SANTA JOANA DARC,

PADROEIRA

DAS GUERRILHAS?

Cunha Alvarenga

Visitando recentemente Paris, o Sr. Tristão de Athayde assistiu à representação da peça "L'Alouette", de Jean Anouilhe, que tem por tema a vida e a morte de Santa Joana d'Arc. "Uma Jeanne d'Arc, mas apresentada de modo diferente, à moderna, com alusões às coisas políticas e religiosas do nosso tempo, inclusive uma alusão discreta aos tyrans que despertou aplausos [...]. A peça é a história de Jeanne d'Arc apresentada e representada de tal maneira que eu — escreve o Sr. Tristão de Athayde — que não sou nada jeannedarquiano, saí de lá deslumbrado com a camponesinha de Domremy quase como Péguy. Antes disso, com Bernard Shaw, pois foi sobretudo a estupenda maneira como essa filha do povo mais humilde viveu em carne viva o Evangelho, confundindo os Poderosos com sua Infância Espiritual, que me levantou da cadeira quase que concretamente" (artigo "Bilhetes do Velho Mundo — XVII", no "Jornal do Brasil", de 22 de fevereiro p.p.).

Vê-se, por essas deploráveis palavras, que o Sr. Alceu Amoroso Lima se confessa hostil a Santa Joana d'Arc tal como se apresenta ela à luz dos documentos históricos e da decisão infalível da Igreja que a elevou à honra dos altares, ao mesmo tempo que se entusiasma com as divagações blasfematórias e burlescas de um socialista fabiano, como foi Bernard Shaw, ou com a deformação revolucionária da figura da Donzela de Domremy pela peça de Anouilhe.

Vai mais longe, porém, o conhecido líder progressista. Essa falsa Joana d'Arc, deformada, revolucionária, e precursora, segundo Bernard Shaw, do protestantismo, seria uma espécie de exemplo vivo justificativo das modernas guerrilhas castro ou sino-comunistas! Esclarece ele no artigo citado: "Uma peça como essa faz mais pela revolução do espírito contra as potências do Fanatismo e da Violência do que tudo o que possa fazer a simples pregação intelectual. Embora eu continue a achar que J. d'Arc afinal confundiu Força (que ela tinha totalmente na sua fragilidade de Andorinha) com a violência dos homens de armas, de que ela se serviu com tal inteligência e subtileza e argumentação dialética, que deixa a gente sem fala e sem argumentos contra... as guerrilhas. Pois afinal que foi ela senão uma estupenda guerrilheira, a serviço do Rei da França, o ridículo Carlos VII que aproveitou seus serviços enquanto pôde e depois a abandonou como todos mais?"

"Derrubai-os por meio da espada dos que Vos amam"

O Sr. Alceu Amoroso Lima fica sem fala e sem argumentos contra as criminosas guerrilhas que em nossos dias preparam a implantação, no mundo, daqueles erros que Nossa Senhora de Fátima, há cinqüenta anos, predisse que a Rússia espalharia por toda parte se a humanidade não se afastasse de seu pecado. E ao mesmo tempo sustenta S. Sa. que a Virgem guerreira confundia força com violência. Mas convenhamos. A tornar como decisivo no assunto o deslumbramento que lhe causaram, não a verdadeira Joana d'Arc, mas as fantasias de um agnóstico naturalista como Bernard Shaw, ou de um revolucionário pragmatista como Anouilhe, e tendo por fundo de quadro o incorrigível liberalismo filosófico-religioso do ex-discípulo de Jackson de Figueiredo, é inevitável que tudo se transforme em um emaranhado do qual não se consegue sair.

Não são nem a inteligência, nem a subtileza, nem a argumentação dialética de Santa Joana d'Arc, ao se servir dos homens de armas, que nos devem sobretudo empolgar, mas a heroicidade de suas virtudes e o caráter sobrenatural de sua missão, a partir das Vozes que lhe ditaram o que havia de fazer para salvar a França da triste e miserável situação em que se encontrava, com quase metade de seu território, Paris inclusive, nas mãos do invasor.

