A SAGRADA IMAGEM,
O CULTO
E AS FONTES HISTÓRICAS
Gustavo Antonio Solimeo
A Imagem que é um milagre
A Santa Imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho venerada em Genazzano é um afresco pintado sobre uma delgadíssima crosta de reboque que mede 42,5 por 31 cm (sem o cristal protetor).
É fora de dúvida que o afresco jamais foi removido do lugar onde miraculosamente pousou. Quem visita o Santuário pode constatar que a Imagem não ocupa o centro da parede e que a Capela construída depois para abrigá-la não pôde por essa razão ter simetria.
Representa esse santo quadro a Virgem Maria com o Menino Jesus no braço esquerdo. A Mãe, suavemente inclinada, encosta num gesto afetuoso a sua face na do Filho, o qual lhe cinge amorosamente o pescoço e o peito. Nossa Senhora está vestida de verde escuro, enquanto a veste do Divino Infante é vermelha. Da cabeça da Senhora desce um manto azulado que cobre os ombros do Menino. Sobre as cabeças aureoladas vê-se um fragmento do arco-íris. Não é fácil descrever a delicadeza do gesto, o gracioso da postura, a doçura e melancolia da expressão, a suavidade das tintas, o harmonioso do traçado, a beleza celeste, enfim, do conjunto. "A simples existência desta frágil Imagem parece um milagre; a conservação das cores parece outro" (Dillon, p. 74). Com efeito, há cinco séculos está o quadro em Genazzano, e as suas cores e traços parecem mais nítidos do que nunca.
Jamais pintor algum conseguiu fazer uma cópia exata da sagrada Imagem. Existem belas reproduções, que têm maior ou menor semelhança com o original; algumas delas se mostram até milagrosas, como, por exemplo, a que se venera em Gênova e a que se encontra na Capela do Colégio São Luís, de São Paulo; nenhuma porém reproduz adequadamente a de Genazzano. É que esta Imagem está continuamente mudando de aspecto, tanto nas cores, quanto nos traços e na expressão da Virgem.
Sua expressão e cores variam segundo as disposições do observador
Testemunho disto dá, entre muitos outros, o Padre Francisco Xavier Vásquez, Geral dos Agostinianos, em uma carta dirigida em 1754 aos Religiosos de sua Ordem por motivo da aprovação da Pia União de Nossa Senhora do Bom Conselho. Diz ele: "Vimos a belíssima Imagem para lá conduzida pela mão dos Anjos, das regiões da Albânia, em 1467, e cuja beleza cativa os corações de todos os que a olham. O seu aspecto ora é alegre, ora triste, ora iluminado de tintas róseas, segundo as disposições do visitante que dela se aproxima; e sua aparência formosíssima a fez comparada ao Paraíso, e por isso foi antigamente chamada Santa Maria do Paraíso" (Dillon, p. 83). O Cônego Bacci, apóstolo da devoção à Senhora do Bom Conselho em Roma, o Padre Rodotà, missionário entre os albaneses da Calábria, e o próprio Mons. Dillon assistiram a esse prodígio (ib., pp. 81-84).
Queremos aqui registrar as observações feitas no dia 11 de junho de 1747 pelo pintor genovês Luigi Tosi, juntamente com seis Sacerdotes, quando o primeiro examinou a Imagem de perto e sem o anteparo de cristal, a fim de fazer uma cópia tão fiel quanto possível, para a sua cidade natal, cópia essa que mais tarde se tornou célebre pelos milagres operados por seu intermédio. Desse exame lavrou-se uma ata, autenticada pelas assinaturas dos presentes, Padre Mestre Guglielmo Pancotti, Prior dos Agostinianos de Genazzano, Andrea Bacci, Cônego de São Marcos, Frei Bartolomeo Daglio, Agostiniano, Provincial da Lombardia, Frei Giambattista Maria Fossati, Sacristão, Padre Antonio Maria Madureyra, e Lorenzo Jacopini, "Tesoureiro de Sua Excelência o Senhor Colonna". Lê-se nesse documento (Buonano, pp. 196-200):
"Primeiramente, o referido pintor Senhor Luigi, tendo-se prostrado diante do altar da dita Santa Imagem, depois de havê-la contemplado e olhado muito bem, e considerado muitas vezes atentissimamente, viu claramente e publicamente afirmou que de todas as Cópias — quer pintadas, quer gravadas em cobre — até agora feitas em tempos diversos e após reiteradas observações de tão prodigiosa Imagem, nenhuma se assemelha verdadeiramente a ela; e que será difícil e mais que difícil encontrar um pintor tão excelentemente hábil, que se lhe possa atribuir a glória e o mérito de havê-la retratado e copiado com uma inteira e perfeita semelhança ao Original; porque os traços e linhas tanto da santa Imagem de Maria como também da do Santo Menino que Ela estreita graciosa e amorosamente junto ao peito e à face, são tão finos, delicados, gentis, amáveis e singulares, que parece antes obra e pintura angélica que humana.
