Ó Maria Santíssima, tendo em consideração tudo quanto esse pobre Rei teve de sofrer por ter sido mole, nós Vos pedimos que nos obtenhais a graça de jamais sermos moles em face da Revolução, de não perdermos uma só ocasião de a combater, e de a combater implacavelmente!
Obtende-nos a graça de empregar todos os meios para conter o ímpeto da Revolução, para aniquilá-la, e para fazer vencer por toda parte a Santa Igreja e a civilização cristã. Para que com isto vençais Vós, ó Maria, Rainha do Céu e da Terra, e vença o vosso Divino Filho. Vós sim, ó Maria, cuja vitória é necessariamente e esplendidamente vitória de vosso Divino Filho.
Ó Maria, venha a nós o vosso Reino, para que a nós venha o Reino de Jesus. Mandai que se acelerem os acontecimentos por Vós previstos em Fátima, a fim de que a presente época de reinado da Revolução satânica e igualitária –– da qual a execução de Luís XVI foi um lance característico e pungente –– cesse o quanto antes, e sobre nós desça o vosso Reino.
Não para ser o Reino dos preguiçosos, dos moles –– que, em última análise, se venceram terá sido só porque Vós interviestes, com vossos Anjos, a favor deles ––, mas para ser o Reino dos heróis que lutaram como gigantes, porque a graça e as virtudes cristãs, e sobretudo as virtudes da pureza, da fortaleza e da humildade, os nimbaram como uma coroa, e eles souberam ser, ao mesmo tempo, terríveis na hora da batalha e despretensiosos e desapegados na hora da vitória.
Os ajudantes do carrasco Sanson se aproximam de Luís XVI e querem amarrar-lhe as mãos.
–– Amarrar-me? Não, jamais consentirei nisto! –– atalha ele.
O sacerdote lhe sussurra:
–– “Sire, nesta nova afronta não vejo senão um último traço de semelhança entre vós e o Deus que será o vosso prêmio”.
Estas sublimes palavras do sacerdote alentaram a piedade do Rei. Luís XVI estende as mãos.
–– “Fazei o que quiserdes!”
E os asseclas de Sanson –– bem dignos da Revolução à qual serviam de cúmplices –– ataram as mãos do Rei. E foi assim, com a intenção de imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas divinas mãos foram atadas pelos seus algozes durante a Paixão, que o Rei escalou, passo a passo, as escadas do patíbulo e se dirigiu de modo decidido para a guilhotina.
Ele faz então um sinal aos tambores que se acham em frente dele. Impressionados, os soldados param de bater:
“Franceses –– brada o Rei, com voz audível até à extremidade da praça ––, eu morro inocente. Perdoo os autores de minha morte, e peço a Deus que o sangue que vai ser derramado não caia jamais sobre a França! E vós, ó povo desafortunado...”.(*)
O Rei pretende continuar sua objurgatória, mas um homem a cavalo, em uniforme da guarda nacional, desfere a espada sobre um dos tambores e força-os a cobrir a voz do Rei com o seu ruído. Nesse instante supremo, a um passo da guilhotina, os revolucionários ainda temem que as palavras do soberano comovam a multidão e todo o processo revolucionário retroceda!
* * *
Os algozes estendem o Rei sobre a plataforma da guilhotina. A lâmina cai pesadamente sobre a nuca do Rei, e sua cabeça rola pelo chão.
O infame carrasco toma-a enquanto ainda gotejava sangue e dá a volta por todo o patíbulo, para que o povo inteiro tome conhecimento de que o Rei estava decapitado. Para Luís XVI, a luz do sol não brilhará mais neste mundo, a não ser no dia em que todos ressuscitarmos.
Foi quando o Rei estava sendo estendido para receber o golpe fatal que, segundo algumas narrações, o Abbé Edgeworth de Firmont teria exclamado as sublimes palavras: “Filho de São Luís, subi ao Céu!”
Várias testemunhas afirmam a autenticidade dessa apóstrofe. O sacerdote irlandês, entretanto, sempre negou tê-la pronunciado. De onde se pode pensar que, ou o Abbé de Firmont fez essa exclamação movido por uma inspiração divina e depois dela se esqueceu (fato facilmente compreensível, na emoção em que se encontrava), ou a frase foi criada por outrem a fim de
Página seguinte