O SÉCULO DA SANTÍSSIMA VIRGEM
A missão de Maria - A necessidade do culto a Nossa Senhora – Diversas devoções à Virgem Mãe de Deus
DESDE os primeiros tempos a piedade cristã prestou à Virgem Santíssima o culto especialíssimo que lhes é devido em virtude de sua dignidade incomparável de Mãe de Deus. Este impulso salutar, longe de arrefecer, cresceu com o passar dos anos e dos séculos, manifestando-se através da pratica de novas devoções, cada vez mais numerosas, a comprovar eloquentemente o piedoso dito: — De Maria nunquam satis.
De fato, jamais poderá ser suficientemente exaltada Aquela que o próprio Deus elevou acima de todos os coros dos Anjos e de todas as legiões dos Santos. Assim sendo, não bastaram as múltiplas festas em sua honra, espalhadas pelo ano litúrgico. A Santa Igreja consagrou-lhe ainda mais: um dia na semana — o sábado, e um mês no ano — o mês de Maio.
E como estamos nesse mês, naturalmente o nosso pensamento se detém na consideração das sublimes realidades ligadas ao nome de Maria.
A missão de Maria
QUANDO nossos primeiros pais pecaram no Paraíso Terrestre e atraíram sobre si e sobre todos os homens o castigo divino, uma aurora de esperança brilhou para o infeliz gênero humano e essa aurora foi Maria.
As palavras do Senhor à serpente maldita contêm a missão extraordinária d'Aquela que viria a ser a Mãe do Redentor e a Vencedora de Satanás: “Porei inimizades entre ti e a Mulher; entre a sua descendência e a tua; Ela te esmagará a cabeça e em vão lhe armarás ciladas ao calcanhar" (Gênesis 3, 15).
Essa esperança salvadora tornou-se um dia realidade, e o Verbo se encarnou por obra do Espírito Santo no seio puríssimo da Virgem Maria. Mas Cristo é a Cabeça de um Corpo Místico, do qual, nós, os filhos da Igreja, somos os membros. Ora, se Maria é a Mãe de Cristo e Cristo é a Cabeça do Corpo Místico, Maria é também nossa Mãe.
À luz da doutrina do Corpo Místico de Cristo ressalta, pois, a missão de Maria. E se já terminou esta missão da Virgem na obra da Redenção objetiva, consumada na Cruz, ainda está se realizando a sua missão de colaborar em nossa redenção subjetiva.
São Luiz Maria Grignion de Montfort, o grande devoto da escravidão de Maria, assim nos apresenta a missão da Virgem Santíssima. "Maria foi quem formou a Jesus Cristo, Cabeça dos eleitos; a Ela incumbe também a missão de formar os outros membros, os verdadeiros cristãos. A mãe não forma a cabeça sem os membros, nem os membros sem a cabeça.
Quem, pois, quiser, cheio de graça e de verdade, ser membro de Jesus Cristo, tem de ser formado em Maria, por meio da graça de Jesus Cristo, cuja plenitude nela reside, para se distribuir a mancheias aos verdadeiros membros de Jesus Cristo, que ao mesmo tempo são seus verdadeiros filhos" (em "O Segredo de Maria").
A mediação universal de Maria
Esta obra admirável de formar nossas almas segundo o modelo divino de Jesus, a Virgem Imaculada a realiza concedendo-nos todas as graças de que necessitamos, através de sua mediação universal.
É evidente, conforme salienta Santo Afonso Maria de Ligório no seu livro "As Glórias de Maria", que o único mediador de justiça que com os seus méritos nos alcançou a reconciliação com Deus, foi Jesus Cristo.
Contudo, diz o mesmo Santo, não deixa de ser coisa ímpia negar que Deus se compraz em conceder as graças pela intercessão dos Santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem Jesus tanto deseja ver amada e honrada por nós.
E São Bernardino de Sena diz que "desde o momento em que esta Virgem Mãe concebeu em seu seio o Divino Verbo, adquiriu, por assim dizer, uma jurisdição especial sobre os dons que nos vêm do Espírito Santo, de modo que nenhuma criatura, depois, recebeu graça alguma de Deus senão por meio e pelas mãos de Maria" (cfr. "As Glórias de Maria").
A necessidade da devoção a Nossa Senhora
De tudo o que foi dito resulta que é indispensável recorrermos a essa Virgem Poderosa para obter, por sua intercessão, as graças divinas. Se Nosso Senhor Jesus Cristo, para vir até nós não escolheu outro caminho senão Maria, assim também a Ele não chegaremos a não ser por Maria.