Em segundo lugar, o mesmo Senhor Luigi, com a perícia que tem das Imagens de Maria, tanto antigas quanto modernas, como digno discípulo e aluno do tão célebre Solimene, observou, afirmou e concluiu que [...] em todos os seus pormenores [da Imagem de Genazzano] há uma tal finura e excelência de gosto, que é preciso observar e ponderar muito bem nela até as menores coisas, e os mais miúdos traços, para chegar-se a fazer uma cópia a mais semelhante que possa a arte e maestria da pintura atingir. De onde com firmeza concluiu publicamente que algum artista muito superior ao homem, ou ao menos algum santo homem, a terá traçado e pintado; tanto mais que não se pode conhecer ou discernir se se trata verdadeiramente de pintura, ou de imagem miraculosamente, e com celestes cores, impressa, e quase que entranhada num simples reboque e crosta de parede, que é todo o suporte de tão grande tesouro.
Terceiro. Confessou ingenuamente ele mesmo que, mal se tendo sentado diante do altar [...], de repente as formas lhe pareceram de tal modo confusas, que, sem poder formar idéia ou imagem alguma do Original, não sabia mais para onde voltar-se, nem o que resolver, nem como começar. Mas depois foi inspirado internamente a prostrar-se: apenas dobrou os joelhos, humilde e devoto, com grande reverência e respeito diante da Santa imagem, logo se lhe esclareceu o espírito, e na imaginação se imprimiu a idéia do Original; e assim pôde felizmente começar a copiá-la, prosseguindo depois durante dois dias, quase que continuamente de joelhos [...].
Quarto. O mesmo Senhor Pintor Luigi observou e considerou, e na presença de todos nós afirmou, que esta santa e miraculosa Imagem muda a todo instante e de uma vez de semblante e de cores. Com efeito, por volta das catorze horas foi a santa Imagem descoberta e nós todos, presentes e abaixo assinados, a vimos com o rosto alegre, doce e amável, mas de cor pálida, como de costume. Cerca das quinze horas, mudou de repente de semblante e de colorido, aparecendo aos olhos de todas as testemunhas presentes com um novo ar de majestade, e com o rosto tão inflamado, purpúreo e chamejante, que as maçãs do rosto pareciam duas rosas frescas e vermelhas. E esta imprevista, visibilíssima e potentíssima mudança encheu a alma de todos os presentes de um tão grande espanto e ternura, que um de nós prorrompeu em terníssimas e copiosíssimas lágrimas, a ponto de sair chorando da Capela e do Santo Altar, pela veemente comoção [...]
Quinto. Ele mesmo [Tosi] também observou repetida e exatissimamente que quando a Imagem mudava de aspecto, mudava também o olhar e o brilho das suas pupilas. Se se mostra alegre e serena, os olhos se tornam majestosos e risonhos; se de cor pálida, assim se mostram as pupilas virginais; se com o rosto inflamado, chamejante e vermelho, os olhos se apresentam então mais risonhos, mais alegres, mais lúcidos e mais abertos ainda. E destas prodigiosas mutações nós, abaixo assinados, vimos com grande estupefação, e ternura, além da aqui consignada, outras ainda; de onde se conclui que a Santíssima Imagem é obra mais divina que humana.
Sexto. Igualmente o Senhor Luigi observou, considerou e acreditou que as faixas de diversas cores, que há sobre o diadema da cabeça da Virgem e de seu Filho, não são ornamentos de docel ou pavilhão, como julgaram alguns em tempos passados, mas sim um pedaço de arco-íris, como dizemos. Provam isto a variedade de três cores diversas, e o antigo costume de pintar em tempos idos muitas Imagens de Maria com o arco-íris ao redor; atesta o mencionado Senhor Luigi ter feito um estudo particular sobre esse assunto".
"Contínuo e potentíssimo milagre" que dura há cinco séculos
No item sétimo essa ata de 1747 refere o "contínuo e potentíssimo milagre" que a veneranda Efígie apresenta desde 1467 aos que a observam:
"Sétimo. Finalmente, nesta ocasião, com maior facilidade e novos e subtilíssimos exames e inspeções oculares, observou-se e concluiu-se ser um contínuo e potentíssimo milagre o fato de que esta santa imagem, alta de dois palmos e larga de um palmo e meio, expressa sobre um simples reboque, superfície e crosta de parede, por quase três séculos, de 1467 até agora, se tenha conservado e ainda se conserve intacta, ilesa e perfeita, sem que o rosto da Mãe e do Filho hajam nunca sofrido o menor dano; tanto mais que o reboque, superfície ou crosta de parede, na qual bem se vê expressa e colorida e se admira a santa imagem, não tem por trás suporte ou apoio algum no qual se firme ou que a sustente".
