P.01 [Uma única inimizade]

Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e servos de Lúcifer de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio.

Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demônio. .
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Não há entre eles a menor sombra de amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os inimigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem á Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacó, figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que Ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede de todo o orgulho.

A ENCARNAÇÃO DO VERBO E A MEDIAÇÃO DE NOSSA SENHORA

J. B. Pacheco Sales

Sto. Afonso de Liguori, nos seus "Louvores e Glórias de Maria Santíssima", faz referência à opinião de certo autor, opinião esta que se nota, mais ou menos implícita, em não poucos fieis, muitos deles, por outro lado, devotos de Nossa Senhora. "Diz o mencionado autor, que uma tal proposição, isto é, que Deus não faz graça alguma sem ser por meio de Maria, é uma hipérbole, e uma exageração do fervor de alguns Santos, a qual, falando sem paixão, só se deve entender, porque de Maria recebemos a Jesus Cristo, por cujos merecimentos recebemos depois todas as graças".

Este autor, referido por Sto. Afonso, desconhece a verdadeira natureza sacerdotal de Jesus Cristo. Ele considera Jesus Cristo como um sacerdote comum, o qual nasceu simples homem de sua mãe, e, mais tarde, pelo Sacramento da Ordem, adquiriu o caráter sacerdotal, caráter este que não pertence à sua natureza como tal, mas adere a ele como um acidente sobrenatural. Assim, a honra que se tributa à mãe do padre tem apenas por fundamento a dignidade a que, posteriormente, foi o seu filho elevado; pois ela, propriamente falando, não é mãe do "padre", mas do homem que se tornou padre. Na sua qualidade de sacerdote, o padre é, propriamente, filho da Santa Igreja; ela é a sua mãe enquanto sacerdote, pois dela lhe provem o caráter sacerdotal. Ainda aí é preciso considerar que o princípio e causa deste caráter é o Espírito Santo. Mas o Espírito Santo só age mediante a Santa Igreja, em união com Ela. E por isso o padre é padre por causa da Igreja. Tudo o que ele faz como padre, é a Igreja que o faz; e é pela Igreja que os fieis recebem os Sacramentos que ele, padre, administra.

Por isso, a mãe do sacerdote merece apenas a veneração devida a quem soube cultivar uma vocação, mas ela não tem qualquer participação nos benefícios espirituais que o sacerdote obtém na sua qualidade de sacerdote. Estes são obtidos pelo ministério da Igreja, de que o sacerdote é o órgão, e, portanto, à Igreja é que deve voltar-se a gratidão e a veneração dos fieis; e, mais especialmente ainda, ao Espírito Santo, alma da Santa Igreja, sem esquecer contudo que o Espírito Santo só distribui seus benefícios aos homens enquanto alma da Igreja.

Tal não se dá, entretanto, com Jesus Cristo. Em Jesus Cristo nenhuma distinção real pode ser feita entre o homem e o sacerdote. Jesus Cristo é essencialmente sacerdote, Ele é O Sacerdote por natureza.

S. Tomás de Aquino emprega uma expressão bastante enérgica para afirmar esta verdade: "Christus autem est fons totius sacerdotii" (S. T., IIIa., Q. 22, art. 4) (1). E também aponta a causa desta plenitude sacerdotal: "Alii homines particulatim habent quasdam gratias: sed Christus, tanquam omnium caput, habet perfectionem omnium gratiarum. Et ideo,quantum ad alios pertinet, alius est legislator, et alius sacerdos, et alius rex; sed haec omnia concurrunt in Christo, tanquam in fonte omnium gratiarum" (S. T., IIIa., Q. 22, art. 1, ad 3) (2). Assim, pois, Jesus Cristo é a fonte de todo sacerdócio enquanto é a fonte de todas as graças, enquanto tem a plenitude de todas as graças. Mas ter a plenitude da graça é natural a Jesus Cristo, conforme explica ainda S. Tomás: "Gratia igitur Christi, sive unionis sive habitualis, non potest dici naturalis quase causata ex principiis naturae humanae in ipso: quamvis possit dici naturalis quasi proveniens in naturam humanam Christi causante divina natura ipsius Dicitur autem naturalis utraque gratia in Christo inquantum eam a nativitate habuit: guia ab initio conceptionis fuit natura humana divinae personae unita, et anima eius fuit munere gratiae repleta" (S. T. IIIa., Q. 3, art. 12) (3).

