LOUVAY OBRAS DO SENHOR A SENHORA: porque ella he a mais nobre, a mais excellète, e perfeyta obra do Senhor.
Louvay Sol, e Lua a Senhora: porque a Senhora he escolhida como Sol, e fermosa como a Lua.
Louvay estrellas do Firmamento a Senhora: porque ella he a radiante estrella, que guia os navegantes do mar deste seculo.
Louvay nuvés do Senhor a Senhora: porque ella he a nuvem leve, em que desceo a nós o Verbo de Deos humanado.
Louvay orvalhos da manhã a Senhora: porque ella he o vello de Gedeão, que embebeo o celeste orvalho do Divino Verbo.
Louvay neves, e geadas a Senhora: porque o candor de sua pureza he a refrigerio dos incentivos de nossa carne.
Louvay rayos, e relâmpagos a Senhora: porque ella he o esplandor clarissimo, e eficacissimo da luz da Divina Graça.
Louvay todas as fontes, e mares do Senhor a Senhora: porque a Senhora he fonte fechada com o sello de Deos, he o poço de aguas vivas, e o mar de todas as graças juntas.
Louvay plantas, e flores do campo a Senhora: porque ella he a rosa de Jericó, o lirio entre espinhos, a palma de Cadés, o cedro do Libano, a árvore da Vida, que nos produzio o fruto felicissimo da vida eterna.
Louvay montes do Senhor a Senhora: porque a Senhora he o monte santo de Sião, onde se fundou o templo vivo da Humanidade de Christo.
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Louvay mininos innocentes a Senhora: porque de seu intacto ventre se dignou Deos nascer Minino, pare nos restituir à primeyra innocencia.
Louvay Sacerdotes do Senhor a Senhora: poys ella foy a grande Sacerdotisa, que em suas mãos tomou, e offereceo a Hostia viva, e perenne sacrificio q tira os peccados do mundo.
Louvay Profetas do Senhor a Senhora: porque ella he a profetizada Profetiza, a quem chegou o Espírito Santo com sua sombra, para conhecer o Rey que tem por nome Apressa-te a vencer, e despojar teus inimigos.
Louvay Martyres do Senhor a Senhora: porque ella foy mais que Martyr, não só de Christo, e por amor de Christo, como vós o fostes: mas no mesmo Christo, cuja cruz a crucificava.
Louvay Virgès do Senhor a Maria: porque Maria he da Virgindade a fórma, a gloria, e o magisterio.
Todos os Santos, todos os Espiritos Bemaventurados, todas as creaturas do Ceo, e terra, louvem, e exaltem, e magnifiquem a Maria: porque Maria he a dignissima Rainha, e absoluta Senhora dos Anjos, e Santos, e de todas as creaturas.
Gloria a Deos Padre, de quê Maria he filha primogenita: gloria a Deos Filho, de quem Maria he Mãe verdadeyra: gloria a Deos Espirito Santo, de quem Maria he Esposa escolhida: gloria à Beatissima Trindade, de quem Maria he sacrario animado. Agora, e sempre, e por seculos de seculos. Amen.
Padre Manoel Bernardes
(Luz e Calor — Solilóquio XXII)
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE
O BOM CONSELHO
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo Diocesano
Medianeira de todas as graças, a Virgem Santíssima, Nossa Senhora, é invocada sob diversos títulos, segundo o ângulo especial da necessidade, cujo solução se espera da onipotente súplica da Mãe de Deus. A Ladainha lauretana reúne um precioso ramalhete de muitas dessas invocações, que os fiéis soem depositar com amor filial, aos pés da Mãe Celeste. São outras tantas jaculatórias caras aos que se sentem atribulados em meio aos vagalhões do mar encapelado do mundo, que tentam submergi-los. "Mater Boni Consilii, ora pro nobis" é um dos apelos que a alma, solicitada entre o bem e o mal, dirigem à Virgem Maria. Nos tempos atuais, tal jaculatória deveria estar continuamente em nossos lábios, tão grande é hoje a necessidade do bom conselho. Consideramos, por isso, favor do Céu as comemorações do quinto centenário do aparecimento da milagrosa imagem da Mater Boni Consilii de Genazzano. Realmente, tais comemorações chamam a atenção para a necessidade do bom conselho a fim de que o procedimento do fiel seja prudentemente virtuoso, e indicam o meio de adquirir esse hábito intelectual e dom do Espírito Santo.