Vários outros depoimentos atestam estar a Imagem pintada numa simples crosta de reboque destacado, não mais espessa que um papelão, como se verá adiante. Antes de tudo, queremos transcrever o testemunho de um perito nessas questões, o eminente arqueólogo Giovanni Battista De Rossi, que visitou diversas vezes o Santuário.
O advogado Galileo Vannutelli, sobrinho dos famosos Cardeais Serafino e Vincenzo Vannutelli, comunicou a Mons. Alfonso C. De Romanis, Bispo de Porfírio e Sacristão do Papa, a seguinte declaração de De Rossi, feita por ocasião de uma visita de ambos ao Santuário:
"Falo como historiador, prescindindo de qualquer consideração piedosa ou apologética. O afresco está sobre reboque destacado, e desde alguns séculos se encontra em Genazzano: antes, por certo, que fosse conhecida e praticada a técnica de destacar afrescos. Isto hoje é fácil, antes direi, facílimo. Mas não assim nos séculos passados; então não se transportavam pinturas em parede senão com dificuldade, cortando uma grande espessura da parede. Temos, assim, para a Imagem de Genazzano um fato inexplicável com as possibilidades técnicas de outros tempos. Tempos, repito, nos quais a Imagem já era, como hoje, venerada em Genazzano" (Addeo, p. 121).
O Padre Mestre Fulgêncio Ricitelli, testemunha ocular da Coroação da Imagem, pelo Cabido de São Pedro, a 17 de novembro de 1682, fez cinco dias depois o seguinte relato do que viu então:
"O Capítulo de São Pedro enviou um Cônego com duas coroas de ouro, uma para a Santíssima Senhora e outra para o Menino. Na terça-feira, 17 do corrente, com a assistência do Exmo. Condestável, de muitos outros Cavaleiros que vieram com ele, e de todo o povo, o mesmo Cônego, removido o cristal adornado de prata que cobria a Virgem, retirou as coroas que ornavam a imagem; mostrou então admiração não ordinária, porque viu que as imagens estavam simplesmente numa finíssima casca de reboque, que somente na extremidade acima da cabeça tocava a parede, estando o restante sem apoio, — tanto assim que, quando o referido Senhor Cônego tocava-lhes na face, e em todo o resto, o reboque curvava-se e cedia, como se fosse uma tela sem nenhum apoio, o que causou maravilha não ordinária a ele e a todos, estimando que o reboque não se pode manter sem apoio, de onde firmemente se julga que seja sustentado miraculosamente.
Para colocar as referidas coroas de ouro foi necessário atá-las a cordões e amarrá-los a uns pregos que havia na parede acima da Imagem, já que não se podia prendê-las na fronte da Senhora, por ser simples reboque, sem apoio [...]" (Addeo, p. 118).
Por ocasião do quarto centenário da aparição, em 1867, as pessoas encarregadas de limpar a sagrada Imagem constataram maravilhadas que "ela cedia sob a ligeiríssima pressão das suas mãos, como coisa isolada e destacada da parede" (Addeo, p. 119). Para a segunda coroação da Imagem, a que procedeu nesse mesmo ano o Cardeal Bispo de Palestrina, foi feito um suporte do qual pendiam as coroas, suspensas por fios de ouro.
Exame canônico da Imagem no ano de 1936
Finalmente, transcrevemos aqui o documento oficial da Autoridade diocesana, relativo ao último reconhecimento canônico da Imagem:
"Em nome de Deus, Amém.
No Domingo dezessete de maio de mil novecentos e trinta e seis, às doze horas — depois de se ter feito saírem todos os fiéis da Basílica de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano e de se fecharem as portas da mesma Basílica — reuniram-se na Capela homônima da Senhora do Bom Conselho: 1.°) S. Excia. Mons. Bernardo Bertoglio, Administrador Apostólico da Diocese suburbicária de Palestrina; 2.°) o Revmo. Pe. Gabriele Monti, Procurador Geral dos Agostinianos e Delegado do Revmo. Padre Vigário Geral da Ordem de Santo Agostinho; 3.°) o Pe. Giuseppe Rotondi, Prior do Convento de Santa Maria, representando também o M. R. P. Provincial da Província Agostiniana de Roma; 4.°) o Vigário Forâneo e Pároco de São Paulo em Genazzano, Mons. Serafino De Bellis; 5.°) o Sr. Coronel Giuseppe Vannutelli, Prefeito de Genazzano; 6.°) o Pe. Giovanni Eratno, Agostiniano, Pároco de Santa Maria; 7.°) Dom Andrea Mergé, Pároco de São Nicolau; 8°) o Pe. Benedetto Zunnino, O. F. M. Cap., Pároco de São João; 9°) o Pe. Filippo da Sagrada Família, Passionista, do Retiro de Santa Maria de Pugliano; 10°) os PP. Agostinianos Fr. Hilário Appelhans, da Alemanha, Fr. Rafael Almanza; do México; Fr. Berchmans Power; da Irlanda; Pe. Alessandro Malfatti e Pe. Egidio Giuliani, da Província Romana; 11°) o Sr. Amedeo Rossigno, joalheiro, — para proceder a uma acurada inspeção, ou visita, da Imagem do Bom Conselho, prodigiosamente aparecida em 25 de abril de 1467.