Aprofundemos um pouco mais, porém. Ser sacerdote não é outra coisa senão ser mediador entre Deus e os homens. Ora, um mediador precisa ser o meio termo entre dois extremos, que, assim, podem ser aproximados. É o que faz Jesus Cristo, enquanto homem: "Quia, secundum quod est homo, distat et a Deo in natura, et ab hominibus in dignitate et gratiae et gloriae" (S. T., IIIa., Q. 26, art. 2) (4). Entretanto, se a natureza humana de Cristo sobreleva a de todos os outros homens pela graça e pela glória, é porque ela se acha unida substancialmente à pessoa do Verbo. Jesus Cristo é mediador e sacerdote enquanto homem, mas enquanto homem que é constituído da natureza humana subsistindo numa pessoa divina. Desde que se considere a união hipostática, inclui-se necessariamente o sacerdócio. Mas, se não se considera a união hipostática, já não se considera Jesus Cristo, que não é outra coisa senão o Verbo encarnado. Por ser quem é, Jesus Cristo é sacerdote: o Homem-Deus é necessariamente sacerdote. Abstrair a qualidade sacerdotal de Cristo é destruir-lhe a Sua mais íntima realidade, que é a união hipostática das duas naturezas. Esta união substancial do Verbo com a natureza humana, que é o que há de mais radical em Jesus Cristo, faz com que tudo n'Ele seja eminentemente sacerdotal. Ora, se assim é Jesus Cristo — e a Fé no-lo obriga a crer — a Mãe de Jesus Cristo é, por isso mesmo, a Mãe do Sacerdote enquanto sacerdote, a Mãe de um Ser que é por natureza Sacerdote. Portanto, Nossa Senhora não é apenas a mãe de um homem que depois recebeu o caráter acidental do sacerdócio, mas é a Mãe de um homem, substancialmente sacerdotal, que tal se constituiu desde o primeiro instante de sua concepção. Se Nossa Senhora não fosse Mãe de Jesus Cristo na sua qualidade de Sacerdote, nada mais restaria em Jesus Cristo de que Maria Santíssima pudesse ter a maternidade; pois, como já vimos, não podemos abstrair de Cristo a sua qualidade de Sacerdote.

Nem se diga que esta plenitude sacerdotal de Cristo é devida ao Espírito Santo. Pois, se é verdade que o Espírito Santo é o princípio eminente dela, é também muito verdade que o Espírito Santo quis livremente condicionar esta Sua atividade à colaboração de Nossa Senhora. Pretender o contrário seria cair no mesmo erro dos que, quebrando a unidade substancial da pessoa divino-humana de Jesus Cristo, acharam que Nossa Senhora não podia ser chamada verdadeiramente Mãe de Deus, porque seria meramente mãe da humanidade de Cristo.

Toda mãe é mãe de algum homem, e não de uma simples humanidade em tese. Isto porque a humanidade não existe abstratamente em si mesma, mas só se encontra realizada em indivíduos concretos, isto é, em homens. Assim, pois, a Virgem Santíssima é, e só podia ser, mãe de um homem. Acontece, porém, que, neste homem, a natureza humana estava individualizada e concretizada na pessoa do Verbo de Deus. Ora, como vimos que ninguém pode ser mãe da própria natureza humana, mas de algum homem individual, segue-se que a concepção de Jesus Cristo implica na formação da união hipostática, pela qual a natureza humana se individualiza na pessoa do Verbo. Esta união não podia ser formada nem antes, nem depois da concepção material de Cristo, mas simultaneamente: "ab initio conceptionis fuit natura humana divinae personae unita" (S. T. IIIa., Q. 3, art. 12) (5). E esta união atingiu a alma e o corpo de Cristo no momento preciso da concepção, conforme demonstra S. Tomás de Aquino (Cf. S. T. IIIa., Q. 6, arts. 3 e 4).

