A MÚSICA, LOUVOR DE DEUS, OU INSTRUMENTO DOS DESIGNIOS DE SATANÁS
Cunha Alvarenga
Na vanguarda revolucionaria não se pode separar o setor estético do setor religioso, do setor político, do setor econômico, de tal modo eles se interpenetram, apesar das aparências em contrário. E no setor estético temos que encarar essa ação subterrânea em suas ramificações pela literatura, pela poesia, pelas artes plásticas, pelo mundo da imagem e do som.
Já nos ocupamos da arquitetura, da escultura, da pintura, como subdivisões da arte moderna que têm nas doutrinas teosóficas e ocultistas suas verdadeiras inspiradoras, tanto na vertente figurativa como na não-figurativa ou abstracionista.
Hoje queremos nos referir, de modo particular, ao setor musical, ao mundo do som, que não podia ser esquecido por aqueles que desejam assediar o homem moderno através de todos os sentidos, por todos os aspectos de sua vida individual e social.
Em uma primeira aproximação, poderíamos dizer que assim como no mundo das imagens foi feita pela arte moderna a substituição do belo pelo grotesco e pelo deformado, assim também no mundo dos sons a preocupação foi de substituir a harmonia pela cacofonia, a vibração melódica pelo barulho.
Já o Santo Padre Bento XV advertia os fiéis contra os ritmos bárbaros de músicas e danças que os criadores do jazz e do futurismo foram buscar na degenerescência artística do negro norte-americano. De lá para cá a depravação da sociedade humana no Ocidente pelo ruído musicado vem se alastrando num crescendo desolador. Ora, assim como os Céus narram a glória de Deus, do mesmo modo as harmonias do som constituem como que um eco terreno e fugaz da beleza eterna e invisível do Criador. Eis porque é comum na vida dos Santos a referência às melodias celestes com que se abrem aos justos as portas da eternidade feliz. É fácil de compreender, portanto, que na ciclópica investida dirigida pelo pai da mentira contra o plano da Redenção, esse importante setor estético não podia escapar. E, no perpétuo repetir-se a si mesmo que caracteriza a ação do anjo das trevas, a ninguém deve surpreender que encontremos na música "moderna" a mesma preocupação da luta contra a razão e a consciência, com o uso das mesmas armas do automatismo, do regresso ao chamado primitivismo, à arte dos loucos, das crianças, dos selvagens, e todos aqueles truques e escamoteações que já encontramos no setor das artes plásticas ditas de vanguarda.
Nem tudo, porém, nessa obra de destruição resulta do caos, da anarquia musical, da exploração da desordem cacofônica de marginais dos slums e das favelas, ou dos ritos mágicos da África e da Polinésia. No meio dos guinchos, apitos, uivos e arritmias dessa depravação dos sons podemos entrever no setor da chamada música moderna erudita vislumbres daquilo que Polônio percebia na loucura de Hamlet: um certo método.
É o que se dá com os falsos profetas da música moderna, os Schoenberg, os Strawinsky, os Honegger. São eles os Picassos, os Klees, os Kandinskys do som enlouquecido.
"Arnold Schoenberg (1874-1951), pintor, violinista e violoncelista, lança-se à tarefa de destruir inteiramente os princípios da harmonia clássica, sendo de lastimar que em sua Harmonienlehre (1911) não chegue a explicar teoricamente o que logo depois Krenek e Stein deduziriam. Desarraiga os princípios tonais que, desde o período clássico, eram o fundamento da música do Ocidente, e se coloca em posição estética similar à de Kandinsky quando este pinta uma aquarela completamente abstrata, rompendo os restos de representação e figuração que flutuavam no caos expressionista" (Juan-Eduardo Cirlot, "El Estilo del Siglo XX", ed. Omega, Barcelona, p. 38).
Tão semelhante foi o papel de Schoenberg na música, com o de Kandinsky na pintura, que ambos exerceram sua arte em estado de transe... Kandinsky, sabemos, inspirou seu abstracionismo no ocultismo teosófico haurido nas obras de Madame Blavatsky. O mesmo acontecia com Mondrian. Picasso, segundo o testemunho de Herbert Read, também costuma mergulhar, em transe, nas profundezas do subconsciente para de lá retirar seus horrores plásticos.
Fazendo um relato das descidas de Schoenberg às trevas do subconsciente e de seu modo subjetivo e irracional de compor, mostra Roman Vlad que "muitas dessas obras nasceram como em sonho". E prossegue: "Th. Viesengrund Adorno dá-lhes o nome de protocolos oníricos em sentido psicoanalítico, ao passo que R. Leibowitz define o monodrama Erwartung não somente como uma obra composta em estado de transe, mas como uma música na qual o estado de transe parece se tornar o fator constitutivo primordial e decisivo dessa música, de modo que nos é permitido falar a esse propósito de música de transe. A superação da música enquanto dirigida pela razão vinha sendo defendida e propugnada naquele tempo por teóricos do expressionismo musical e pelo próprio Schoenberg. Para nos convencermos disto basta que releiamos o ensaio de Theodor von Hartmann Da anarquia na música, incluído no Cavaleiro azul . . ." (Roman Vlad, "Demonicità e dodecafonia" no volume "Filosofia dell'Arte", Archivio di filosofia, Ed. Fratelli Bocca, Roma, p. 82).
A esta primeira fase expressionista, de superação da razão e da consciência, segue-se uma
(continua)