Depois de se haver invocado o auxílio divino pela intercessão da SSma. Virgem, foi removido o anteparo de cristal, montado sobre uma moldura metálica, que veda a imagem em afresco da dita Senhora; e depois de diligente exame, todos os acima referidos constataram unanimemente que o reboque que contém a Imagem em afresco da Senhora do Bom Conselho com Seu Santo Menino:
1 — apresenta numerosas e marcadas rachaduras;
2 — do colo para cima das duas Imagens o mesmo afresco: a) está entumecido [riganfio]; b) está penso para a frente; c) se ligeiramente percutido, dá a clara sensação de vazio; d) se delicadamente premido, visivelmente oscila;
3 — o referido afresco na parte inferior se apóia em uma pequena base, pela metade, ou seja, do centro à extrema direita;
4 — sobre o lado direito vertical ele está sem apoio por três quartos da altura;
5 — todo o afresco tem um andamento sinusóide, e está
6 — em precárias condições de estática.
Das mencionadas verificações foi imediatamente lavrado, no interior da mesma Capela e na presença de todos os presentes ao ato esta declaração, e os abaixo assinados, depois de ter-lhe ouvido a leitura e confirmado o conteúdo, deram graças à Santíssima Virgem por tantos favores celestes que Se digna conceder ao povo cristão; em seguida, assistiram ao fechamento com o anteparo de cristal, da mesma Imagem, saindo da Basílica cheios de comovida piedade" (Addeo, pp. 121-122).
* * *
As paredes do Santuário da Virgem foram praticamente renovadas três vezes: à Igreja da Beata Petruccia sucedeu a do Padre Leoncelli, no século XVII, a qual por sua vez sofreu várias reformas nos séculos seguintes. A tudo assistiu a Sagrada Imagem, sem sofrer o dano que tais obras normalmente lhe poderiam acarretar.
É de se considerar ainda que a Capela da Madona está junto à estrada principal de Genazzano, e que o afresco, em condições estáticas já de si mesmas excepcionalíssimas, está ademais exposto a todas as vibrações que o intenso tráfego de veículos sempre produz. Quando passa um carro pesado, toda a igreja vibra; e ainda que o afresco trema, de leve, nada lhe acontece. No bombardeio de 29 de maio de 1944, permitiu a Virgem Santíssima que duas bombas — as únicas que atingiram o centro de Genazzano — caíssem sobre o seu Santuário e o Convento anexo. A abside daquele e parte deste ruíram; um grande sino de 1.200 quilos foi atingido e despedaçado; o frágil afresco tremeu bastante, mas ficou intacto.
O Santuário de Genazzano
O santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho, na sua forma atual, foi erguido pelo agostiniano Frei Felice Leoncelli da Cave, entre os anos de 1621 e 1629, para substituir a velha "igreja da Beata Petruccia", a qual, no dizer daquele Religioso, era "muito disforme, mal ordenada e sem iluminação"; foi conservado o portal quatrocentista.
Posteriormente não sofreu o templo modificações consideráveis; apenas a fachada, que ameaçava ruir, foi reconstruída em 1849 pelo arquiteto Padre Fanucchi, que teve o bom gosto de adotar o estilo da época da aparição, para que o conjunto se harmonizasse com o antigo portal. A nova fachada foi adornada de ricos mosaicos em 1956.
Constitui o portal uma peça de grande valor artístico e, sobretudo, histórico. Pertence à segunda metade do século XV e é toda de mármore branco.
O tímpano, na forma clássica da época, apresenta, em mármore, a Virgem com o Filho, transportados por Anjos entre nuvens.
A igreja, que mede 33 metros de comprimento por 19 de largura, compõe-se de três naves; as laterais encerram a Capela do Crucifixo, à direita, e à esquerda a da Madona.
O pavimento das três naves é revestido de mármore policrômico e de mica; as abóbodas são decoradas de belíssimo estuque dourado sobre fundo azul. Valiosos afrescos recobrem as paredes da nave central. O altar-mor é um verdadeiro tesouro de mármores raros, obra de Colombi e Calderari, artistas do "settecento". Em magnífica urna sob esse altar, o corpo incorrupto do Bem-aventurado Stefano Bellesini aguarda a ressurreição final.
