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| INTERNACIONAL-2 |

A lei do mais forte: Deus primeiro

Roberto De Mattei

Enquanto em uma sala da Policlínica Gemelli o 266º sucessor de Pedro luta contra a morte, dois poderosos da Terra, Donald Trump e Vladimir Putin, negociam o futuro da Ucrânia e da Europa.

O aparente diálogo entre o presidente dos Estados Unidos e o chefe da Federação Russa é, na verdade, um cabo de guerra. O presidente americano pretende estabelecer um eixo preferencial com a Rússia, para separá-la da China, que é o principal adversário dos Estados Unidos em escala global.

O objetivo estratégico de Putin é, ao contrário, quebrar a aliança transatlântica, separar a Europa dos Estados Unidos e enfraquecer o Ocidente. Ambos os líderes estão convencidos da missão imperial de suas nações.

Em seu discurso inaugural na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025, Trump expressou a ideia do "destino manifesto" dos Estados Unidos no mundo na fórmula "America First".1

Putin, por sua vez, sempre expressou seu desejo de trazer a Rússia de volta às fronteiras e esferas de influência da União Soviética, cuja dissolução ele sempre considerou como "a maior catástrofe geopolítica do século".2

A diferença entre as duas visões reside não apenas no fato de que a estratégia de Trump sobre a Ucrânia foi elaborada por seus conselheiros nas últimas semanas, enquanto a de Putin expressa a consistência daqueles que lideram a Federação Russa há 25 anos.

A principal assimetria é que o plano de Trump, marcado pelo realismo bruto, interpreta a política como um jogo de poder variável, dependendo do posicionamento no tabuleiro de xadrez da dominação mundial. A Ucrânia, nessa perspectiva, pode se tornar uma moeda de troca, sujeita aos interesses das grandes potências.

Putin, por outro lado, tem uma filosofia da história delineada em seu discurso de 12 de julho de 2021 no Valdai Club e em vários outros documentos. Em sua visão geofilosófica, a Ucrânia está destinada a ser absorvida pelo território, língua, cultura e fé religiosa de uma Rússia que está se levantando, não apenas em suas antigas fronteiras, mas acima de tudo em sua nova missão imperial contra um Ocidente moribundo.

Putin pensa em termos de um choque universal de civilizações, Trump em termos de interesses políticos e econômicos contingentes. No entanto, ambos são baseados em uma mentira. Putin baseia sua narrativa em uma falsificação, que nega as verdadeiras origens de Kiev, que, ao longo da História, pertenceu à civilização cristã da Idade Média e não ao Oriente moscovita. Trump quer justificar sua virada política negando a verdade da agressão russa contra a Ucrânia, que começou já em 2014 com a anexação da Criméia.

Os líderes europeus estão consternados: a hipocrisia das democracias em matéria de direitos humanos e de autodeterminação dos povos é mais uma vez destruída. Hoje, de Putin a Trump, mas também de Xi Jinping a Erdogan, existe apenas aquela "lei do mais forte", que foi formulada pelo historiador ateniense Tucídides.

No quinto livro da Guerra do Peloponeso, dedicado aos acontecimentos do longo conflito que opôs Esparta a Atenas no final do século V, Tucídides narra o diálogo entre os embaixadores atenienses e os da pequena ilha de Melos, sitiada pela imponente frota ateniense. Os habitantes de Melo rejeitaram o domínio de Atenas e foram impiedosamente exterminados. Portanto, depois de afirmar que a lei se aplica apenas entre aqueles que estão em condição de igualdade de forças, Tucídides afirma a existência de uma lei da natureza, também adotada pelos deuses, segundo a qual o mais forte subjuga corretamente o mais fraco.

Há uma verdade na declaração de Tucídides. O espetáculo da natureza sempre nos oferece a prevalência da força. Mas supondo que a lei do mais forte prevaleça na natureza, surgem algumas questões: Em que consiste a força? E a força é realmente sempre inseparável da justiça? A única resposta verdadeira a estas perguntas provém da philosophia perennis aristotélico-tomista e, sobretudo, do ensinamento da Igreja Católica, que explica como o primado que o homem racional atribui à verdade e à justiça não é uma abstração ilusória.

Com efeito, o homem possui uma vida sobrenatural, que tem o seu início na graça, uma realidade que transcende e supera toda a natureza e nos introduz no âmbito do divino e do incriado. Por isso, São Tomás pôde escrever que o menor grau de participação na graça santificante, considerado em um único indivíduo, é superior ao bem natural de todo o universo (Summa Theologiae, I-II, 113, 9 ad 2).

Quem lê os acontecimentos humanos apenas à luz da força material, raciocina como Stalin, que em Yalta, diante daqueles que apontavam as exigências de Pio XII à ordem europeia, perguntou: "Quantas divisões tem o Papa?". Mas, em 1953, quando se anunciou a morte do líder soviético, Pio XII teria dito a um íntimo: "Agora Stalin verá quantas divisões temos lá em cima!".

A última palavra pertence sempre a Deus, a cujo tribunal cada homem, mesmo um Papa, se apresenta. É por isso que o Papa Francisco, o Vigário de Cristo, é hoje objeto de oração por parte dos católicos de todo o mundo. O que mais importa não é a saúde do corpo, mas a da alma, que está voltada para o limiar da eternidade. As orações dos católicos neste momento dizem


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