FRANCISCO JULIÃO fala sobre reforma agrária, e as Ligas Camponesas brandem espadas de madeira, símbolo — não desprovido de ridículo — de sua sanha destruidora. Em face deste fenômeno pode o católico tomar uma atitude do gênero terceira força?
3a FORÇA CATÓLICA EM FACE DO COMUNISMO?
Fabio Vidigal Xavier da Silveira
Sobre o problema da reforma agrária criou-se neste País um flagrante antagonismo de opiniões. De um lado, estão os conservadores, os anticomunistas, os antissocialistas. Percebem que algo de muito sério deve ser feito, no que diz respeito, por exemplo, à melhoria das condições de vida do nosso homem do campo. Negam, porém, a necessidade de uma reforma de base. Reclamam uma política agrária que proteja o trabalhador rural, que lhe proporcione os meios para adquirir uma melhor instrução, que dê mais credito ao pequeno lavrador para que ele possa se tornar proprietário, etc. Afirmam que deve continuar a existir, por ser em si mesmo justo, o regime do salariado. Defendem a coexistência das grandes, medias e pequenas propriedades. Uma redistribuição compulsória de terras de nada adiantaria.
Do lado oposto, surgem os esquerdistas, que veem o problema de outra maneira: devem ser loteadas as grandes propriedades e deve ser extinto, por ser em si mesmo injusto, o regime do salariado. Querem eles uma reforma de base. Inimigos que são do instituto da propriedade, exigem uma reforma agrária do tipo da que se fez em Cuba, na China, na Hungria, ou na Rússia: extremada, total e esquerdista. Para eles, pouco ou nada importam as diretrizes da Igreja. São apóstolos do mal, filhos das trevas incumbidos por Satanás de corromper as nações.
Entre estas duas posições, situam-se os homens intermediários, os da política da «main-tendue», aqueles que querem «ceder para não perder» e que, exatamente por terem cedido, acabarão perdendo. Seus pares apoiaram em Cuba a ascensão de Fidel Castro ao poder e acusavam de «reacionário» quem quer que mostrasse ser comunista o líder de Sierra Maestra. São os que só se convencem de que alguém é marxista quando este alguém se declara tal. Assim mesmo, procuram, por vezes, ressalvar nele a elevação das intenções ou as «generosas aspirações de uma revolução sadia».
COMUNISTA E BLASFEMO
Lideram a corrente dos que combatem o agro-reformismo os autores do livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência»: D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, o líder católico Plinio Corrêa de Oliveira e o economista Luiz Mendonça de Freitas. São defensores do mais puro e ortodoxo pensamento católico.
Entre os que lutam por uma reforma agrária esquerdista e anticristã, o líder de mais prestígio (fruto de sua demagogia) é o deputado pernambucano Francisco Julião.
O seu método de ação resume-se em insuflar a luta de classes. Dizendo-se defensor dos direitos dos «camponeses» oprimidos, levanta os trabalhadores contra seus patrões. Vendo que grande fonte de votos poderia representar o meio agrícola, pôs-se a viajar de engenho em engenho, entrando em contato com a pobre gente que neles moureja. Em lugares onde a situação era de calma, levava ele a revolta; onde havia paz, introduzia a desordem; pacatos trabalhadores foram por sua maligna influência sendo transformados em agitadores façanhudos. Começou sua atividade «redentora» amotinando o Engenho Galiléia.
É um comunista e não escondo que o seja. Blasfema frequentemente. Afirma ter na Bíblia um de seus manuais de trabalho; para ele a Sagrada Escritura é um livro «revolucionário». Recentemente declarou que, «quando invoca Cristo ou Francisco de Assis, coloca-os junto a Mao Tsé-tung e Fidel Castro». Proclamou, ainda, ser a reforma agrária de Cuba «autêntica, legítima». Não faz muito, apareceu na tribuna ao lado de Prestes.
Um bom católico não pode deixar de sentir repulsa por Julião, uma vez que este é comunista, blasfemo, agitador perigoso e inimigo da Igreja. Isto é o que deve pensar dele todo católico tradicional.
CATÓLICOS "BOSSA-NOVA"...
Infelizmente, porém, surge agora um novo gênero de católico, que toma uma posição nova em relação às esquerdas. Pertencem a ele determinados dirigentes do PDC, os católicos «bossa-nova», os católicos «bienalescos», possuidor do «complexo» de que as massas se perdem porque eles não são suficientemente esquerdistas. Para eles há um Cristianismo novo, ao qual já não choca a idéia de um acordo e uma aliança com o comunismo. Isso que até agora era considerado pelos católicos tradicionais como adultério, é para alguns «iluminados» do PDC uma união legítima, um casamento casto.
Representante característico desta mentalidade é o Sr. Jorge Cunha Lima, subchefe da Casa Civil do Governador paulista. No jornal «Última Hora» (esquerdista), escrevendo sobre a reforma agrária, chegou a afirmar que a «ideia de que o superfino pertence à comunidade só encontra opositores nos ortodoxos da burrice» (cf. «Última Hora», de São Paulo, 10-12-1960). Isto foi escrito antes da «Mater et Magistra». Espero que agora já tenha ele mudado de opinião.