A Capela lateral em que se encontra a sagrada Imagem foi erguida em torno da parede junto à qual esta se colocou ao descer em Genazzano. Data do século XV e foi enriquecida por sucessivas gerações de fiéis, e sobretudo pela munificência dos Príncipes Colonna e do Cardeal Albani.
Para proteger a Madona construiu-se em torno dela uma edícula de mármore, com um postigo de cristal. Sob a Imagem está o altar, em alabastro, pedras preciosas e verde antigo, dom do Cardeal Alessandro Albani, que o mandou erguer em 1734.
A bela grade de ferro batido que fecha a Capela, notável obra de arte do século XVII, foi doada pelo Cardeal Girolano Colonna.
Na nave oposta está a Capela do Crucifixo, também de grande valor artístico. O quadro do Crucifixo que lhe dá o nome foi objeto de estupendo milagre, ocorrido no pontificado de Paulo III (1541-1549). Um soldado, encolerizado por ter perdido todo seu dinheiro no jogo, entrou no Santuário blasfemando horrendamente contra Deus e Nossa Senhora, e com a espada golpeou a fronte, o peito e as pernas do Crucificado. Jorrou das partes atingidas abundante sangue, e a espada se retorceu de tal maneira, que um ferreiro hábil levaria muito tempo para lograr deixá-la em tal estado. O autor do sacrilégio foi na mesma hora morto pelos seus companheiros, que lhe retalharam o corpo com suas armas.
Outras relíquias preciosas conservadas no Santuário são o pequeno sino que, segundo a tradição, tocou miraculosamente à chegada da Senhora; troféus e ex-votos, entre os quais o elmo de Mondo Mondi, um dos heróis de Lepanto.
Para encerrar, cumpre aludir à escada do púlpito, talhada num monolito de mármore de 17 toneladas.
Papas e Santos a cultuaram
A noticia da miraculosa aparição de uma imagem da Bem-aventurada Virgem Maria, junto à parede de uma semi-arruinada igreja dos Padres Agostinianos nos arredores de Roma, não podia deixar de produzir viva impressão na Cidade Eterna, e de se espalhar célere por toda a Península.
A fama dos estupendos milagres operados por meio da sagrada Efígie, ademais do milagre contínuo de sua suspensão no ar sem nenhum apoio adequado, logo atraíram incontáveis multidões de peregrinos. "Tota Italia commota est", escreve um contemporâneo: "Toda a Itália se movimentou para contemplá-la, de tal maneira, que as cidades e as vilas se dirigiram a Genazzano em intermináveis procissões".
A devoção dos Papas, de Paulo II a Paulo VI
Não admira, pois, que o Papa reinante, Paulo II, se tenha apressado a enviar àquele domínio dos Príncipes Colonna dois Bispos de sua confiança pessoal para investigarem a procedência dos extraordinários rumores que de lá chegavam até a Corte Romana. Não sabemos os resultados dessa visita, mas não devem ter sido desfavoráveis, pois o Pontífice não só não impediu as romarias, como também permitiu a conclusão das obras da igreja em cuja parede aparecera a Imagem, e a construção de um convento anexo.
Tão comovido ficou Sixto IV, sucessor imediato de Paulo II, com o fato da aparição, que, ascendendo ao Sumo Pontificado, timbrou em distinguir os Religiosos cuja igreja de Genazzano a Imagem elegera por trono. Assim é que entregou aos Agostinianos a Igreja de Santa Maria del Popolo, a qual fizera construir a expensas próprias em Roma. Alexandre VI sempre mostrou grande apreço para com o Santuário. Em 1502 expediu um Breve no qual increpava vigorosamente os miseráveis que o ousavam depredar — aos quais chama de "filhos da iniqüidade" — e ameaçava com excomunhão os que não devolvessem dentro de um prazo determinado os objetos dali furtados. Esse Papa concedeu à mesma igreja o raro privilégio da libertação de uma alma do Purgatório cada vez que o Santo Sacrifício fosse oferecido sobre o altar da Madona.
Foi também São Pio V um grande devoto da Virgem Mãe do Bom Conselho, a quem recorria sempre em suas necessidades. A batalha de Lepanto, um dos mais relevantes episódios de seu pontificado, está ligada por mais de um vínculo ao Santuário: o comandante da armada papal nesse combate foi o Príncipe Marco Antonio Colonna, que era o senhor de Genazzano; depois da vitória que salvou a Cristandade, foram depositadas aos pés da Virgem do Bom Conselho, da mesma forma que outras o foram em Roma, várias bandeiras arrebatadas aos turcos. Essas bandeiras ficaram em Genazzano até o início do século XIX, quando as tropas napoleônicas as retiraram. Ainda hoje pode-se ver ali o elmo de Mondo Mondi, herói de Lepanto.
