| CONSERVADORISMO |

Origem da atual reação conservadora

Júlio Loredo A resistência conservadora cresce no Brasil. O inegável mérito de Plinio Corrêa de Oliveira fica registrado até no documento de estudo da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), de 19-4-2023.

Realizou-se recentemente na cidade de Aparecida a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Entre outras coisas, os prelados brasileiros discutiram um Documento intitulado Análise da situação eclesiástica. As ameaças à comunhão eclesial no contexto de polarização sociopolítica, cultural e religiosa.

Escrito por uma equipe de pesquisadores sob a égide do cardeal Paolo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, o documento começa constatando um fenômeno que está à vista de todos: o Brasil está cada vez mais polarizado, tanto no campo eclesiástico quanto no político.

O documento da CNBB manifesta perplexidade ante o fato de que, em uma sociedade secularizada como a moderna, a religião assuma um papel cada vez mais importante, não só no cotidiano das pessoas, mas também no campo político.

Enquanto a esquerda quer correr mais depressa rumo a objetivos mais radicais, a reação conservadora também cresce na direção oposta, assumindo um tom cada vez mais tradicionalista:

“O diagnóstico aqui proposto concentra-se no tema das polarizações, que tiveram nos atentados aos poderes da República do dia 08/01/2023 um de seus desfechos mais terríveis, embora suas raízes remontem a fatos mais antigos, como as manifestações de 2013. Seu impacto no campo religioso e eclesial é evidente, mostrando a mútua imbricação entre sociedade e religião.”

Esta polarização – continua o documento da CNBB – “implicava o desaparecimento progressivo de posições intermediárias”. Desde 2013, ano das primeiras manifestações anticomunistas de rua, a polarização se tornou a principal chave para se entender a situação brasileira, tanto política quanto eclesiástica.

Não se trata apenas de posições que se chocaram a respeito de determinados temas concretos ou de certos personagens, mas de uma verdadeira “guerra cultural” entre duas visões de mundo opostas: uma, filha da Revolução de maio de 1968 na Sorbonne, e outra, filha da reação que vem se manifestando desde a década de 1980 a partir dos Estados Unidos com o chamado “renascimento conservador”.

O sintoma de que essa polarização estava ocorrendo no Brasil era “o surgimento de uma nova direita, mais radical e organizada”, que fez amplo uso dos novos meios de comunicação de massa (as chamadas “mídias sociais”), contornando assim canais da imprensa tradicional dominada pela esquerda. Essa reação levou Jair Bolsonaro à presidência em 2019. Apesar de pertencer ao mundo da velha política, Bolsonaro se projetou como intérprete dos anseios dessa “nova e extrema direita”. O documento da CNBB segue com uma análise detalhada dos motivos da eleição de Bolsonaro para a presidência, focando também no apoio da direita evangélica.

O papel da religião

O documento da CNBB manifesta perplexidade ante o fato de que, em uma sociedade secularizada como a moderna, a religião assuma um papel cada vez mais importante, não só no cotidiano das pessoas, mas também no campo politico. O texto denuncia repetidamente “o uso do sentimento religioso”, falando até mesmo de “cristofascismo”, ou seja, o uso de temas religiosos para justificar uma política de direita.

E prossegue: “Além dos símbolos religiosos do cristianismo, como a Bíblia, a imagem da Virgem Maria, a oração do terço ou do Pai-Nosso, os acampados discursaram contra o comunismo, pela salvação da pátria e família, pedindo a intervenção das forças armadas contra os que supostamente ameaçavam a ordem social.”

Para os bispos brasileiros, isto é um verdadeiro choque. Há mais de 50 anos eles fizeram uma “opção preferencial pelos pobres”, substituindo o discurso religioso por um sociopolítico de caráter revolucionário, na esteira da chamada Teologia da Libertação. Eles estão pagando hoje o preço dessa opção perversa. Não apenas os católicos estão fugindo em massa para as seitas protestantes, mas a religião que os bispos e o clero de

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