Também pertence ao gênero o deputado estadual paulista Roberto Cardoso Alves. Analisando em sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo a Encíclica «Mater et Magistra», fez um trabalho de exegese interessantíssimo pela sua originalidade: analisou o documento sob o prisma de um homem de esquerda. Para ele, a reforma agrária, a reforma urbana e a reforma da empresa econômica (reforma industrial) estão na linha de pensamento do Papa. Será que com esta afirmação quer o ilustre parlamentar defender as três reformas cubanas? Tenho a impressão de que, daqui a algum tempo, certas pessoas começarão a procurar nas Encíclicas razões para justificar o divórcio, a poligamia, etc....
ESCRÚPULOS DE UM PEDECISTA
Outro líder pedecista de prestigio é o Sr. Paulo de Tarso, ex-prefeito de Brasília, esquerdista católico, e entusiasta da política (interna e externa) do Sr. Janio Quadros, de quem foi fiel colaborador. Há alguns meses, sustentou ele, publicamente, ser o comunismo melhor que o capitalismo. Recentemente, no debate que teve com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira num programa de televisão em São Paulo (ver «Catolicismo» n° 132, de dezembro de 1961), defendeu a tese de que o socialismo é compatível com o Catolicismo. Não aduziu argumentos. Empregou «slogans» e usou de demagogia, procurando esquivar-se às perguntas formuladas pelo seu opositor. Ficou flagrante sua habilidade em se desviar das objeções irrespondíveis.
Sobre Julião e as Ligas Camponesas, cumpria ao Sr. Paulo de Tarso, como bom católico que deve ser todo líder do PDC, já ter opinião formada. Basta alguém ser comunista para merecer a repulsa de todo bom católico. Mas não. O Sr. Paulo de Tarso é de raciocínio lento (e escrupuloso) no condenar alguém, mesmo que se trate de um comunista. Só é rápido no julgar aqueles que chama de «reacionários». Muito provavelmente, antes de conhecer o livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência», já o censurava.
Há pouco tempo, anunciou (in «O Estado de São Paulo», de 15-8-1961) que provocaria debates «sobre as Ligas Camponesas, no seio do PDC», e que o partido deveria tomar posição a respeito daquele movimento (estranha-se que ainda não tivesse tomado). Esta declaração deixa entrever o desejo de não combater as Ligas para não chocar elementos que são aliciáveis tanto por Julião como pelo líder pedecista.
O Sr. Paulo de Tarso deveria ter-se manifestado energicamente contra a obra subversiva do deputado pernambucano, uma vez que esta já era suficientemente conhecida na ocasião. Um político como ele não tem o direito de afirmar não ter ainda tomado posição com referência a um movimento como o das Ligas Camponesas.
Aliás, o próprio Julião percebe que está sendo namorado por certa ala do PDC. Depois de declarar que encara com simpatia a nova orientação que vem sendo tomada por alguns setores daquele Partido (orientação esta, diga-se de passagem, cada vez mais esquerdizante), a qual considera mais condizente com a realidade, informa ter tido contatos com próceres pedecistas, acreditando na possibilidade de um entendimento entre estes e os elementos das Ligas, na luta em favor das reivindicações populares (cf. «Folha de São Paulo», 1ª edição, de 20-7-1961). Se o conhecido agitador agro-reformista julga possível esta colaboração, é porque os pedecistas a que alude lhe deram esperanças: acharam viável a colaboração de católicos com o comunismo.
... E SEU "COMPLEXO"
Paulo de Tarso parece sofrer de um «complexo» de inferioridade por não poder ser mais esquerdista. Querendo tomar dos marxistas a bandeira da Revolução (esquecido de que, em si mesma, a Revolução é anticristã), receia combater os homens, do tipo Julião, lamenta não poder ser tão extremista como este. Fogoso com Plinio Corrêa de Oliveira, torna-se tímido diante de Francisco Julião. Contra aquele não se acanha de lançar, implicitamente, a pecha de defensor dos abusos do capitalismo. Contra o agitador tem vergonha de atirar uma pedra sequer.
Dir-se-ia que o que acontece é que Paulo de Tarso está louco de vontade de ser Julião.
VIRTUDES ESQUECIDAS
RESISTIR AOS HEREGES
Do Canon 240, § 1°, das Constituições do I Sínodo Romano, promulgadas pelo Santo Padre João XXIII, através da Constituição Apostólica "Sollicitudo omnium Ecclesiarum", de 29 de junho de 1960:
Também os leigos, procedendo de maneira legítima, ainda que isso lhes cause alguns incômodos, devem resistir aos acatólicos, que não só ousam disseminar entre o povo o que pensam contra a fé católica, como também se esforçam por incutir no espírito dos outros as suas opiniões.