada a setores do Clero que favorecem uma paz sem salvaguardas suficientes.

União de esforços

Diante da fraqueza de apoio popular ao novo governo, que ameaça, como vimos, a estabilidade da nação, seria inexplicável um adesismo suicida. A via saudável aponta para uma grande conjunção de esforços para preservar a Colômbia nas vias da civilização ocidental e cristã, abrindo-lhe possibilidades de reais avanços civilizatórios, prosperidade e felicidade para seu povo.

Que Nossa Senhora de Chiquinquirá, Padroeira da Colômbia, a ajude e ilumine, a fim de que, no rumo certo, possa ser uma grande aliada do Brasil, para vantagem mútua.

Militantes LGBT em frente ao Congresso colombiano. A mentalidade conservadora e católica do povo colombiano, sobre a qual se apoia sua vida social, será um empecilho não pequeno, dentro de um ambiente fortemente polarizado.


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