“A má fé, seja ela inteiramente consciente ou não, provoca, com toda a justiça, a indignação do homem virtuoso. E se é verdade que em certas ocasiões é melhor não manifestar essa indignação, a fim de atrair a outra parte pela doçura, em outros casos não é senão pela indignação que a má fé se deixa desarmar.
Isto explica porque Jesus Cristo foi, para com os fautores do erro ou os pecadores, ora de uma doçura comovedora, ora de uma severidade fulminante. Isto explica igualmente que, em face do erro ou do mal, a Igreja tenha contado, em todos os séculos, com apóstolos de uma doçura inexaurível, e também com polemistas admiráveis.
Portanto, a proscrição da polêmica é antinatural, contrária aos direitos da verdade, do bem, e, ainda, aos interesses de numerosas almas mergulhadas no erro e no mal.
Não se trata de proscrever toda discussão, senão somente os tipos de discussão que não podem ser compreendidos no termo “diálogo” lato sensu. Esta objeção não modifica em nada o que vem de ser dito. O calor da discussão, da polêmica até, pode ser legítimo e indispensável.
Em princípio, o diálogo lato sensu deve ser preferido às outras formas de discussão, tal como a discussão deve, ela mesma, ser preferida à polêmica. É precisamente neste sentido que Paulo VI, na Encíclica Ecclesiam Suam, insiste tão especialmente sobre a oportunidade particular do colóquio, nas condições atuais.
Para qualquer cristão que o seja verdadeiramente de alma e coração, a doçura é sempre preferível à severidade, e a paz à guerra. No que elas têm de militante, as formas calorosas de discussão e a polêmica não devem ser empregadas a não ser quando o diálogo lato sensu se mostra ineficaz. Disto não se conclui, de modo nenhum, que os filhos da Igreja militante devam renunciar a empregar a discussão “militante” e a polêmica quando uma ou outra for exigida pela natureza mesma das coisas.
Uma leitura atenta da Ecclesiam Suam, aliás, prova facilmente que o Santo Padre não teve absolutamente o desejo de proscrever a discussão militante ou a polêmica, não obstante proponha aos fiéis que usem sobretudo o colóquio.
Isto me conduz a uma outra observação. No texto latino da Ecclesiam Suam, o Papa emprega a palavra “colloquium” e evita dizer “dialogus”. Nada há de surpreendente nisto. O termo “diálogo” tem dado ocasião a um perigoso equívoco que me cabe agora descrever.
Porque em certos meios pretendeu-se proscrever toda e qualquer discussão, chegou-se, sem perceber, a empregar a palavra “diálogo”, não mais no sentido de uma discussão muito cordial, mas unicamente no de uma simples troca de pontos de vista, de impressões ou de informações.
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