São Boaventura desenvolve admiravelmente essa verdade quando, ao citar as palavras de Isaias no cap. 11, onde o Profeta diz que "do tronco de Jessé nascerá uma vara (Maria), e dela brotará uma flor (Jesus), e sobre ela repousará o Espírito do Senhor", assim as comenta: "Todo aquele que deseja conseguir a graça do Espírito Santo procure a flor na vara, isto é, Jesus em Maria, porque pela vara encontramos a flor e pela flor encontramos a Deus". E acrescenta: "Se queres ter esta flor, faze por inclinar, em teu favor, pelas tuas orações, a vara da flor, e a alcançarás".
E São Luiz Grignion exprime com estas palavras a mesma verdade: "Para subir e unir-se a Jesus, é mister servir-se do meio de que Ele se serviu ao descer até nós, ao fazer-se homem e comunicar-nos suas graças: este meio é a verdadeira devoção à Santíssima Virgem".
Diversas devoções à Virgem Mãe de Deus
SANTO Afonso Maria de Ligório, o grande Doutor das glórias de Nossa Senhora, entre as devoções marianas enumera particularmente a recitação da Ave-Maria, tão enriquecida de indulgências pela Santa Sé; a celebração das festas de Maria Santíssima, preparadas com novenas; o Rosário e o Ofício; o jejum nos sábados e vigílias de festas de Nossa Senhora; as visitas a imagens da Virgem; o escapulário; as Congregações Marianas; a esmola em honra de Maria e várias outras. É também muito recomendável a consagração a Nossa Senhora segundo o método de São Luiz Maria Grignion de Montfort.
O século de Maria
O Santo Padre Pio XI, na Encíclica "Ingravescentibus Malis", de 29 de Setembro de 1937, sobre o Santo Rosário, chama a nossa atenção para o fato de que, se examinarmos a História da Igreja, veremos facilmente que a todos os feitos do nome cristão está sempre unida a proteção da Virgem Mãe de Deus.
E justamente nos momentos em que perigos mais graves assaltaram a Santa Igreja e a Cristandade o seu auxílio sempre se fez sentir, dando o triunfo aos seus devotos. É suficiente lembrar a memorável batalha de Lepanto (1571), em que as forças católicas infligiram a derrota definitiva à frota muçulmana, graças à intervenção direta de Nossa Senhora, que atendera aos rogos a Ela dirigidos com a recitação do Rosário ordenada por São Pio V.
É verdade patente que atravessamos uma era terrível, de uma apostasia quase universal, em que os inimigos de Deus agem com ousadia inaudita, desfechando os seus ataques contra a Igreja não só externamente, mas também internamente, aninhados, como frequentemente se acham, dentro do próprio seio da família católica. Vivemos o clímax da luta que Satanás e os seus sequazes empreenderam contra Jesus Cristo e sua Igreja a fim de implantar o reinado do Anticristo. Agora, portanto, é indispensável que Maria venha em nosso auxílio e nos alcance misericórdia junto a Deus Nosso Senhor, pois de outra forma a Justiça Divina não nos poupará.
Maria, nossa Mãe piedosíssima, conhece as nossas aflições em face das misérias dos tempos presentes e com maternal solicitude se tem manifestado a almas de escol para nos ensinar a vencer as tremendas dificuldades que se apresentam.
Eis porque o século em que vivemos é o século de Maria. A ele será dado e até já está sendo dado presenciar o poder da Virgem sobre as hostes infernais, e a sua misericórdia para os que lhe têm devoção.
Aí estão as revelações de Fátima, nas quais Nossa Senhora recomenda, para aplacar a cólera divina, a devoção ao seu Imaculado Coração, ao mesmo tempo em que anuncia severíssimos castigos, caso não seja atendida.
Aí estão as aparições da Virgem Santíssima em 1946 à jovem Ana Berbl, em Manfried, na Baviera, em que Ela assim falou: "Eu sou a grande Medianeira das Graças. Assim como o mundo só pode encontrar misericórdia ante o Pai por mediação do sacrifício do Filho, do mesmo modo vós só podereis conseguir ser ouvidos por meu Filho através da minha mediação. Cristo é desconhecido no mundo porque não conheceis a mim. O Pai derramou a taça de sua ira sobre os povos porque desprezaram a seu Filho... O mundo deve beber a taça da cólera divina por causa dos inúmeros pecados com que o meu Coração é ofendido. A estrela do abismo se fará sentir mais furiosa do que nunca e haverá estragos espantosos, porque ela sabe que o seu tempo é curto e porque vê que muitos se agruparam ao redor do meu sinal... Peço que os homens atendam logo aos meus desejos, porque são desejos do Pai e porque assim é necessário para Sua maior glória agora e para sempre. Um terrível castigo anuncia o Pai aos que não se sujeitarem aos meus desejos".
