(continuação)

A SAGRADA IMAGEM

Imagem não foi transportada por mão humana e que veio para Genazzano a fim de que o Lácio tivesse também a sua Loreto. O secretário do Condestável, Francisco Cirocco, foi ainda mais explícito, ao consignar que o quadro viera de países remotos, segundo a "inveteradíssima tradição". A estampa oferecida à Duquesa de Paliano em 1648 mostra a Imagem sobre nuvens, seguida dos dois peregrinos albaneses. Na relação que a essa Princesa dirigiu o Padre Antonio Feroci na mesma ocasião, são contados todos os pormenores trazidos até nós pela tradição.

■ 3 — DEPOIMENTO DOS HABITANTES IDOSOS DE GENAZZANO EM 1778. Em 1778 foi apresentado à Sagrada Congregação dos Ritos um depoimento dos habitantes de Genazzano de idade próxima aos oitenta anos, os quais declararam ter ouvido dos seus maiores, e estes dos velhos de seu tempo, que: a) é antiga tradição que a Imagem veio da Albânia, aparecendo no dia 25 de abril, festa de São Marcos, entre 16 e 17 horas da tarde, com o toque inesperado e prodigioso de todos os sinos do lugar; em memória do que, é antigo costume fazer soarem todos os sinos nessa hora; b) é igualmente antiga tradição que essa aparição foi predita pela Beata Petruccia; c) em seguida à Imagem vieram dois peregrinos albaneses, um que deu origem à família Giorgi, ainda existente, e outro à família Sclavis, extinta, mas cujos últimos representantes os depoentes conheceram pessoalmente; d) desde tempos imemoriais as crianças da cidade cantavam estes versos: "A Senhora do Bom Conselho deixou a Albânia para vir à minha terra./ Viva a Senhora do Bom Conselho"; e) atestam que sempre ouviram seus maiores contarem os prodígios operados no Santuário, e também os depoentes foram, eles mesmos, testemunhas de muitos, em seus dias.

■ 4 — PRESENÇA EM GENAZZANO DE DIVERSOS ALBANESES LOGO APÓS A APARIÇÃO. Pode-se ver pelo já referido "Codex Miraculorum" que um grande número de albaneses acorreu a Genazzano nos primeiros meses depois da aparição; três deles foram miraculados em maio e junho de 1467. Três anos mais tarde, com a conquista da Albânia pelos turcos, muitos católicos do país se refugiaram na Itália, fixando-se especialmente em Veneza e na Calábria. Alguns, contudo, preferiram o Lácio, e o Notário Rose registra que pelo menos seis deles residiam em Genazzano entre 1487 e 1500. Por que teriam escolhido essa localidade? Talvez quisessem estar junto da Madona que já veneravam, em sua terra. Em todo caso, teriam eles podido desmentir a história contada pelos seus compatriotas Giorgio e De Sclavis, se se tratasse de um embuste.

■ 5 — DEVOÇÃO DOS ALBANESES NA ITÁLIA. Circunstância digna de nota, e que constitui também um argumento de tradição a favor da procedência de Scútari é a devoção que os albaneses radicados na Itália sempre manifestaram à Imagem, considerando-a como sua Padroeira.

Paladino dessa devoção foi no século XVIII o apostólico Sacerdote de origem albanesa, D. Stefano Rodotà, que chamava Nossa Senhora do Bom Conselho de "Senhora dos Albaneses".

b) TRADIÇÃO PERSISTENTE NA ALBÂNIA

Tradição análoga à existente entre os albaneses radicados na Itália subsistiu entre os católicos que permaneceram na Albânia depois da invasão dos turcos. Quem conhece o caráter da dominação destes compreenderá facilmente porque ninguém foi da Itália a Scútari para proceder a uma sindicância a respeito da veracidade do depoimento dos dois peregrinos, Giorgio e De Sclavis. Só no século XVIII, quando a intolerância turca em matéria religiosa abrandou um pouco, é que foi possível cuidar disso.