Gregório XIII, em 1583, concedeu perpetuamente ao altar da Imagem a indulgência de altar privilegiado quotidiano, em favor de todo Sacerdote secular e regular que nele celebrasse. Esse privilégio foi confirmado por Bento XIII em 1725 e por Bento XIV em 1751.
O Bem-aventurado Inocêncio XI fez coroar a sagrada Imagem em 1681, para impetrar da Mãe do Bom Conselho a concórdia entre os Príncipes cristãos, necessária para enfrentar os turcos que se encontravam às portas de Viena. Obtida essa graça, em 1682 o exército católico reunido sob o comando de João Sobieski e de Carlos de Lorena infligiu ao Crescente uma derrota terrestre tão grande quanto Lepanto o fora no mar.
O Papa Clemente XI, por ocasião do jubileu de 1700, que coincidiu com sua elevação à Cátedra de São Pedro, concedeu ao Santuário os mesmos privilégios outorgados à Santa Casa de Loreto.
Bento XIV aprovou a Pia União de Nossa Senhora do Bom Conselho, da qual quis ser o primeiro membro. Esse Pontífice cumulou a novel associação, bem como o Santuário, de indulgências e privilégios.
Em 1779, Pio VI aprovava a Missa e o Ofício próprios da Festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, para o Clero de Genazzano.
Leão XIII, que foi membro da Pia União, elevou o Santuário à dignidade de Basílica Menor. Instituiu ainda a Escapulário de Nossa Senhora do Bom Conselho, inseriu na ladainha lauretana a invocação "Mater Boni Consilii" e fez construir a suas expensas amplos e decorosos aposentos destinados aos confessores que acorrem ao Santuário para atender aos peregrinos.
Pio XI elevou com Breve de 24 de março de 1924, a Pia União de Genazzano à categoria de primária, com a faculdade de agregar todas as Uniões erectas ou a erigir-se em qualquer igreja.
Pio XII foi sempre muito devoto da Madona de Genazzano, tendo visitado o Santuário várias vezes, desde os seus tempos de seminarista e jovem Sacerdote.
O Santo Padre Paulo VI anunciou publicamente o seu propósito de visitar a Imagem de Genazzano em seu ano jubilar. A data escolhida foi a da Natividade da Virgem Maria, uma das mais concorridas festas do Santuário. Razões de saúde, como é sabido, impediram Sua Santidade de realizar a programada viagem.
Havia já o Papa enviado, em 5 de abril do ano passado, ao Prior Geral dos Eremitas de Santo Agostinho, Padre Agostino Trapè, uma Carta autografa, através da qual desejava "participar de algum modo da alegria espiritual" de que era motivo o quinto centenário da aparição da Imagem de Genazzano. Ao mesmo tempo, "para conferir maior importância e honra" às solenes comemorações jubilares, o Pontífice delegava o Cardeal Aloisi Masella, Bispo do título da Diocese suburbicária de Palestrina, para presidi-las em seu nome.
Diz Paulo VI a certa altura dessa Carta: "Suplicamos por isso à clementíssima Virgem Mãe de Deus que destas solenidades que terão lugar em Genazzano, e das preces e súplicas que então se elevarão ao Céu, brotem em todo o mundo copiosíssimos frutos e a Igreja alcance um revigoramento espiritual".
Três Papas visitaram solenemente o Santuário
Merecem uma menção especial os Papas que visitaram o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho: Urbano VIII, Pio IX e João XXIII.
No dia 21 de outubro de 1630, com grande pompa e solenidade fez Urbano VIII seu ingresso em Genazzano. Saíra o Papa de Castelgandolfo, onde residia então, seguido de magnífico cortejo do qual faziam parte três Cardeais, o Príncipe D. Tadeo Barberini, seu sobrinho, e outros Príncipes Romanos, os Barões do Sólio, os Primeiros Oficiais e Ministros do Palácio Apostólico numerosos Prelados e senhores de sua Corte.
Foram-lhe ao encontro em Cave o Cardeal Colonna e o Príncipe D. Filippo Colonna, Duque de Paliano e Senhor de Genazzano, Grande Condestável do Reino de Nápoles, acompanhado de seus filhos, os Príncipes D. Giovanni e D. Pietro, que fizeram escoltar o Papa por três mil infantes e oitocentos cavaleiros. Todas as estradas estavam enfeitadas com flores e arcos de triunfo. Uma testemunha afirma que as regiões circunvizinhas ficaram despovoadas, pois todos os habitantes acorreram aos lugares por onde havia de passar o Papa, para aclamá-lo e receber-lhe a bênção. À entrada de seus domínios, ofereceu o Condestável as chaves de sua fortaleza e de seu palácio ao Romano Pontífice, seu Soberano e Senhor. "Os canhões troaram e as trombetas soaram, escreve Dillon; em seguida, no meio de toda a pompa real e eclesiástica possível, o grande Pontífice dirigiu-se ao Santuário" (p. 217).