Aí estão, por fim, as aparições da Santíssima Virgem em 1948 à irmã Teresinha, postulante do Carmelo de Lipa, nas Filipinas, quando renovou os pedidos que fizera em Fátima.
Com razão, portanto, o Santo Padre Pio XII, referindo-se ao nosso século, diz que "bem se pode denominar mariano, visto que lhe tocou experimentar uma proteção mais eficaz e o poderosíssimo patrocínio da Mãe de Deus". (Carta ao Rvmo. Padre Geral da Companhia de Jesus, sobre as Congregações Marianas, do dia 15 de Abril de 1950).
Desgraçadamente, apesar das insistências de misericórdia da Virgem, o mundo permanece surdo às advertências que Ela lhe fez. O que estará reservado para a humanidade nos próximos anos? Só Deus o sabe.
Entretanto, fazendo nossas as palavras de Alberto Medrano Ezcurra em seu excelente opúsculo "La Mision de Maria", podemos dizer que "acima de todas as circunstâncias atuais e embora se possam esperar, com salutar e eficaz temor, males maiores, e, ao que parece, um terrível castigo para os pecadores, devemos depositar uma confiança cega no anunciado triunfo de Maria e esperar firmemente a sua consequência: o Reino de Cristo".
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O PETRÓLEO NO ORIENTE MÉDIO
Luiz Mendonça de Freitas
O mapa que publicamos procura dar ao leitor uma visão do atualíssimo problema do petróleo no Oriente Médio, assinalando a posição dos campos petrolíferos e dos grandes oleodutos da Arábia Saudita, do Irã, Iraque e União Soviética.
Nos países árabes, há dois oleodutos: um em vias de ser concluído, ligando os campos da Arábia Saudita ao porto de Sidon no Líbano; outro estabelecendo ligação entre Kirkuk no Iraque e dois portos do Mediterrâneo, Haiffa na Palestina e Trípoli no Líbano. No Iran, os oleodutos convergem para Abadan, onde está instalada uma das maiores refinarias do mundo. Dentre os oleodutos da União Soviética, deve ser ressaltado o que põe em comunicação os campos de Baku, à margem do Mar Cáspio, com Batum no Mar Negro. Mais ao norte, na vertente setentrional dos Montes Caucásicos, está o que vai ter em Rostov.
Trusts petrolíferos
São de interesse mais palpitante os oleodutos dos países árabes, onde o problema da nacionalização das explorações tornou candente e difícil para as nações ocidentais a questão petrolífera. Nesta região são os seguintes os trusts que exploram as jazidas existentes.
Iraque — a Iraque Petroleum Company, cujas ações assim se distribuem (cfr. Pierre Keller, «La Question Árabe»): 23,75% ao Governo Inglês; 23,75% à Shell Royal Dutch; 23,75% ao Governo Francês, 23,75% à Standard Oil Company, e 5% ao primeiro concessionário, Gulbenkian.
Iran — a Anglo-Iranian Oil Co., com participação da Royal Dutch Shell e do Governo Inglês, este com cerca de 40% das ações.
Kuwait --Na Koweit Petrol Company, com participação da Standard Oil e da Anglo-Iranian Oil Co. em partes iguais.
Arábia — a Arabian American Oil Co., Standard Oil of Arábia, trusts americanos, que proporcionam razoável participação nos lucros ao Governo da Arábia Saudita.
A distribuição mundial do petróleo
As démarches para a nacionalização das explorações petrolíferas no Iran devem ser analisadas tendo em vista as consequências imediatas dessa medida no Ocidente, e as suas possíveis repercussões nos outros países produtores de petróleo, ou seja, o Iraque e a Arábia Saudita. Com efeito, segundo notícia veiculada na imprensa paulistana, grupos muito ativos preconizam movimentos semelhantes aos do Iran nestes países.
