P.10-11 | PÁGINA MARIANA |

A oração mais antiga a Nossa Senhora

Marcelo Dufaur

A saudação de São Gabriel à Santíssima Virgem por ocasião da Anunciação, em Nazaré, é a mais antiga e sublime oração a Ela. É aquela que os homens mais rezam e rezarão até o fim do mundo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto de Vosso ventre, Jesus”.

Mas qual é a oração mais antiga composta pelos homens a Nossa Senhora?

De modo inesperado, ela apareceu inscrita num pequeno papiro milenar, de textura frágil, redigida em grego, desenterrado das areias de um deserto do Egito (dir.). O mais incrível é que o manuscrito, após quase dois mil anos, foi descoberto de modo legível. Agora é cuidadosamente guardado entre dois vidros para evitar a sua deterioração.

Seria como se anjos tivessem querido conservar o texto para o revelar nos presentes dias, em que tanto se blasfema contra os mais insignes atributos da Santa Mãe de Deus, a fim de despertar os nossos contemporâneos.

O papiro desaparecera no século III e foi encontrado num depósito de lixo das ruínas da extinta cidade de Oxirrinco, no norte do Egito, em 1897. Os arqueólogos ingleses Bernard Pyne Grenfell e Arthur Surridge (foto embaixo) recuperaram no local abundante coleção de manuscritos, agora conservados na Coleção John Rylands, da Universidade de Manchester (Inglaterra). Eles só foram dados a conhecer na década de 1930, porém ninguém os havia transcrito corretamente.

O filólogo espanhol Felipe Hernández Muñoz, do Departamento de Clássicos da Universidade Complutense, foi em dezembro de 2022 à Rylands Collection e efetuou uma transliteração correta do grego e a tradução para o inglês e o latim. Assim, ele nos forneceu uma conscienciosa primeira versão da oração, que tem algo da célebre “Salve Rainha”, mas muito simples. Ei-la:

“Sob vossas / misericordiosas entranhas / nos refugiamos, / Mãe de Deus. Não desprezeis os nossos / pedidos na pressa, / mas do perigo, / livrai-nos, / só vós, santa, / a bem-aventurada”.

Felipe Hernández explica que a “escrita está cuidada. Tudo em letras maiúsculas e em grego, a língua mais difundida na época. Há rasgões no papiro, mas as letras podem ser adivinhadas sem problemas”. O filólogo também destaca que as primeiras palavras são “sob vossas misericordiosas entranhas” que lembra a “Salve Rainha”. E as palavras “sob vossa proteção” indicam que Maria era invocada como Mãe de Misericórdia, como também na “Salve Rainha”, implorando seus “olhos misericordiosos”.

A oração pede à Virgem que nos liberte do perigo. E um deles era a perseguição contra os cristãos perpetrada pelo Império Romano.

Por que fomos encontrar nesse velho papiro do ano 250 d.C. a versão mais primitiva que nos recorda a “Salve Rainha”? Grandes santos mariais, como São Luís Maria Grignion de Montfort, ensinam que a devoção a Nossa Senhora começou já em sua vida com a veneração dos próprios Apóstolos que iam até sua casa de Nazaré visitá-la e rezar a Missa num altar, hoje conhecido como “Altar dos Apóstolos”, o qual se conserva na Santa Casa de Loreto (Itália) aos pés da imagem da Virgem.

Naqueles remotos tempos, devido aos vícios e às fraquezas dos neófitos oriundos do paganismo, a devoção à Mãe de Deus era revelada com discrição e prudência, porque, percebendo a sua excelsa virtude, os ex-pagãos poderiam achar que Ela fosse uma deusa. Com a posterior consolidação do apostolado, essa dificuldade desapareceu e o culto a Nossa Senhora generalizou-se livremente.

Culto que nos primeiros séculos da Igreja teve sua aprovação magisterial no Concílio Ecumênico de Éfeso, do ano 431. Nele, Ela foi proclamada “Mãe de Deus” (theotokos, em grego). O herói dessa proclamação foi São Cirilo, patriarca de Alexandria, grande cidade que acabou se pervertendo ao islamismo e agora foi flagelada pelo recente e terrível terremoto que derrubou sua catedral católica, mas deixou inexplicavelmente incólume a imagem de Nossa Senhora. Naquele Concílio, por defender Maria como Mãe de Deus, São Cirilo foi invectivado pelo heresiarca Nestório e seus bispos cúmplices como “monstro, nascido e educado para a destruição da Igreja”.

Com análogo ódio, os protestantes, estultamente, como de costume, contestaram a origem histórica da devoção a Nossa Senhora, arrancando da Bíblia páginas nas quais Ela é citada. Pior ainda, em nossos tempos, o progressismo dito católico, que tudo subverte, em

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