Cinquenta dias depois da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, um grandioso acontecimento: o Pentecostes, palavra grega que significa “quinquagésimo dia”. Nessa ocasião o Espírito Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre a Santíssima Virgem e os Apóstolos reunidos no Cenáculo — o mesmo recinto onde o Redentor os havia reunido na “Última Ceia” um dia antes de sua Crucifixão no Calvário.
Convertidos pela graça de Pentecostes, os Apóstolos se transformaram, de pessoas pusilânimes nos dias da Paixão de Jesus, em destemidos heróis da Fé; ficaram com a disposição de dar suas vidas para expandir o cristianismo a todas as nações; operaram grandes milagres; receberam em abundância os dons do Espírito Santo e o dom de falar muitas línguas para ensinar todos os povos. Em poucos dias converteram milhares de judeus e de gentios.
Cumpria-se assim o que o Divino Mestre lhes havia ordenado: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 15-18).
Esse é o assunto da matéria de capa desta edição. Com ela damos prosseguimento à nossa publicação da Semana Santa do ano anterior, reproduzindo trechos da magnífica obra do Pe. Augustin Berthe, sacerdote redentorista francês, falecido no início do século passado.
É o tema que sugerimos para meditação nesta Quaresma — período penitencial que no rito romano da Igreja Católica se inicia na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Páscoa, ou seja, neste ano, de 22 de fevereiro até 9 de abril.
Desejando aos nossos leitores uma abençoada Quaresma e uma Santa e Feliz Páscoa, oferecemos-lhes nossas orações para que alcancem a plenitude dos dons do Espírito Santo. Imensa graça que devemos pedir por intercessão de Nossa Senhora, assim como Ela intercedeu pelos Apóstolos no Cenáculo. Peçamos também um “novo Pentecostes” a fim de que se opere a conversão total da humanidade, o reflorescimento da Fé Católica e a restauração da Cristandade até os confins da Terra.
Padre David Francisquini
Pergunta — Ouvi no portal da VaticanNews uma palestra do sacerdote gaúcho Pe. Gerson Schmidt sobre a eclesiologia da constituição Lumen Gentium do Concílio Vaticano II. Ele dizia que esse documento é fruto do movimento eclesiológico iniciado no século XIX na Escola teológica de Tübingen, na Alemanha, sob a influência do teólogo Johann Adam Möhler. Essa escola teria insistido que a Igreja é um organismo acima de tudo espiritual: o Corpo de Cristo que perpetua a salvação na história concreta dos homens. Mas acrescentou que o Concílio Vaticano I teria negligenciado essa visão espiritual da Igreja, vendo na expressão Corpo Místico de Cristo somente uma metáfora, e insistindo apenas no caráter corporativo e, sobretudo, hierárquico da Igreja. Segundo ele, teria sido o Vaticano II que recuperou essa concepção mais espiritual da Igreja. Isso é verdade?
Resposta — A palestra ouvida pelo nosso leitor contém algumas informações verdadeiras e outras inexatas. É verdade que a Lumen Gentium se inspirou na corrente eclesiológica originada na escola de Tübingen. Mas é falso que a eclesiologia tradicional tenha exagerado a dimensão visível e hierárquica da Igreja, em detrimento de sua dimensão espiritual.
Ao longo da História, o Magistério insistiu em cada época nas verdades de fé que estavam sendo negadas naquele momento específico. Mas sempre soube manter o perfeito equilíbrio do conjunto dos ensinamentos deixados por Nosso Senhor à Igreja em depósito. Por exemplo, no século II, ao condenar o docetismo — que negava a realidade humana de Jesus Cristo —, a Igreja insistiu muito que Ele era verdadeiro homem, mas nunca deixou de ensinar sua divindade. Pelo contrário, no século IV, ao condenar o arianismo — que negava a divindade de Nosso Senhor —, a Igreja insistiu muito que o Verbo era consubstancial ao Pai, mas nunca deixou de ensinar que Ele “se fez carne e habitou entre nós”, como proclama o início do Evangelho de São João.
No século XVI, Lutero [acima] e seus sequazes afirmaram que a Igreja era apenas o conglomerado espiritual dos fiéis unidos a Cristo pela crença de que “só Deus salva”, negando que Nosso Senhor fundou uma Igreja visível e a dotou de uma Hierarquia de pastores para santificar, ensinar e governar os fiéis. Nessa emergência, o Concílio de Trento fulminou esse aspecto da heresia protestante, declarando solenemente que a Igreja “é como um exército bem formado (Cânt 6, 3)”, no qual “os bispos que são os sucessores dos Apóstolos, pertencem à ordem hierárquica, e que eles foram — como diz o Apóstolo São Paulo — estabelecidos pelo Espírito Santo para governar a Igreja de Deus (At 20, 28)”.
Como os protestantes odiavam particularmente o Papado, o Catecismo de São Pio V, publicado por iniciativa do Concílio de Trento, timbrou em
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