Além disso o Verbo assumiu imediatamente, no instante da concepção, a natureza humana no seu todo: "Verbum Dei assumpsit partes humanae naturae mediante toto. Sicut enim corpus assumpsit propter ordinem quem habet ad animam rationalem, ita assumpsit corpus et animam propter ordinem quem habet ad humanam naturam" (S. T., IIIa., Q. 6, art. 5) (6). A concepção corpórea não se podia dar sem a formação da união hipostática, uma vez que se tratava de conceber a Cristo e não a uma outra pessoa. Mas também a união hipostática não podia ser formada sem a concepção corpórea, pois esta é que ia fornecer a natureza humana, que é um dos componentes necessários daquela união. Portanto, a concepção e a formação da união hipostática são os dois aspectos de uma mesma realidade, que é a Encarnação do Verbo.

Esta realidade sobrenatural e misteriosa, o Espírito Santo poderia tê-la operado sozinho, sem qualquer concurso. Não o fez porém, mas quis valer-se do ministério de Maria. E assim, com Maria e por Maria, formou Jesus Cristo, operando a união hipostática. E se o Espírito Santo formou em Maria Jesus Cristo, forma ainda e formará sempre, porque Deus não muda os seus caminhos. E, como Deus costuma pedir o consenso da liberdade humana, nada fez sem primeiro pedir-lhe e obter-lhe o consentimento, pois muito mais do que realizar um milagre da natureza, tratava-se de levar a efeito uma obra sobrenatural.

Em consequência, devemos ver em Jesus Cristo, antes do que o fruto material, embora milagroso, das entranhas de Maria, o fruto de sua vida espiritual. Por isso, quando aquela mulher do povo exclamou: "Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os seios que te alimentaram", Jesus Cristo respondeu: "Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam" (S. Lucas, XI, 27-28). Se Maria gerou a Cristo e o amamentou é porque mais do que qualquer outra simples criatura, guardou a palavra de Deus, a ponto de se tornar digna esposa do Espírito Santo e merecer participar na formação deste prodígio, que é um Homem-Deus. Mas daí decorre que, embora tenha sido Jesus Cristo dado a todos os homens, pertence de um modo todo especial a Maria, como seu fruto. E a plenitude de graça e de glória de Cristo, que é o patrimônio sobrenatural de toda a humanidade, pertence em primeiro lugar a Maria, e, através dela, aos outros homens: Ipsa est thesaurus Domini. Toda a santidade que exista é, antes de tudo, santidade de Maria, e, depois, santidade dos homens, que d'Ela a receberam. E, por isso, a santidade somada de todos os Santos é inferior à santidade de Maria.

Tudo isto é o resultado lógico da íntima participação de Maria no mistério da Encarnação. Se o Espírito Santo, no princípio de sua missão santificadora, se associou à Ssma. Virgem, a Ela deve estar associado em todas as outras obras que são a decorrência própria daquele principio. Pois a missão é uma só, e do modo como principiou, deve chegar a todas as suas consequências. Assim, pois, do mesmo modo como o Espírito Santo só distribui as suas graças através da Santa Igreja e só pela incorporação ao Corpo Místico, que é a Igreja, forma os eleitos, e por isso podemos dizer que é por Nossa Senhora, em cujo seio se formou o princípio de toda a graça, que recebemos todas as graças, é por Ela que somos salvos. Pois tudo, quanto há de sacerdotal na Igreja vem deste Sumo Sacerdote, formado pelo Espírito Santo em Maria Santíssima. É com toda propriedade que reza a Igreja: "Mater divinae gratiae, ora pro nobis". Deste modo, constituindo toda a Igreja um só Corpo Místico vivificado pela única Cabeça que é Cristo, todos os membros do Corpo devem considerar-se filhos de Maria.