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São Tomás filia o conselho à prudência, virtude cardeal básica que age em todas as demais virtudes. De fato, é a prudência que, pelo conselho, mede as relações entre os meios e o fim, e orienta a vontade na deliberação livre. Não obstante o alvedrio conserve sempre a misteriosa liberdade de eleição — porquanto só é necessitado pela visão do Sumo Bem — procederá, normalmente, de modo reto quando tem ao seu serviço o hábito de bem ponderar as relações entre os meios e o fim.
Semelhante dinamismo do ato humano é, infelizmente, perturbado pelas paixões, como o sentiram já os filósofos pagãos que, apreciando e aprovando embora o bem que conheciam, na prática aderiam ao mal que detestavam: "vídeo meliora proboque, deteriora sequor", dizia Ovídio (Metamorf. VII). De onde ser a graça indispensável, não só para agir bem, como — já na raiz — para ponderar bem. O bom conselho, sobretudo o hábito de ponderar bem, é, pois, fruto da graça, e como todas as graças se obtém pela intercessão de Maria Santíssima, Mater Boni Consilii.
Ao lado do conselho que São Tomás faz parte da virtude da prudência, há o dom do conselho que o Espírito Santo difunde na alma, no momento da justificação, e que a torna dócil às suas inspirações. Virtude e dom se aliam para facilitar à alma conhecer e julgar das coisas terrenas segundo o espírito de Jesus Cristo, de maneira a viver "sub luce aeternitatis".
Não precisamos sublinhar que, como ensina São Luís Maria Grignion de Montfort, é por Maria que age o Espírito Santo nas almas. Também neste sentido Maria Santíssima é a Mater Boni Consilii, como progenitora desse inefável fruto do Espírito Santo em nossas almas.
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Ora, na ebulição doutrinária que invadiu a Igreja após o II Concílio Vaticano, tornou-se para o fiel mais indispensável, se assim podemos nos exprimir, o conselho sobrenatural. O Santo Padre declara que um falso espírito pós-conciliar pretende revolucionar toda a Igreja (cf. Exortação Apostólica "Petrum et Paulum", de 22 de fevereiro de 1967), espírito de vertigem que abala as verdades mais fundamentais da Fé e moral revelada (cf. Alocução à CEI, de 1967). O precioso testemunho do Vigário de Cristo é corroborado pelos fatos que todos podem observar.
Um relativismo, que ninguém imaginaria possível nas fileiras da Igreja, põe em dúvida até mesmo a existência da verdade objetiva. A austeridade cristã, que tem base nos dogmas do pecado original e da Redenção operada pelo Divino Crucificado, é substituída por um hedonismo desenfreado, a cuja satisfação cedem os preceitos tradicionais, que regularam sempre o procedimento do fiel nos diversos estados de vida em que possa encontrar-se. Pio XI mostrava: que o comunismo é intrinsecamente mau, o que impedia a colaboração com os comunistas em qualquer campo. Hoje procura-se uma aliança com o socialismo soviético, e seu sistema social e econômico é apontado como o ideal a que devem tender os discípulos do Divino Mestre. Sempre se pensou na Igreja que a obra de Jesus Cristo visava a salvação eterna, e apenas como conseqüência obtinha um maior bem-estar terreno. Hoje, inverte-se a palavra do Salvador, e em vez de dizer que devemos procurar antes de tudo o Reino dos Céus e sua justiça, e que o resto virá de acréscimo, ensina-se que sem o bem-estar terreno é impossível a prática da virtude. À Religião voltada ao culto divino substitui-se a religião do homem. A esperança do Paraíso de Deus cede lugar à confiança nas conquistas terrenas como valores supremos.
No meio de toda essa confusão, para conservar o espírito de Jesus Cristo deve o fiel recorrer freqüentemente à Mãe do Bom Conselho, porquanto somente dEla poderá obter a luz indispensável para orientar-se nas obscuridades em que está envolvido.