Plinio Corrêa de Oliveira
Ensina Leão XIII, em sua Encíclica "Parvenu à la Vingt-Cinquième Année", que o mundo contemporâneo, com seu progresso, suas crises, sua opulência e sua debilidade, é filho de suas influências não só diferentes, mas até contrárias. De um lado a civilização cristã, construída pela Igreja sobre a grande base das virtudes de Fé, Castidade, Disciplina e Heroísmo que os missionários da alta Idade Média implantaram na alma rude dos bárbaros, e, do outro lado, o mundo céptico, sensual, egoísta e revoltado, que nasceu com a heresia de Lutero, se afirmou com a Revolução Francesa, e procura hoje alcançar com o triunfo do comunismo a realização de uma ordem de coisas plenamente conforme às suas mais fundamentais disposições de alma
Este pensamento profundo que deveria ser segundo me parece a ideia rectrix de todo o ensino de História Medieval Moderna e Contemporânea nos estabelecimentos católicos de grau secundário e universitário, esclarece o que há de mais essencial na grande crise de nossos dias. É impossível nos limites forçosamente restritos de um artigo, pôr em evidência todas verdades que ele contém. Ainda assim, procuremos, à luz dele, sistematizar algumas ideias gerais que auxiliarão o leitor a tomar posição perante os problemas atuais
Comecemos por fixar algumas das características da doutrina Católica e da civilização cristã tal como esta última se realizou durante a Idade Média. Notemos antes de tudo que a concepção católica de Deus e da criação é essencial e profundamente hierárquica:
1 — Deus é um ser pessoal e transcendente, o Ser por excelência, que possui em si toda a vida e todas as perfeições. Os outros seres foram criados por Deus do nada, e voltariam ao nada se a todo o momento Deus não lhes conservasse a existência. Suas qualidades não são senão um reflexo das perfeições de Deus. Seu único fim é servir e dar glória a Deus. Entre Deus e as Criaturas há, pois, a mais profunda desigualdade que se possa imaginar
2 — As criaturas por sua vez, são desiguais entre si. Os Anjos são puros espíritos. Abaixo deles estão os homens, ao mesmo tempo espirituais e materiais. Vêm depois, em ordem decrescente, os animais, os vegetais e os minerais. Em cada uma destas categorias, há ainda numerosas hierarquias. Para só falar dos seres inteligentes, os Anjos estão divididos em nove coros superpostos e desiguais entre si. Os homens reunidos no seio da Igreja, foram criados por Deus para graus diferentes de santidade, e, segundo sua correspondência a este plano divino, ocupam posições desiguais aos olhos de Deus, nas fileiras da Igreja gloriosa, padecente ou militante. Estas desigualdades se traduzem num culto. O homem presta culto de latria a Deus, de dulia aos Anjos e aos Santos
3 — Dentro ainda destas desigualdades, não pode deixar de ser mencionada a pessoa divina e humana de Nosso Senhor Jesus Cristo, que enquanto Verbo Incriado "Deus de Deo, lumen de lumine", é infinitamente superior a todas as criaturas e em sua humanidade é inferior por natureza aos Anjos, mas merece ser adorado pelos Anjos não só em sua divindade mas também em sua humanidade. E Nossa Senhora que, enquanto Mãe do Homem Deus, embora infinitamente inferior a Deus e inferior por natureza aos Anjos, é incomensuravelmente superior a estes aos olhos de Deus, como Mãe e como Santa, merecendo ser servida como rainha pelos Anjos!
4 — Por sua vez, na estrutura da Igreja Militante quantas desigualdades! A Igreja se divide em duas classes radicalmente diversas: a Hierárquica a quem cabe ensinar, governar e santificar, e o povo ao qual cabe ser governado, ser ensinado e ser santificado. Por mais nítida que seja esta desigualdade, ainda deixa lugar para outro elemento de diversificação e de escalonamento. Entre a Hierarquia e os fiéis, "intercala-se o estado de vida religiosa que originando-se da própria Igreja, tem sua razão de ser e seu valor em sua íntima coesão com o fim da Igreja, que consiste em levar todos os homens à santidade" (Pio XII, alocução de 8-XII-1950, aos membros do I Congresso Internacional de Religiosos)
5 — Como se não bastassem estas desigualdades na estrutura da Igreja, quantas diferenças de nível no âmago da própria Hierarquia, quer do ponto de vista da jurisdição, quer da honra: desde o simples minorista ao Diácono, e deste ao Presbítero, ao Cônego, ao Monsenhor,
Cunha Alvarenga
Conta-se a anedota de um indígena australiano que fez para si um "boomerang" novo, não conseguindo, porém jogar fora o velho, por mais que se esforçasse.