Por designo divino, realizou Santa Joana d'Arc em relação aos adversários do Rei legítimo da França aquilo que Judas Macabeu pedia a Deus antes de se defrontar com os inimigos do povo de Israel: "Derribai-os por meio da espada dos que Vos amam" (1 Macab. 4, 33). A menos que se espose o princípio herético e luterano da fé sem as obras, que adiantaria, no caso concreto dos males da França daquele tempo, dispor de força de alma, sem dela usar para realizar aquilo que Deus pedia? Submetida a interrogatório por uma comissão de teólogos por ordem do Delfim, em uma de suas respostas Joana esclarece que, "quando guardava o rebanho, uma voz se havia manifestado a ela, que lhe dissera que Deus tinha grande piedade do povo da França e que era necessário que Joana viesse à França. Ouvindo isto, tinha começado a chorar; então a voz lhe dissera que fosse a Vaucouleurs, e que ali acharia um capitão que a conduziria em segurança até a França e junto ao Rei, e que ela não tivesse dúvida; e que havia feito assim e viera ao Rei, sem nenhum empecilho. Mestre Guillaume Aymeri a interrogou: "Disseste que a voz te disse que Deus deseja livrar o povo da França das calamidades nas quais se acha. Se Ele deseja livrá-lo, não é necessário haver soldados". E então Joana respondeu: "Por Deus, os soldados combaterão e Deus dará a vitória". Dessa resposta Mestre Guillaume se teve por satisfeito" ("Vie et Mort de Joanne d'Arc", por Régine Pernoud, Libr. Hachette, 1953, pp. 107-108).

"Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez"

Desejava um dos comissários que a jovem pastora lhe mostrasse um sinal de sua missão, para que se cresse nela, dado que os teólogos não iam "aconselhar o Rei sobre sua simples asserção a lhe confiar soldados, para que eles fossem postos em perigo, a menos que ela dissesse outra coisa". Responde a Santa: "Por Deus, não vim a Poitiers para fazer sinais; mas conduzi-me a Orléans e vos mostrarei os sinais pelos quais fui enviada" (obra cit., p. 108).

Como desejaria o Sr. Tristão de Athayde que Santa Joana d'Arc usasse da força que Deus lhe concedera? Continuando em Domremy a pastorear o rebanho de seu pai e a tecer ao lado de sua mãe? Responderá talvez S. Sa., seguindo o catecismo progressista: "Estabelecendo um diálogo com os invasores do solo francês". Inspirada por Deus, porém, ela preferiu ao diálogo irenista as reiteradas intimações aos ingleses no sentido de voltarem para sua ilha, abandonando um território que não era deles; à míngua de argumentos, os ingleses responderam, de cada vez, com uma aluvião de injúrias. Eis o que depôs o confessor da Santa no processo de reabilitação ordenado pela Santa Sé: "No dia da Ascensão de Nosso Senhor [véspera da libertação de Orléans], Joana escreveu aos ingleses que se achavam nas fortalezas ou bastilhas, da maneira seguinte: "Vós, ingleses, que não tendes nenhum direito sobre êste reino da França, o Rei dos Céus vos ordena e intima por mim, Jeanne la Pucelle, que vos retireis de vossas fortalezas e retorneis a vosso país, ou senão vos farei tal mortandade [hahai], que dela será guardada perpétua memória. Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez, e não mais escreverei. Assinado: Jesus Maria — Jeanne la Pucelle" (obra sit., p. 180).

E com que ardor e santo entusiasmo cumpriu ela, em seguida, a ameaça, à vista da obstinação daqueles infelizes!

"O Rei dos Céus, que é Rei da França"

É de estarrecer que se queira fazer dessa Santa, cujos métodos de ação eram tão leais e desprovidos de fraude e artifício, uma espécie de Padroeira das traiçoeiras e cruéis guerrilhas comunistas de nossos dias. Enviada pelo Céu para preservar na França a ordem política e social que deve imperar em toda a terra, como reflexo da ordem impressa por Deus no universo, sua primeira empresa foi convencer o Delfim de ser ele o legítimo herdeiro da coroa. Segundo relato feito por Carlos VII a seus familiares nos últimos anos de sua vida, Santa Joana d'Arc lhe havia revelado, na célebre entrevista do castelo de Chinon, "os três pedidos que ele havia feito a Deus, estando em oração, no dia de Todos os Santos de 1428, na capela do castelo de Loches, e que concerniam a suas dúvidas sobre sua própria legitimidade. Essa revelação de Joana o havia ao mesmo tempo encorajado a considerar-se como verdadeiro Rei da França, e tranqüilizado sobre a missão de Joana" (obra cit., pp. 155-156).