Em carta de 25 de julho de 1745 a um seu parente que residia no exílio, o Conde albanês Capitão Estêvão Medin dá conta das investigações que fez na região de Scútari. Os mais velhos habitantes da cidade lhe afirmaram existir nos arredores desta uma igreja quase em ruínas, dedicada à Anunciação, onde ocorriam freqüentes milagres. Na noite de 25 de março via-se uma lâmpada acesa diante do altar vazio, outrora ocupado pela imagem da Senhora; alguns diziam que essa imagem fora retirada dali por alguém, mas a maioria tinha por certo haver ela abandonado a igreja por si mesma. Acrescentava-se que nunca tinham os infiéis conseguido transformar esse templo em mesquita, como era seu costume: milagres impressionantes impediam sempre essa profanação do já arruinado edifício.

Em fevereiro de 1748, o nobre albanês Niccola di Antonio Cambsi, da cidade de Scútari, provedor das Igrejas dos Missionários e Bispos enviados à Albânia pela Sagrada Congregação de Propaganda Fide, depôs em Roma, sob juramento, existir em sua cidade uma igreja tida em grande veneração pelos católicos, pela antiga tradição de que havia outrora uma Imagem pintada numa de suas paredes: essa tradição era reforçada pela presença de duas pinturas de Santos, ladeando o lugar onde devia estar a da Senhora. E tendo o depoente visto a Efígie de Genazzano, declarou que ela correspondia ao espaço vazio da parede da igreja de Scútari. Referiu ainda muitos castigos que recaíram sobre os turcos que queriam profanar aquela igreja. Católicos que moravam nas proximidades percebiam algumas vezes uma luz que descia sobre as ruínas e ardia de modo prodigioso. Os numerosos cidadãos venezianos que iam a Scútari a negócios costumavam venerar a parede onde estivera a Virgem milagrosa.

Igualmente o Bispo de Scútari, Paulo Cambsi, depôs em 1754, "pro pura rei veritate", existir em sua cidade um templo do qual outrora, segundo uma antiga e constante tradição, uma Imagem da Virgem Maria fora divinamente arrebatada e transportada para outras regiões; e que os fiéis continuavam a receber ali muitas graças, enquanto eram castigados os maometanos que se propunham profanar as veneráveis ruínas. Declarou ainda que estando em Genazzano celebrara Missa no altar da Imagem e pudera reparar que as cores desta eram muito semelhantes às das pinturas de Santos que subsistiam na igreja de Scútari.

No século passado o Padre Pietro Belgrano, agostiniano, historiador do Santuário de Genazzano, recebeu do Padre Mariano da Palmanova, Prefeito Apostólico das Missões do Épiro, e de Dom Angelo Rodojà, Vigário Geral da Arquidiocese de Scútari, interessantes relatórios, os quais confirmam que ainda em 1878 a antiga tradição subsistia entre os católicos da Albânia.

Em 1932, 340 peregrinos albaneses fizeram uma visita a Genazzano, conduzidos pelo Arcebispo de Scútari. Como lembrança dessa peregrinação, foi colocada no Santuário uma lápide de mármore, escrita em albanês e italiano: "Aos 2 de junho de 1932 a Albânia Católica enviou a êste Santuário, sob a presidência de Mons. Lázaro Mjedja, Arc. Metrop. de Scútari, juntamente com seis Hierarcas da sua Igreja, CCCXL filhos e filhas — Sacerdotes, Religiosos e fiéis — a rezar a uma só voz e com uma só alma: VOLTAI, Ó SENHORA DO BOM CONSELHO".

No dia 25 de junho do ano passado, o Cardeal Ildebrando Antoniutti acompanhou a Genazzano cerca de trezentos peregrinos albaneses, refugiados na Europa Ocidental, e celebrou Missa junto à Imagem "para que a Virgem os conforte no seu exílio, assista clemente e piedosa os seus familiares e amigos distantes, e apresse o dia da libertação da sua cara pátria" (boletim "Madre dei Buon Consiglio", de agosto-outubro de 1967).

Segundo Mons. Leone G. B. Nigris, Delegado Apostólico na Albânia em 1946, ainda nessa época a devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho era grande no país, não havendo casa de católicos onde não se encontrasse uma imagem sua. É Ela a Padroeira principal da Albânia Católica, e a Catedral de Scútari lhe é consagrada.

