AS REVELAÇÕES DE CHAPOSNIKOV
Adolpho Lindenberg
A Guerra na Coreia, as relações entre a Rússia e as Potências Ocidentais e os novos inventos atômicos apresentam dois elementos em comum: escapam a toda previsão, e sua análise é maçante por isso que mudam de aspecto e apresentam constantemente novas facetas.
É razoável confiar alguém no êxito da ofensiva americana? Quem não vê que subitamente os chineses podem retomar interesse pela guerra coreana e fazer recuar novamente as tropas aliadas? A guerra na Europa às vezes parece estar na iminência de se iniciar; pouco depois fala-se em uma reunião de suplentes de Chanceleres; enquanto esta se realiza um incidente qualquer quase faz com que se rompam as relações diplomáticas entre ocidentais e orientais. O que dizer então das novidades sobre as descobertas no campo das pesquisas atômicas, quer nos Estados Unidos, quer na Rússia? Um telegrama informa que explodiu uma bomba nos Urais; outro logo depois, provavelmente "para despreocupar" o leitor, anuncia que os americanos serão capazes de fabricar dez bombas para cada uma das congêneres russas; um mês após, jubilosa e festivamente, os ocidentais entrevem a possibilidade de fabricar bomba de hidrogênio, capaz de destruir totalmente qualquer cidade; esta bomba, não deixam de explicar os "entendidos", será de um efeito muito mais decisivo que a tão anunciada ofensiva soviética de bombas atômicas, gases venenosos e projeteis bacteriológicos. E assim, de boa nova em boa nova, de alegria em alegria, o pobre mortal vai travando conhecimento e se entusiasmando com os progressos da ciência e das artes militares...
Tais são as incertezas em que vivemos. Uma coisa, porém, não oferece dúvida para nós: a Rússia não participa das mesmas indecisões. O interesse dos chineses na Coréia é o interesse dos russos, a guerra começará no momento que mais convier aos interesses soviéticos, os progressos e os segredos das descobertas atômicas em todo o mundo são muito mais bem acompanhados em Moscou do que em Washington, e assim por diante. Quais são os gigantescos e apocalípticos planos dessa nação que parece conter o germe do Anticristo? Certamente a destruição da Igreja como objetivo final e, como fim próximo, o esmagamento, por meio de uma guerra total, dos países que ainda conservam um pouco da cultura cristã.
Entre as várias previsões a respeito dos planos de Stalin para a guerra que se aproxima, parece-nos digna de registro a que foi publicada em fevereiro, no "Wiener Despatsch", jornal que circula na zona ocidental de Viena. É seu autor Vassili Chaposnikov, ex-membro da Comissão de Planificação da Economia de Guerra Soviética, que recentemente fugiu para a Áustria. Segundo ele, será a seguinte a ordem das operações militares russas na futura guerra:
1. Ataque à Iugoslávia por um país vizinho.
2. Invasão fulminante de toda a Europa continental, objetivando sua ocupação total em duas semanas.
3. Desembarque na África do Norte e ocupação simultânea do Irã e do Canal de Suez.
4. Ataques maciços, e de uma violência ainda não vista, à Inglaterra, consistindo em bombardeios atômicos, lançamento de gases e projéteis bacteriológicos, visando a destruição total do país, a menos que ele se renda.
5. Ofensiva geral sino-soviética no Extremo Oriente, que teria como escopo a expulsão dos americanos do Japão e a ocupação da Austrália e demais ilhas da Oceania.
6. Finalmente, dominando quase todo o mundo, os russos proporiam a paz aos Estados Unidos, deixando a estes o continente americano como zona de influência. Se recusadas essas propostas pacíficas, a guerra continuaria por dezenas de anos, com tentativas de desembarques de ambos os lados e com o emprego contínuo de foguetes atômicos e bacteriológicos.
As previsões de Chaposnikov vêm se somar a muitas outras já existentes a propósito da mesma ordem de problemas, mas tem em seu abono o fato de terem sido feitas por um russo que ocupou um cargo importantíssimo e diretamente ligado à planificação da guerra, além de comporem um quadro muito lógico e coerente.
Outrossim, elas vêm mostrar que o perigo mais iminente está na Europa e não no Oriente, e que os russos esperam que, no dia de a Europa e a Oceania serem ocupadas, a corrente isolacionista e esquerdista nos Estados Unidos ganhará corpo a ponto de tornar possível estabelecer um "modus vivendi" entre eles e os americanos, para a partilha do mundo em dois blocos. Será otimismo dos soviéticos? Suas informações a respeito do movimento isolacionista e esquerdista na América do Norte serão absolutamente objetivas? Não será sensato responder pela afirmativa, a esta pergunta?
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O Sr. Joliot Curie teve o topete de convidar o Santo Padre para tomar parte no Congresso Mundial Pró Paz, organizado pelos russos. Não haverá na França jovens católicos que façam sentir ao Sr. Joliot Curie, moral ou fisicamente, a repulsa que seu gesto cínico inspira?
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O grande jornal "Daily Herald" acaba de fazer um inquérito na opinião pública inglesa e apresentou os seguintes resultados como porcentagem de eleitorado:
1° Partido Conservador: 52 %.
2° Partido Trabalhista: 39,5 %.
3° Partido Liberal: 7,5 %.