Que significarão estes surtos nacionalistas no Oriente Médio, exatamente num instante crucial para a sobrevivência do mundo ocidental? Antes de procurar dar uma resposta a esta questão, verifiquemos qual a distribuição da produção mundial de petróleo em 1950 e qual a posição ocupada nesta distribuição pela região de que nos ocupamos. Segundo estatística publicada pelo «O Estado de São Paulo», em 4 de fevereiro de 1951, e elaborada com dados fornecidos pelo «Petroleum Press Service», a produção mundial de petróleo tem as seguintes origens:
Estados Unidos da América do Norte
51,6%
Oriente Médio
16,8%
Antilhas
16,4%
U. R. S. S.
7,2%
Extremo Oriente
2,5%
México
2,0%
Europa
1,7%
Outros países
1,8%
Como sabemos, a Europa não possui, ou pelo menos não explora jazidas de petróleo Afora os campos não muito ricos da Romênia e adjacências. O abastecimento das necessidades europeias provem em grande parte do Oriente Médio. Qualquer conflito que venha a afetar o fornecimento normal à Europa terá repercussões imediatas em sua vida econômica e sua segurança política. Um verdadeiro colapso ameaçaria os países europeus se por qualquer motivo fossem suspensas as remessas de petróleo do Oriente Médio.
Pelos dados acima expostos verificamos que a U. R. S. S. também tem necessidade de conseguir mais petróleo, pois a sua produção é pequena. A região petrolífera mais acessível à União Soviética é exatamente o Oriente Médio, onde as reservas são muito grandes. O petróleo é pois o calcanhar de Aquiles, não só da Europa, mas também da Rússia Comunista.
O objetivo das nacionalizações
Em face desta situação, qual tem sido a atitude dos países árabes? Ao que parece, de máximo aproveitamento da sua situação privilegiada em que se encontram.
Como pode ser comprovado com as notícias diariamente publicadas pela imprensa, os países árabes vêm se constituindo em um bloco monolítico que procura desenvolver-se paralelamente aos blocos ocidental e oriental.
Isto posto, a questão se formula nos seguintes termos:
a - de um lado temos a Europa Ocidental e a União Soviética com grandes necessidades de petróleo e sem possibilidades de consegui-lo a não ser fora de seus territórios.
b - de outro lado temos os países integrantes da Liga Árabe com grandes disponibilidades e reservas, e, pois, senhores de um elemento-chave igualmente necessário a ambos os contendores.
Diante de tal situação, somos levados a perguntar se, entre outros motivos que estão determinando este movimento de nacionalização das companhias petrolíferas no Oriente, não figura um plano político audacioso, que se resumiria do seguinte modo: a) caso a atual tensão internacional conduza à guerra, as potências petrolíferas do Oriente Médio procurariam desempenhar o papel de fiel da balança entre Washington e Moscou; b) caso, pelo contrário, a tensão se resolva por um acordo, essas potências poderiam - consideradas em bloco - tomar assento à mesa das conversações, em lugar equivalente quiçá ao da Grã-Bretanha, e certamente superior ao das demais nações europeias.
O apoio do mundo maometano
É certo que as nacionalizações petrolíferas não podem ser explicadas unicamente com cálculos desta natureza. Assim por exemplo, este movimento encontra um clima extraordinariamente favorável na tendência xenófoba que se torna dia a dia mais pronunciada no Oriente. De outro lado, a solidariedade cada vez mais intima das nações muçulmanas, que constituem imensa faixa étnica e geográfica que se entende desde o Marrocos até a parte oriental da Índia, funciona na atual emergência como esplêndido elemento de apoio às reivindicações do Oriente Médio. Com efeito, aos olhos das nações europeias, o assunto petrolífero não é isolado, mas se insere num conjunto de outros problemas complexíssimos: o autonomismo do Marrocos que ameaça invadir também a Tunísia e a Argélia, as reivindicações egípcias à cerca do Canal de Suez e do Sudão, o expansionismo sírio na Ásia.
Menor, o autonomismo dos mulçumanos da Índia, etc. Em suma, é por assim dizer todo um mundo que se move, e uma intervenção drástica da Europa Ocidental em qualquer parte deste vasto conjunto ideológico, étnico e geográfico ameaça produzir consequências inesperadas e perigosas, das quais a U. R. S. S. saberia certamente tirar o maior proveito.
Tudo isto não obstante, parece fora de dúvida que o petróleo é o pomo da discórdia — pelo menos na atual crise — do Oriente Médio, e que, em boa parte, ali se encontra o elemento decisivo no futuro conflito.
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A PERSONALIDADE E A OBRA…
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A ENCARNAÇÃO DO VERBO…
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UM MILAGRE…