Celebrada ali a Missa — narra a testemunha a que aludimos — "foi Sua Beatitude acompanhada por todos aqueles preclaros personagens, e se encaminhou ao Palácio do Senhor Condestável", onde foi saudado em latim pelos Príncipes D. Giovanni e D. Pietro Colonna.
Com pompa igualmente magnífica visitou Pio IX o Santuário de Genazzano na festa da Assunção do ano de 1864. Acompanhavam-no diversos Prelados e sua nobre Antecâmara. Foi recebido pelas autoridades municipais e pelo Cardeal Amat, Bispo de Palestrina, pelo Príncipe Colonna e outros gentis-homens, pelo Prior Geral dos Agostinianos e grande número de representantes do Clero secular e regular. A cidade encontrava-se ricamente decorada.
Uma vez na Igreja, demorou-se o Papa a rezar diante da sagrada Imagem, a qual quis a seguir contemplar e examinar de perto, com grande devoção, gosto e consolação.
Por volta de meio-dia dirigiu-se ao Palácio Colonna, acompanhado de seu séquito e da multidão que o aplaudia. Revestindo-se dos paramentos pontifícios, encaminhou-se a Papa a uma "loggia" e deu a solene bênção a milhares de pessoas da cidade e dos arredores que tinham acorrido ao ato e se espalhavam pelos jardins do Palácio, pelos campos, e até pelas colinas próximas. Clamores de júbilo e uma prolongada salva de morteiros soaram quando o Sumo Pontífice acabou de abençoar a multidão.
Desde tenra idade fora Pio IX grande devoto de Nossa Senhora do Bom Conselho, tendo mesmo rezado sua primeira Missa diante de um altar a Ela dedicado numa igreja de Roma. Concedeu muitas indulgências ao Santuário e fez erguer na Capela Paulina, no Vaticano, um altar sob o mesmo vocábulo; também foi membro da Pia União de Genazzano.
Bem menos pomposa foi a visita feita por João XXIII, à santa Imagem, no dia 25 de agosto de 1959. Era a primeira vez que um Papa saía do Vaticano (salvo para ir a Castelgandolfo) depois da tomada de Roma em 1870.
A comitiva do Pontífice compunha-se de dois automóveis: num ia, com o próprio Papa, o Mestre de Câmara, Mons. Nasalli Rocca di Corneliano, e no outro o Camareiro Participante da semana e mais dois Monsenhores. À espera do augusto Visitante estavam diante do Santuário o Auxiliar do Cardeal Aloisi Masella, Bispo suburbicário de Palestina, o Prior Geral dos Agostinianos, e outras personalidades eclesiásticas e civis, bem como um incontável número de fiéis.
Na Capela da Virgem do Bom Conselho, tendo-se removido o véu que cobre habitualmente a Imagem, quis o Santo Padre rezar com todos os presentes três Ave Marias: uma para pedir a proteção da Madona para todas as crianças, esperança da Igreja e da sociedade; outra para invocar o seu incomparável conforto para os que sofrem no corpo e na alma; a terceira, enfim, pela Santa Igreja, por todos os seus Ministros e apóstolos.
Falando à multidão, recordou João XXIII a visita de Pio IX ao Santuário, 95 anos antes, e solicitou aos presentes orações para que aquele imortal Pontífice fosse elevado à honra dos altares.
Cardeais, Bispos e Príncipes emularam em devoção
Se tal foi a devoção dos Papas à Madona de Genazzano, menor não poderia ser a que Lhe tiveram ao longo destes cinco séculos os Cardeais e os Bispos que com eles regem a Igreja de Deus. Já o Cardeal de Estouteville, contemporâneo da aparição — o mesmo que, como Legado Pontifício na França, promoveu o processo de reabilitação de Santa Joana d'Arc — ficou tão impressionado com os fatos de Genazzano que, a exemplo de Sixto IV, de quem já falamos, construiu em Roma uma magnífica igreja para os Agostinianos.
Não ficaram atrás os membros das mais ilustres dinastias européias. No século passado a Imperatriz Maria Ana de Sabóia, esposa do Imperador Fernando da Áustria (o qual abdicara em favor de seu sobrinho Francisco José) ingressou na Pia União de Nossa Senhora do Bom Conselho e quis ter como confessor o piedoso e douto Padre Pietro Belgrano, antigo Prior de Genazzano e historiador da Imagem. Outros Príncipes da Casa de Habsburgo, bem como das Casas da Saxônia, da Baviera, da Espanha, de Nápoles se distinguiram pela devoção à Virgem do Bom Conselho, inscrevendo-se na sua Pia União, fazendo visitas ao Santuário ou enviando a este ricos presentes. Assim, a Viúva do Príncipe Eleitor da Saxônia ofereceu, em 1772, um escrínio em forma de coração, contendo as alianças de seu casamento. Distinguiram-se também pela sua devoção, além dos Príncipes Colonna, Senhores de Genazzano, outras nobres e antigas Famílias como a dos Albani, dos Barberini, etc.