4° Partido Comunistas e outros: 1%
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Perón, conservando-se fiel à ideologia de seu regime, está perseguindo por todos os meios o grande jornal "La Prensa" e vai acabar por fechá-lo ou mudá-lo de mãos. Até ai só devem se admirar os que davam algum crédito ao governo "descamisado" argentino. O que nos interessa é a atitude dos EE. UU. É certo que Washington, desde o tempo dos incidentes de Spruille Braden versus Perón não mais manifestou desejos de agir na política sul-americana, mas o que é escandaloso é o fato de terem sido feitos mais empréstimos à Argentina do que ao Brasil.
Afinal, quem entrou na guerra? Em qual dos dois países reina a tão decantada democracia tipo norte-americana? Que a Inglaterra, que é dominada pelos trabalhistas, coloque no mesmo pé de igualdade de simpatia a Argentina e o Brasil não é de admirar. Mas os EE. UU. têm obrigação de nos fazer justiça e os recentes atos do ditador portenho constituem boa ocasião para início de novo regime de relações inter-americanas.
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Os vários partidos comunistas dos países ocidentais estariam em franca decadência, segundo a opinião digna de registro do sr. Hommer Byington, diretor dos assuntos europeus do Departamento de Estado dos EE. UU. Transcrevemos sem comentários o telegrama da "AFP" relatando os dados fornecidos pelo perito americano:
"Na França, Alemanha Ocidental e Itália os partidos comunistas respectivos tiveram seus efetivos reduzidos ao número mínimo registrado em toda a sua existência. Na França o Partido Comunista conta somente com 800 mil militantes, sendo que o seu número em 1948 era de 1.600.000; na Itália os comunistas passaram de 2.300.000 em 1948, para 1.600.000 em 1950.
Na Alemanha Ocidental o Partida reduziu-se de 300.000 membros em 1946 a 200.000.
No Luxemburgo o Partido contava com 30.000 adeptos em 1946 e hoje só com 5.000.
STABAT MATER
Luís de Camões
Com cordas por as ruas o levavam,
Levando sobre os ombros o troféu
Da vitória qu'as almas alcançavam.
O' tu, que passas, homem Cireneu,
Ajuda um pouco a est'Homem verdadeiro,
Que agora, como humano, enfraqueceu.
Olha que o corpo aflito do marteiro,
E dos longos jejuns debilitado,
Não pode já co'o peso do madeiro.
Oh não enfraqueçais, Deus incarnado!
Essas quedas, que tanto vos magoam,
Suportai Cavaleiro sublimado.
Aquelas altas vozes, que lá soam,
Dos Padres são, que o Limbo tem escuro,
E já de louro e palma vos coroam.
Todos vos bradam que subais o muro
Da cidade infernal, e que arvoreis
Em cima essa bandeira mui seguro.
Ó Santos Padres! não vos apresseis;
Pois muito mais a Deus, que a vós, custaram
Essas duras prisões em que jazeis.
Aquelas mãos que o mundo edificaram,
Aqueles pés que pisam as estrelas,
Com duríssimos pregos se encravaram.
Mas qual será o humano que as querelas
Da angustiada Virgem contemplasse,
Sem se mover a dor e mágoa delas?
E que dos olhos seus não destilasse
Tanta cópia de lágrimas ardentes,
Que carreiras no rosto sinalasse?
Ó quem lhe vira os olhos refulgentes
Convertendo-se em fontes, e regando
Aquelas faces belas e excelentes!
Quem a ouvira com vozes ir tocando
As estrelas, a quem responde o Céu,
Co'os acentos dos Anjos retumbando!
Quem vira quando o puro rosto ergueu
A ver o Filho, que na Cruz pendia,
Donde a nossa saúde descendeu!
Que mágoas tão chorosas que diria!
Que palavras tão míseras e tristes
Para o Céu, para a gente espalharia!
Pois, ó pura e santíssima Maria,
Que, enfim, sentistes esta mágoa, quanto
A grave causa dela o requeria.
Dessa fonte sagrada e peito santo
Me alcançai uma gota, com que lave
A culpa que me agrava e pesa tanto.
Do licor salutífero e suave
Me abrangei, com que mate a sede dura
Deste mundo tão cego, torpe e grave.
Assim, Senhora, toda criatura
Que vive e viverá, e não conhece
A Lei de vosso Filho, a abrace pura;
O falsíssimo herege, que carece
Da graça, e com danado e falso espírito
Perturba a santa igreja, que floresce;
O povo pertinaz no antigo rito,
Que só o desterro seu, que tanto dura,
Lhe diz que é pena igual ao seu delito;
O torpe ismaelita, que mistura
As Leis, e com preceitos tão viciosos
Na terra estende a seita falsa e impura;
Os idólatras maus, supersticiosos,
Vários de opiniões e de costumes,
Levados de conceitos fabulosos;
As mais remotas gentes, onde o lume
Da nossa fé não chega, nem que tenham
Religião alguma se presume;
Assi todos, enfim, Senhora, venham
A confessar um Deus crucificado,
E por nenhum respeito se detenham.
E dum e doutro vício já deixado,
O seu nome, co'o vosso nesse dia,
Seja por todo o mundo celebrado;
E respondam os céus: JESUS, MARIA.