Quanto à igrejinha de cujas paredes se destacou a Imagem da Madona de Genazzano, assim a menciona Mons. Nigris, em 1946: "Desde há um quarto de século aquela Capela não existe mais; no seu lugar ergue-se uma igreja discreta, inacabada em sua ornamentação. Mas foi cometido um grande erro: demoliu-se a parede em que se conservava o vão retangular do qual se teria destacado o afresco ora existente em Genazzano, sem pensar que se demolia um documento de primeira ordem em sufrágio da tradição" (Addeo, p. 77).

Da tradição, que é "arquivo da verdade, árbitro das dúvidas, tesoureira dos anos e gema prezadíssima da Santa Igreja" (Francesco Cirocco, "Relazione dei Ricevimento fatto in Genazzano della Santità di N. S. Papa Urbano VIII", Foligno, 1633, apud Addeo, p. $3).

Bibliografia

DILLON, Mgr. Georges F.: "La Vierge Mère de Bon Coriseil" Société Saint-Augustin, Desclée, de Brouwer & Cie, Bruges, 1885.

BUONANNO, Raffaele: "Della Immagine di Maria SS.a dei Buon Consiglio che si venera in Genazzano — Memorie storiche" — seconda edizione immegliata — Tipografia dell'Immacolata, Napoli, 1880.

ADDEO, Fr. Augustinus Felix, O. E. S. A., Episcopus tit. Traianopolitan.: "Apparitionis Imaginis Beatae Mariae Virginis a Bono Consilio Documenta" — Typis Polyglottis Vaticanis, MCM XLVII.

RICCARDI, Balilla: "Guida dei Santuario di Genazzano" — Tip. Pallotti, Roma, 1953.

MADRE DEL BUON CONSIGLIO — Periodico dei Santuário di Genazzano.

ALTENFELDER SILVA, Manoel E.: "Brasileiros Heróis da Fé" — vol. II — Vozes, Petrópolis, 1949.

A. G.: "O Colégio São Luís, senão a sua Comunidade, já em 1865", in "Notícias da Província do Brasil Central", dezembro de 1965.


REPERCUSSÕES DE UMA ATITUDE DEPLORÁVEL

Conforme noticiamos em nosso último número, os RR. PP. Carmelitas Calçados de Belo Horizonte se opuseram violentamente a que jovens militantes da Tradição, Família e Propriedade vendessem exemplares desta folha, na via pública, em frente à Matriz de Nossa Senhora do Carmo, naquela capital. A propósito a Cúria Diocesana de Campos divulgou incisivo Edital de protesto, cujo texto estampamos naquele mesmo número.

A deplorável atitude dos RR. PP. Carmelitanos repercutiu na imprensa diária.

Assim é que o "JORNAL DO COMÉRCIO'', do Rio de Janeiro, estampou na secção "Vida Católica", em sua edição de 15 de março p. p., o seguinte comentário, intitulado "Agressão que dignifica":

"Em meio aos, hoje, dispersos órgãos da imprensa católica no Brasil, enfraquecidos pela agitação intelectual resultante de interpretações apressadas nesta era pós-conciliar, um periódico mensal felizmente se destaca, merecedor em toda linha do valoroso título que o exorna: "O Catolicismo".

Na opulenta seara, por outro lado, da Hierarquia episcopal, ostenta ela toda uma galeria de verdadeiros sacerdotes magnos, cônscios de sua apostólica missão. Entre esses tem-se imposto ao respeito e admiração universal o venerando Bispo de Campos, Dom Antônio de Castro Mayer, defensor acérrimo da ortodoxia e das genuínas tradições da Igreja, que se confundem, aliás, com as mais antigas e verdadeiras tradições do país Terra da Santa Cruz.

Um e outro, jornal e Prelado, acabam de ser grosseiramente atingidos por um gesto de pretensas autoridades que, em Belo Horizonte, tentaram impedir, junto a certa paróquia, a divulgação daquele periódico, valendo-se, para isso, do nome de entidades superiores.

Realmente é lamentável esse gesto, tentado antes em outros lugares, quando a consciência católica brasileira se vê diariamente ultrajada pelo enxame de publicações que enxovalham as bancas de jornais, não faltando aí algumas favoritas que se constituem em verdadeiros órgãos oficiais do assassinato, do estupro, da vingança, da violência por todas as formas, sem que se levante a reação ou pelo menos o protesto maciço, no púlpito ou fora dele, por parte dos que respondem diante de Deus pela salvação das almas..

