A esplêndida cerimônia de coroação do novo rei da Grã-Bretanha Charles III foi assistida por aproximadamente 400 milhões de pessoas em todo o mundo, informou a “TVM News”.1
É uma cifra inferior aos quatro bilhões que assistiram em algum momento dos 11 dias que durou o solene funeral da rainha Elizabeth II. Manifestantes antimonarquistas ganharam um desproporcionado tempo nas TVs, mas seu número foi tão pequeno que eles ficaram desprezíveis.
Hoje se trombeteia que as multidões preferem os regimes igualitários inspirados pela Revolução Francesa. Mas, quantas pessoas assistem seus grandes eventos? O site da rádio do Senado brasileiro2 falou em “milhares” na posse do presidente em exercício neste ano e se aventurou em cerca de “300 mil” presentes não confirmados pelas fotos. A mídia francesa havia noticiado que 450/500 pessoas foram convidadas à investidura do presidente Emmanuel Macron. O vídeo oficial3 não foca o público presente junto ao palácio presidencial do Elysée.
A abissal diferença dos números sugere uma pergunta: o que faz com que o nosso mundo tão pobre e igualitário de símbolos se empolgue tanto com o fausto e a majestade de uma coroação gestada pela Igreja Católica e pela civilização cristã há mais de mil anos?
Plinio Corrêa de Oliveira fez essa pergunta e a respondeu num artigo – que aqui glosamos – para Catolicismo (julho/1953)4 a respeito da coroação da rainha Elizabeth II. Em nossa época de investigações sociológicas, as cerimônias, manifestações e solenidades como a coroação do rei Charles III deveriam suscitar inquéritos sérios recolhidos por volumes acadêmicos e densas páginas nos jornais.
Outrora, observava Dr. Plinio, a virtude, o berço, o sexo, a educação, a cultura, a idade, o gênero de profissão, as posses e outras circunstâncias modelavam e matizavam a sociedade humana com a variedade e a riqueza de mil relevos e coloridos. A desigualdade, quando proporcionada e harmônica, era uma fonte de regozijos e de saboroso convívio em todas as classes sociais.
O requinte e o esplendor dos atos públicos eram uma das maiores fontes destas alegrias. A nobreza desses atos derramava contentamentos entre os homens, marcava as leis, as instituições, as atividades intelectuais, os costumes, a economia, e elevava a vida pública e particular com notas de hierarquia, de respeito e de gravidade.
Hoje, infelizmente, ouve-se um gemido de mal-estar e dor geral devido à crise da família, da economia, a insegurança, os escândalos de toda espécie. Esse clamor de dor ficou esquecido durante as cerimônias da co-
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