Pasquale Sarullo foi um pintor franciscano natural da província de Palermo (Itália) que viveu no século XIX. Suas obras foram apreciadas por seus contemporâneos e tiveram circulação internacional1. Dentre elas destaca-se a pintura da Mãe do Bom Conselho, que "se encontrava" na sala capitular do famoso Convento de Assis. Sim, disse "se encontrava" porque o quadro desapareceu! Só dispomos hoje de fotografias dele. O que teria ocorrido?
O pintor franciscano sem dúvida quis fazer uma cópia da Mãe do Bom Conselho de Genazzano, o milagroso afresco cuja história remonta ao século XV e cujos prodígios já foram relatados em Catolicismo (vide, p. ex., edição de abril-maio/1968).
Plinio Corrêa de Oliveira, entusiasmado devoto da pintura de Genazzano, comentou em ricos detalhes a imagem, de onde podemos vislumbrar sua grande veneração por Nossa Senhora2. Parece-me que a Mãe do Bom Conselho de Assis se presta também a um comentário e a uma meditação. Que estas considerações aumentem a nossa devoção a Maria Santíssima.
O primeiro aspecto a se observar na imagem é sua inefável delicadeza. Nesse sentido, dois pequenos detalhes simplesmente materiais me chamam a atenção: o véu translúcido de Maria e as discretas orlas brancas na túnica do Menino Jesus. Tal delicadeza vem conjugada com a sublime ternura das duas figuras: o Divino Infante e sua Santíssima Mãe parecem se comprazer um com o outro de um modo que somente o mais perfeito dos filhos pode sentir pela mais perfeita das mães; e vice-versa.
É bem verdade que a natural reciprocidade entre o amor maternal e o amor filial traz essa nota de comprazimento, algo que a maioria de nós provavelmente experimentou em algum momento da vida. Mas, ao contemplarmos esta pintura, a manifestação de tal sentimento se eleva a um grau quase incompreensível. Apenas Jesus e Maria podem alcançá-lo e compreendê-lo perfeitamente.
Observe-se o olhar do Menino. Não é verdade que Ele parece — se o adjetivo cabe sem irreverência — "abismado" diante dessa maravilha que é a sua Mãe Santíssima? O próprio Deus admirando a mais excelente das criaturas: obra d’Ele e, ao mesmo tempo, sua Mãe. E Ela, a mais pura das mães e a mais fecunda das virgens, com os olhos baixos talvez direcionados ao Filho, transmite no conjunto do semblante uma humildade profunda, como aquela manifestada na sua oração do Magnificat: "Minha alma engrandece ao Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque lançou os olhos sobre a humildade de sua escrava, por isso me chamarão bem-aventurada todas as gerações" (São Lucas 1, 46-48).
Nessa esplêndida troca de admirações vê-se também uma clara ilustração daquilo que São Luís Maria Grignion de Montfort escreve no Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem: "Deus Filho desceu ao seu seio virginal, qual novo Adão no paraíso terrestre, para aí ter suas complacências e operar em segredo maravilhas de graça. [...] Patenteou a sua força em se deixar levar por esta Virgem santa." (n.18)
Tomando de novo a natureza das coisas, uma mãe é, sob diversos pontos de vista, superior ao filho, e tal realidade transparece no quadro. Maria é quem guarda e protege Jesus, que aceita sujeitar-se a Ela. Por outro lado, a Virgem Mãe inclina-se reverente ao Filho, em reconhecimento de tudo aquilo que Ela recebeu d’Ele. Ela deseja manifestar sua inferioridade, apesar de que o enlevo expresso no olhar do Filho Divino realça as excelências de sua Mãe.
Em razão disso, é mais do que explicável o gesto da mão esquerda de Maria. Ela apenas toca com os dedos as costas do Menino, indicando sutilmente o sumo respeito pelo infinito tesouro que tem nos braços. Nada de destemperado ou desequilibrado há aqui. Esta Mãe