Alimentava a Santa a firme convicção, que lhe havia sido comunicada do Alto, a ela, pobre e ignorante camponesa, de que todo poder vem de Deus, sendo confiado aos governantes como divina investidura. Segundo o relato de seu confessor, nessa entrevista do castelo de Chinon "o Conde de Vendôme conduziu Joana para junto do Rei que, quando a viu, lhe perguntou seu nome, respondendo ela: "Gentil Delfim, tenho por nome Jeanne la Pucelle, e vos manda o Rei dos Céus por mim que sereis sagrado e coroado na cidade de Reims, e sereis lugar-tenente do Rei dos Céus, que é Rei da França" (obra cit, p. 176). Mais tarde, ao se desenrolar sua gloriosa campanha, na caminhada de Reims, mostra mais uma vez Santa Joana d'Arc estar imbuída da noção feudal e católica dos direitos de Deus sobre os reinos da terra: "Certo dia, a Pucelle fez ao Rei pedido de um presente: e lho concedeu o dito Senhor. Pediu-lhe ela que desse... o reino da França: com o que ficou o Rei muito embaraçado, mas acedeu ao pedido. E a dita Joana, aceitando, quis que disso se lavrasse um documento por quatro notários reais, e dele se fizesse leitura solene. E feito isso, o Rei continuou embaraçado. Ora, Joana disse aos que lá estavam: "Eis aqui o mais pobre cavaleiro do reino!" E incontinente, em presença dos ditos notários e como senhora do reino da França, fez deste entrega a Deus, Rei do Céu. E ainda um pouco depois, por mandamento do mesmo Rei do Céu, ela investiu o próprio Carlos no reino da França; e, todas essas coisas, quis que fosse feito um documento solene" ("En suivant Jeanne d'Arc sur les chemins de France", por Marie-Françoise Richaud e Paule Imbrecq, Libr. Plon, Paris, 1956 p. 33 ) .

Modelo completo de contra-revolucionária

Santa Joana d'Arc foi, portanto, um modelo completo e acabado de contra-revolucionária. E seu zelo pelos valores tradicionais, pelo direito à honra, à família, à legítima posse dos bens terrenos, à pureza dos costumes, a faz oposta per diametrum à subversão revolucionária, socialista, sensual e igualitária, que hoje vai envolvendo o mundo em sua voragem.

Este verdadeiro retrato de Santa Joana d'Arc, têm-no aqueles filhos da Igreja de Deus que não dobram os joelhos diante do Baal progressista. Tinha-o essa outra Santa do doce país de França, que se chamou Santa Teresinha do Menino Jesus, e que, entre outras muitas manifestações de afinidade com a libertadora de Orléans, lhe dirigiu, em nome de sua pátria, a seguinte comovedora oração:

"Oh! souviens-toi, Jeanne, de ta patrie, / De tes vallons tout émaillés de fleurs. / Rappelle-toi la riante prairie / Que tu quittas pour essuyer mes pleur. / O Jeanne, souviens-toi que tu sauvas la France. / Comme un ange des cieux tu guéris ma souffrance, / Écoute dans la muit / La France qui gémit: Rappelle-toi ! / Rappelle-toi tes brillantes victoires, / Les jours bénis de Reims et d'Orléans; / Rappelle-toi que tu couvris de gloire, / Au nom de Dieu, le royaume des Francs. / Maintenant, loin de toi, je souffre et je soupire. / Viens encor me sauver, Jeanne, douce martyre! / Daigne briser mes fers... / Des maux que j'ai soufferts, / Oh! souviens-toi!"

Estas palavras dirigidas pela França a Santa Joana d'Arc não podem ser também o brado de toda a Cristandade oprimida em nossos dias pelo avanço da Revolução igualitária e gnóstica? Santa Joana d'Arc, rogai por nós.


TFP promove

Semana Anticomunista

em Recife

A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade vem promovendo com grande êxito, de norte a sul do País, semanas regionais de formação anticomunista.

A I Semana de Formação Anticomunista para Estudantes do Nordeste reuniu em Recife, de 9 a 14 de abril p. p., cerca de oitenta jovens dos Estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão. Representaram o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da entidade promotora, os Srs. Caio Vidigal Xavier da Silveira e Paulo Corrêa de Brito Filho, membros do mesmo Conselho, que se encarregaram das conferências principais do certame. Destacaram-se ainda entre os conferencistas os Srs. Capitão Jarbas de Macedo Haag e Prof. Orlando Fedeli, de São Paulo, Paulo Teixeira Campos, da Secção de Pernambuco, Carlos Augusto Garcia Picanço, da Secção do Ceará, e Jaymiêr José Rocha Cairo, da Secção da Bahia.

Além das conferências, os semanistas participaram de círculos de estudos e de uma campanha de difusão de obras anticomunistas, levada a efeito na manhã do dia 13 nas vias públicas de Recife. Tendo como ponto principal as proximidades da Igreja de Santo Antônio, a campanha foi caracterizada pela presença dos estandartes rubros marcados pelo leão áureo, símbolo da TFP, sendo as obras mais vendidas "A liberdade da Igreja no Estado comunista" e "Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e êste mensário.

Nas fotos: Sob os estandartes da TFP, os semanistas vendem "Catolicismo" e livros anticomunistas em ruas centrais de Recife.

Uma das salas de conferências.

Os jovens reunidos para o almoço.