O admirável exemplo dos Santos
Entre os grandes devotos da Mãe do Bom Conselho encontramos também vários Santos, Bem-aventurados e Veneráveis.
Os antigos anais agostinianos referem duas terciárias de sua Ordem — Potência e Santa — que viveram à sombra do Santuário e que, como Petruccia, são desde tempos remotos chamadas de Beatas.
Já vimos que dois grandes Pontífices elevados à honra dos altares, São Pio V e o Bem-aventurado Inocêncio XI, bem como o Servo de Deus Pio IX, manifestaram a sua singular piedade para com a Madona de Genazzano.
Santo Afonso Maria de Ligório deve ser colocado, segundo Buonanno, "entre os mais fervorosos devotos da Mãe do Bom Conselho" (p. 148). O grande Doutor da Igreja tinha constantemente sobre a mesa de trabalho uma imagem dessa Senhora, diante da qual escreveu suas obras, contemplando-a constantemente, em busca de conselho e conforto.
Ao retirar-se de sua Diocese de Santa Ágata dos Godos, já velho e cansado, pediram-lhe as Irmãs da Anunciação que lhes deixasse alguma lembrança. Enviou-lhes o Santo aquela Imagem, com estas significativas palavras: "Vi lascio il mio cuore" — "deixo-vos o meu coração".
Não podemos deixar de mencionar aqui o Venerável Bartolomeo Menocchio, Agostiniano, Bispo-Sacristão e fiel companheiro de exílio de Pio VII, prisioneiro de Napoleão; procurou ele "inspirar a mesma devoção ao Santo Padre, devoção tão necessária então, e que provavelmente ajudou o Pontífice a resistir à astúcia e a diplomacia de Talleyrand, ao orgulho de Napoleão" (Dillon, p. 258).
São Gaspar Del Bufalo, grande apóstolo da devoção ao Preciosíssimo Sangue e evangelizador da região romana, visitou o Santuário e ali pregou uma memorável missão. O Fundador dos Passionistas, São Paulo da Cruz, foi várias vezes implorar à Senhora do Bom Conselho auxílio para sua obra. Um dos maiores e mais populares Santos dos últimos tempos, São João Bosco, também fez uma peregrinação a Genazzano, acompanhado pelo Venerável Padre Miguel Rua.
Glória do Santuário é o Bem-aventurado Stefano Bellesini, que durante nove anos foi seu Pároco, até morrer, em 1840, vítima de seu zelo pelos doentes na epidemia de tifo que então se abateu sobre a região.
Beatificado por São Pio X em 27 de dezembro de 1904 foi o primeiro Pároco a ser elevado à honra dos altares. Seu corpo incorrupto repousa numa bela urna sob o altar-mor do Santuário. O rosto conserva ainda aquele mesmo sorriso afável com que recebia os inúmeros peregrinos que vinham visitar a sua querida Madona.
Até no longínquo e ignoto Brasil
Os estupendos e contínuos milagres operados pela Virgem em Genazzano atraíram sempre multidões de peregrinos dos quatro cantos da Itália, de Taranto a Udine, de Nápoles a Veneza. Registra o "Codex Miraculorum" a cura de pessoas vindas, poucos dias depois da aparição, de Roma, Palestrina, Zagárolo, Antícoli, Tívoli, Viterbo, Bolonha, Ferrara, Pádua etc. Aparecem igualmente numerosos estrangeiros procedentes da França, da Alemanha, da Dalmácia, da Hungria, sem faltarem albaneses, às vezes apontados vagamente como naturais da "Schiavonia".
A devoção à Mãe do Bom Conselho de Genazzano adquiriu logo um caráter universal. Numerosas cópias da Imagem, muitas de alto valor artístico, algumas miraculosas, são veneradas por toda parte: na Capela Paulina do Vaticano, na Basílica Romana de São Marcos, em numerosas cidades da Itália como Bagnoregio, Frossinone, S. Martino in Colle, Lucca, Castiglion Tinella, Módena, Nápoles, Messina, Palermo, S. Benedetto Ullano etc. Fora da Península são célebres as cópias existentes em Madri (que falou a São Luís de Gonzaga), Viena, Praga, Antuérpia, e a nossa, conservada na Igreja do Colégio São Luís em São Paulo, para cá trazida em circunstâncias extraordinárias, como veremos em outro lugar. O Cônego André Bacci, grande apóstolo dessa devoção no século XVIII, atendeu a pedidos de estampas da Senhora, que lhe foram feitos por
(continua)