É o que já afirmou o grande teólogo da Ssma. Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort: "O Espírito Santo, sendo estéril em Deus, isto é, não produzindo nenhuma outra pessoa divina, tornou-se fecundo por Maria, a quem desposou. É com ela e nela e dela que Ele produziu sua obra prima, que é um Deus feito homem, e que Ele produz todos os dias, até o fim do mundo, os predestinados e os membros do corpo deste Chefe adorável: é por isso que, mais Ele encontra Maria, sua querida e indissolúvel Esposa, numa alma, mais Ele se torna operante poderoso para produzir Jesus Cristo nesta alma e esta alma em Jesus Cristo". E ainda: "Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu dela, os predestinados, membros deste chefe, também devem nascer dela, por uma consequência necessária. Uma mesma mãe não põe no mundo a cabeça ou o chefe sem os membros, nem os membros sem a cabeça: do contrário, seria um monstro da natureza; igualmente, na ordem da graça, o chefe e os membros nascem de uma mesma mãe; e, se um membro do corpo místico de Jesus Cristo, isto é, um predestinado, nascesse de outra mãe que não Maria, que produziu o chefe, não seria um predestinado, nem um membro de Jesus Cristo, mas um monstro na ordem da graça."

(1) Cristo é fonte de todo sacerdócio.

(2) Todos os homens têm certas graças particulares, mas Cristo como cabeça de todos, tem a perfeição de todas as graças. E assim, no que se refere aos outros, um é legislador, outro, sacerdote, e outro, rei; mas tudo isso concorre em Cristo, como na fonte de todas as graças.

(3) A graça de Cristo, quer o de união quer a habitual, não se pode dizer natural como se fosse causada pelos princípios da natureza humana que há nele; mas pode ser dita natural enquanto é causada, na natureza humana de Cristo, pela sua natureza divina. Pois ambas as graças se dizem naturais em Cristo enquanto Ele as teve desde o nascimento: eis que, desde o início da concepção, a natureza humana foi unida à Pessoa Divina, e a sua alma recebeu a plenitude da graça.

(4) Porque enquanto é homem, dista tanto de Deus pela natureza, quanto dos homens pela dignidade, não só da graça como da glória.

(5) Desde o início da concepção, a natureza humana foi unida à Pessoa Divina.

(6) Através da totalidade da natureza humana é que o Verbo de Deus assumiu as suas partes. Assim, pois, assumiu o corpo por causa da subordinação que tem para com a alma racional, e igualmente assumiu o corpo e a alma enquanto se ordenam à natureza humana.


UM MILAGRE DE LOURDES

Dr. A. Ablas F°

Existe em Lourdes a AMIL, Associação Médica Internacional de Lourdes, que reúne médicos de todo o mundo para observar os milagres ali operados.

Essa Associação possui um Bureau de Estudos Científicos, que faz o estudo dos milagres à luz da ciência; um Boletim para publicação; e um Bureau de Constatações Médicas, que verifica e acompanha com todo rigor a realização do milagre.

O Bureau de Constatações Médicas de Lourdes foi organizado em 1882 pelo Dr. de Saint-Maclou e teve um desenvolvimento considerável sob a direção do Dr. Boissarie, que foi seu presidente de 1891 a 1917. O atual presidente é o Dr. François Leuret.

O «Bureau» está localizado junto à rampa direita que dá acesso ao monte sobre o qual se ergue a Basílica. Compõe-se de uma sala de espera, gabinetes médicos e fichários. O seu presidente é nomeado pelo Bispo de Tarbes e Lourdes. Seus membros são todos os médicos que desejarem sê-lo qualquer que seja sua nacionalidade e religião; e todos os médicos que passam por Lourdes são convidados a se integrarem no B.C.M. Todos têm acesso aos hospitais e às piscinas, e têm permissão de permanecer em lugar onde possam verificar de perto, após a procissão do Santíssimo Sacramento, ao meio dia, os doentes e as curas que se realizarem nesse instante. São depois convocados para o estudo das curas, quer atuais, quer passadas. Para cada caso são escalados dois ou três médicos, de acordo com a sua especialidade, para exame e anotações competentes. Ha depois uma discussão dos casos, versando sobre os seguintes pontos:

- A doença existe realmente?

- A cura é completa?

- Esta cura revela um processo natural?

Das conclusões lavra-se uma ata, que é assinada por todos os médicos presentes.

Se alguns dos médicos julga que a cura pode ter explicação natural, encerra-se o estudo do caso como se se demonstrasse que a cura não é milagrosa; e isto ainda quando todos os demais médicos opinam pelo milagre.

