Poucos escritores brasileiros famosos receberam de seus pares um cortejo de elogios tão unânime como Paulo Setúbal. Elogia-se nele sobretudo a cativante personalidade, sempre alegre, fruto de uma bondade contagiante que conquistava todos os corações.
Hoje, esse escritor, que se tornou o mais lido do País em sua época, é pouco conhecido.
Por isso apresentaremos uma rápida biografia dele, a fim de ressaltar como suas qualidades eram vistas pelos escritores de seu tempo.
Nascido em Tatuí, interior de São Paulo, em 1º de janeiro de 1893, órfão de pai aos quatro anos e um dos nove filhos pequenos a quem coube à mãe o ônus de cuidar, Paulo de Oliveira Leite Setúbal – eis seu nome completo – foi advogado, deputado estadual, jornalista, ensaísta, poeta e romancista, membro das Academias Paulista e Brasileira de Letras, de Institutos Históricos e Geográficos de São Paulo e do Brasil.
Embora sua mãe fosse muito religiosa, durante os estudos do filho na capital paulista, ele sofreu as más influências de outros estudantes, tornando-se cético, quase ateu. Após formar-se em Direito, Paulo decidiu fazer jornalismo e obteve um cargo no jornal “A Tarde”, no qual publicou com êxito suas primeiras poesias.
Foi nessa época que ele começou a sentir os primeiros sinais da tuberculose, que o obrigaria a frequentes interrupções no trabalho para repouso. A esse respeito, diz o escritor Fernando Jorge em sua excelente biografia de Setúbal, que consultamos fartamente:
“Em tal momento dramático, ele ainda não tinha visto a dor como um veículo de aprimoramento espiritual e nem havia ocorrido, como disse no Confiteor, o encontro consigo mesmo. A sua alma torturada não ouvia a palavra de Cristo, que poderia dar-lhe força, paz, resignação, embora no seu íntimo, adormecida, palpitasse uma religiosidade cheia de misticismo.”
Com o organismo enfraquecido pela tuberculose, Paulo se tornou fácil presa da terrível gripe espanhola em 1918. A fim de se recuperar, partiu para Lages, em Santa Catarina, onde morava seu irmão mais velho. Lá se tornou um advogado bem-sucedido e muito procurado. Dois anos depois, cansado de tudo, voltou para São Paulo, onde estabeleceu uma banca com razoável sucesso.
Em 1920 juntou algumas de suas poesias e as apresentou a Monteiro Lobato, então um editor de sucesso. Nascido em Taubaté, Lobato narra assim seu primeiro encontro com Setúbal:
“Setúbal era o encanto feito homem. Impossível maior exuberância, maior otimismo, maior entusiasmo – mais fogo. Dava-me a impressão duma sarça ardente – e talvez por isso se fosse tão cedo; queimou-se demais, ardeu numa vitoriosa chama contínua [...]. O ímpeto de Setúbal, a tremenda força da sua simpatia irradiante, inundante e avassalante, fez que sem nenhum exame os originais voassem daquele escritório para a tipografia”, resultando no primeiro dos muitos livros que escreveria Paulo Setúbal, A alma cabocla, de poesias.
Iniciava-se assim a principal fase da produção literária de Paulo Setúbal. Pode-se dizer que seu sucesso foi quase instantâneo. Sobre A alma cabocla, seu primeiro
Página seguinte