O combate, a rejeição, o policiamento contra quem e por que mãos foi levado a efeito? Às portas do templo, contra um órgão, arauto da verdade e da civilização.

A esse órgão da Diocese Campista faltava realmente esse inopinado ataque, que lhe vem sob a forma autêntica de brilhante condecoração. Sinal de que estas colunas não afinam pelo triste diapasão jornalístico que tantas lágrimas têm feito derramar ao Santo Padre nas suas constantes advertências para que não se confunda o progresso da doutrina com a sacrílega desvirtuação dela".

Por sua vez, a cronista Maria Isabel Adami Carvalho Potenza, que assina a prestigiosa coluna "Testemunho Cristão" no "Estado de Minas", escreveu no número de 21 de março daquele diário belo-horizontino:

"Estamos recebendo várias cartas da capital, através das quais leitores indagam se o Bispo de Campos é da Igreja Católica Brasileira e se, por esse motivo, o jornal "Catolicismo" é condenado. Mostram-se confusos em razão de acontecimentos que motivaram reportagens, entrevistas, notas e comentários na imprensa brasileira.

O Bispo de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, é Bispo da Igreja Católica Apostólica Romana e um dos expoentes do Episcopado nacional. Tem escrito extraordinárias Cartas Pastorais em defesa da Fé e da moral cristã, destacando-se por atitudes firmes e corajosas na orientação de sua Diocese, dentro da mais perfeita adesão aos autênticos princípios da fé católica. Em comemoração ao 250.° aniversário do encontro da milagrosa Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e do 50.° aniversário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, lançou uma Carta Pastoral que é realmente um tesouro para o mundo católico, tal a densidade dos ensinamentos, a importância e atualidade dos temas nela desenvolvidos sobre a preservação da Fé e dos bons costumes. Corajosamente aponta os erros modernistas e apresenta, contra eles, a doutrina da Igreja.

Sendo D. Antônio de Castro Mayer um Bispo desse quilate (que alguns podem considerar "ultrapassado", é lógico... ), o mensário que circula sob seus auspícios, não pode ser condenado. A menos que o condenem aqueles a quem o jornal incomoda. A parte doutrinária (que nos interessa no caso) é impecável. A condenar, condene-se a imprensa materialista e pornográfica, que livre circula por êste Brasil afora, a corromper a juventude e a ridicularizar os sentimentos e costumes cristãos de nossa gente".

Em crônica publicada no mesmo jornal, em data de 16 de março, sob o título de "Atração do abismo", comenta o Sr. Austregésilo de Athayde, Presidente da Academia Brasileira de Letras:

"Ainda agora vejo a candente denúncia da autoridade diocesana de Campos à intolerante atitude dos Carmelitas de Belo Horizonte que impediram a venda e leitura de uma publicação católica, porque não coincide na doutrina com os seus pontos de vista.

Sentiu-se injuriada aquela autoridade e não é para menos.

Conflitos dessa natureza estão crescendo, aqui e ali, apaixonando os espíritos; preparando-os, sem que devidamente o percebam, para a atração do abismo".

Deixamos para o nosso próximo número, por falta de espaço, o noticiário pormenorizado da entrevista dada, a propósito da atitude dos Carmelitas, pelo Revmo. pe. Paulo Fernandes, de Belo Horizonte, e a resposta que lhe deu a Secção mineira da TFP.


"DIÁLOGO"

COMENTADO NO MÉXICO

A revista "Vértice", recentemente lançada na Cidade do México, dedica cinco páginas de seu n.° 2 a um resumo do estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "Baldeação ideológica inadvertida e diálogo". Como ilustração apresenta fotos do autor do livro em contraposição a fotos do Pe. Teilhard de Chardin (clichê acima).


Ó Arvore sublime, e marchetada

De branco e carmesi, de ouro embutida,

Dos rubis mais preciosos esmaltada,

E de troféus mais claros guarnecida!

A vida a morte vimos em ti dada,

Para qu’em ti se desse à morte a vida.

CAMÕES

Correspondendo êste nosso número duplo à celebração da Semana Santa, apresentamos nestas três páginas alguns aspectos do belo Crucifixo barroco que se venera na sede do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, em São Paulo. A figura do Crucificado mede 32 cm de altura, o braço horizontal da Cruz 50 cm, e o vertical 98 cm. (Fotos do studio F. Albuquerque, de São Paulo).