Se, pelo contrário, todos reconhecem que nenhuma causa natural pode ter produzido a cura, nem por isto se conclui desde logo pelo milagre.

De fato, a conclusão em favor do milagre não é tomada logo após a cura, de um lado porque a ficha do doente ainda não está completa; de outro, porque essa ficha deve ser anotada com a verificação de que se manteve a cura pelo espaço de um ano, e que durante este período o paciente gozou boa saúde. Este espaço de tempo permite toda crítica e objeção que se possa fazer ao caso. O controle é, assim, completo tanto quanto a ciência humana pode permitir.

Enfim, as principais fichas de cura são publicadas no boletim da Associação Médica Internacional de Nossa Senhora de Lourdes.

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Uma das últimas curas milagrosas de Lourdes, publicada no Boletim de 1º de Julho de 1950, foi a da Senhorita Jeanne Fretei, nascida a 7 de Maio de 1914, que fora à cidade da Imaculada Conceição, atacada de tuberculose peritoneal, em Outubro de 1948.

O primeiro exame do «Bureau» foi feito em 6 de Outubro de 1948, e o segundo em 5 de Outubro de 1949, um ano após o milagre. No primeiro exame o diagnóstico foi: «Tuberculose peritoneal com caquexia e febre permanente diária, indo de 37 a 40 graus». Depois a doença desapareceu bruscamente, os sintomas não foram mais observados. É de se notar que a estreptomicina havia sido suspensa quatro meses antes da cura repentina.

Os vinte e oito médicos que discutiram o caso concluíram: «Não há explicação médica desta cura. Ela escapa às leis naturais».

Passemos a historiar rapidamente ocaso da Senhorita Jeanne Fretei.

A doente chegou a Lourdes em Outubro de 1948 num estado alarmante. Sua observação foi tomada no «Hotel Dieu», de Rennes, pelo Dr. Pellet, diz: «De Agosto a Outubro de 1948 a doente se apresentava cada vez mais cansada; não toma senão pequenas quantidades de líquidos; aparecem sinais de irritações das meninges. O abdômen muito abaulado e doloroso. Nos excretas e vômitos há grande quantidade de pus, acompanhado de sangue (borra do café). Os desfalecimentos cardíacos são muito frequentes e põem em perigo a vida da doente. Toda a esperança parece perdida. É em plena evolução de peritonite tuberculosa, com fenômenos meníngeos, num estado grave de caquexia que a doente (que recebe três injeções de morfina por dia) parte para Lourdes, em completa miséria orgânica».

Em 8 de Outubro, a doente se sente melhor após a Comunhão recebida no Hotel Santa Bernadete. Toma leite e não vomita mais. Levada mais tarde para a gruta, percebe que seu abdômen volta ao normal. Senta-se na maca. Ao meio dia almoça mais ou menos bem. Vai a pé à piscina. À tarde toma um lanche normal. À noite janta regularmente e se recolhe ao quarto, dormindo normalmente sem nenhum calmante.

Na sua volta a Rennes e ao serviço do Dr. Pellet, verifica este: «A paciente, que havia sido internada no hospital como incurável, está completamente curada, sem o mínimo sintoma anterior. Temperatura normal; aumento de peso progressivo, passando de 44 quilos em Outubro de 1948 a 58 quilos e 200 gramas em 1949. A paciente retoma o trabalho ativo, levantando-se às 5,30 e dormindo às 23,30 horas».

A história da doença; a importância da anamnese médica, que possui trinta quadros de temperatura (dezoito antes e doze depois da cura); a quantidade de médicos que examinaram a doente; os detalhes meticulosos da observação cotidiana no período de Abril a Outubro de 1948; o aumento de peso de quatorze quilos em pouco tempo: tudo isso deve reter longamente a atenção e permite concluir tratar-se de uma cura inexplicável naturalmente.

Este caso impressionante, analisado com todo o rigor da ciência, deixa patente a intervenção sobrenatural para a produção de uma cura inteiramente contrária às leis da natureza.

Os anais de Lourdes são ricos em curas como esta, e constituem argumento apologético direto e claro de que a propaganda católica deve lançar mão com insistência nos dias de incredulidade em que vivemos.