causou uma queda maciça nos rendimentos agrícolas, levando a uma crise alimentar e econômica tão grave que derrubou o governo. Da mesma forma, as restrições às emissões de azoto nos Países Baixos ou as limitações à pecuária agrícola causaram raiva e desespero entre os agricultores.
Os agricultores europeus também sofrem as consequências da reintrodução do lobo e dos ursos, espécies protegidas em nome da biodiversidade. Apesar da devastação que inflige aos rebanhos, matar um lobo acarreta pesadas penas.
O ambientalismo radical às vezes se transforma em situações cômicas. No Brasil, uma mulher obteve na Justiça o direito de levar seu papagaio, espécie protegida, em viagem à Europa, alegando “laços familiares”. Mais tristemente, a França proíbe animais selvagens em circos, privando as crianças de entretenimento saudável e as famílias circenses da sua profissão tradicional, sob o pretexto de “sofrimento animal”.
Estes exemplos mostram como o ambientalismo radical promove políticas imprudentes e punitivas, muitas vezes mais prejudiciais do que benéficas.
Se o respeito pelo meio ambiente é essencial, deve ser acompanhado de discernimento, sob pena de prejudicar a humanidade que afirma proteger.
Como mencionado anteriormente, todas estas teorias baseiam-se na ideia marxista de uma luta dialética entre uma maioria opressora e minorias que buscam a liberdade das restrições impostas pela sociedade. Seguindo o princípio de que “inimigo do meu inimigo meu amigo é”, essas correntes convergem para tentar desintegrar o sistema liderando micro revoluções setoriais.
Esta estratégia está agrupada sob o conceito de interseccionalidade, desenvolvido por Kimberlé Crenshaw. Destaca o fato de que as reivindicações relacionadas com gênero, raça, classe ou orientação sexual não podem ser isoladas, mas devem ser vistas como interligadas. Portanto, a erradicação das chamadas estruturas “discriminatórias” requer um tratamento abrangente e coordenado que vise uma transformação radical da sociedade.
Desta visão “interseccional” emergem correntes híbridas como o ecofeminismo, que articula a ecologia radical e o feminismo ao afirmar que a dominação das mulheres e da natureza encontra as suas raízes nas estruturas patriarcais. Há também, na encruzilhada do feminismo e do antirracismo, o afrofeminismo, que denuncia as opressões estruturais entrecruzadas da misoginia e do racismo, supostamente sofridas pelas mulheres afrodescendentes.
O wokismo funciona assim à maneira de um polvo com múltiplos tentáculos. Cada luta setorial — seja o feminismo, a ecologia, as lutas antirracistas ou a defesa dos direitos LGBT — pode às vezes atuar isoladamente para desconstruir o sistema, mas com frequência operam em sincronia.
Por exemplo, o movimento American Black Lives Matter inclui reivindicações feministas e LGBT na sua luta. Os povos indígenas e os ativistas anticapitalistas estão se envolvendo em lutas ecológicas. Da mesma forma, os defensores da imigração defendem os direitos dos chamados refugiados LGBT, e os livros didáticos são concebidos para incutir uma visão dita woke da história, incorporando lutas raciais, direitos das minorias sexuais e preocupações climáticas de gênero.
No entanto, essas iniciativas interseccionais não estão isentas de tensões internas. Os movimentos podem às vezes divergir devido a diferentes prioridades ou conflitos ideológicos. Mas, na maioria dos casos, essas diferenças dão lugar a um anseio comum: desconstruir as estruturas tradicionais da sociedade. O wokismo, ao promover estas convergências, torna-se assim uma força polimórfica, multiplicando frentes para amplificar o seu impacto na ordem social estabelecida.
Uma das ferramentas que revelam a abordagem comum a essas diversas correntes do wokismo é a “cultura do cancelamento”. Este mecanismo de boicote social, amplamente praticado nas redes sociais, visa denunciar e condenar ao ostracismo uma pessoa, uma organização, um órgão de imprensa ou uma conta numa rede social por comentários ou comportamentos considerados inaceitáveis de acordo com os padrões woke. O objetivo, sob o pretexto da justiça moral, é silenciar os adversários e impor uma ditadura ideológica, especialmente nas universidades, nos meios de comunicação social e nos meios culturais.
Essas campanhas de cancelamento, muitas vezes amplificadas por hashtags (#CancelX), levam a consequências concretas, como despedimentos, perda de contratos ou boicotes econômicos.
Assim, J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, tem sido alvo de repetidos ataques por suas declarações consideradas transfóbicas, como sua recente resposta a um parlamentar transgênero alegando que uma mulher trans é “biologicamente idêntica a uma mulher cisgênero”. A romancista retrucou: “Se homem é mulher, não existe mulher. Você destrói esta categoria.” Essas posições, embora argumentadas, geraram uma nova onda de boicotes contra suas obras.
A cultura do cancelamento também ataca símbolos históricos e culturais. Estátuas de Cristóvão Colombo, Junípero Serra e Cecil Rhodes foram demolidas ou ameaçadas pelo seu suposto envolvimento na opressão.
Até obras como Tintim no Congo foram condenadas por racismo e colonialismo, relidas de acordo com “sensibilidades contemporâneas”, denunciando estereótipos considerados ofensivos. Resultado: o álbum foi retirado de algumas bibliotecas ou reservado ao público adulto, e chegou a ser alvo de denúncia por racismo na Bélgica.
As histórias infantis não passam despercebidas: A Bela Adormecida foi criticada pelo “beijo não consensual” do príncipe. Em 2017, uma mãe britânica defendeu a remoção desta história da leitura escolar ou a sua utilização para educar as crianças sobre o consentimento.
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