O mesmo se dá com o Sr. Domingos Velasco, no seu afã de demonstrar ser o socialismo compatível com o catolicismo. Quando se pensa que ele nos vai oferecer um argumento novo, eis que retorna às suas mãos o velho "boomerang" bem nosso conhecido. É assim que o representante do Partido Socialista Brasileiro no Congresso Nacional reaparece no suplemento literário de 3 de dezembro último do "Diário de Notícias" do Rio, fazendo esforços desesperados para ser original, mas apenas repetindo seus surrados chavões.
Insiste em afirmar que a resistência ao comunismo somente é levada a cabo com êxito nos países dominados pelos partidos socialistas, esquecendo-se de exemplos históricos bem recentes, como o da Espanha, da Itália e da França, em que socialistas e comunistas se deram as mãos para assaltar o poder. Socialistas e comunistas se colocam em terrenos opostos, ou se abraçam com camaradagem, não por razões ideológicas, pois ambos tendem para o mesmo fim revolucionário, mas por pura imposição tática ou por conveniência política. Que garantia nos dá o Sr. Velasco, à vista desse
Mais uma vez voltam-se as vistas dos historiadores e dos políticos para o Vaticano. Agora, trata-se da provável solução de um dos problemas mais novelescos da História Contemporânea. Luís XVI e Maria Antonieta foram encarcerados na Torre do Templo durante a Revolução Francesa juntamente com seus dois filhos, o Delfim e Madame Royale, e uma irmã do Rei, Madame Elizabeth.
Sucessivamente foram decapitados, o Rei, a Rainha, e Madame Elizabeth. Madame Royale foi entregue pelos revolucionários à Áustria que a reclamava pelo fato de pertencer Maria Antonieta à Casa dos Habsburgos. O que foi feito do Delfim? Pela morte de Luís XVI passaria ele a chamar-se, de direito, Luís XVII.
Os revolucionários continuaram a guardá-lo como precioso refém. Em determinado momento, anunciaram sua morte. Seria real? Seria imaginária? Neste último caso, onde teria ido viver o desditoso Luís XVII? Teria tido descendência? Qual? Estas questões suscitaram, e até hoje suscitam um profundo interesse emocional. Com efeito, inúmeras foram as pessoas que se comoveram com a figura romântica do jovem Príncipe atirado, sem culpa própria, do fastígio das grandezas humanas para a penumbra de uma existência cheia de mistério e de dor.
De outro lado, certos problemas políticos muito delicados, ficaram pendentes da questão.
Se Luís XVII sobreviveu com descendência, Luís XVIII e Carlos X, irmãos de Luís XVI, que reinaram na França depois de Napoleão, não foram Reis legítimos; e nem o Conde de Paris, atual Chefe da Casa Real de França seria o autêntico pretendente ao trono.
Por fim, um interesse, por assim dizer, policial, vem juntar-se ao assunto. Durante o reinado de Luís XVIII e Carlos X vários indivíduos, entre os quais o mais famoso foi Naundorf, se apresentaram à Duquesa d'Angoulême (título usado pela filha de Luís XVI em virtude de seu casamento com o Duque d'Angoulême, filho de Carlos X), alegando ser o autêntico Luís XVII. A averiguação dos prós e dos contras existentes nas alegações dos vários candidatos deu origem a problemas
Foi para nós motivo de imenso júbilo a publicação do primeiro número de "Catolicismo". Abençoamos de coração e vivamente felicitamos ao nosso caríssimo Padre Antônio Ribeiro do Rosário e aos dedicados e brilhantes colaboradores desta grandiosa obra, que vem orientar com segurança nossos católicos numa época em que as circunstâncias e a anarquia intelectual tanto dificultam pensar bem, e por conseguinte, agir bem. A leitura deste mensário será muitíssimo salutar, e estamos certo de que ele vai contribuir poderosamente para a formação de uma mentalidade católica no nosso meio, de maneira a fazer com que os católicos pensem e sintam inteiramente segundo a Santa Igreja.
† ANTONIO - Bispo de Campos